Em evento pomposo na manhã desta terça-feira, 27 de junho, Luiz Inácio anunciou grandes remessas de dinheiro público ao latifúndio. O Plano Safra de 2023-24, destinado aos latifundiários e aos médios proprietários da camada superior, destinará um montante de de R$ 364,22 bilhões. A quantia, um recorde, supera o plano dos anos 2022/23, anunciado então por Bolsonaro, em 26,8%. Luiz Inácio quer convencer os latifundiários de que pode ser ainda mais serviçal a estes do que fora Bolsonaro.
O anúncio ocorreu um dia após reunião dos ministros de Luiz Inácio (Fernando Haddad e Marina Silva) com os representantes da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA, a “bancada ruralista”). Nessa reunião, os latifundistas foram à ofensiva em suas exigências e as tiveram todas atendidas no plano de Luiz Inácio.
Num aceno para a demagogia internacional das potências e superpotências imperialistas, foram implementados sistemas de recompensa para os latifundiários que “adotarem práticas sustentáveis” e que estiverem cadastrados nos serviços do governo para controle de “danos ambientais”. Os juros para o crédito do programa, por sua parte, variam de 8% a 12%, correspondendo à solicitação dos latifundiários por sua diminuição.
Para a camada superior dos médios proprietários, enquadrados no Programa Nacional de Apoio ao Médio Proprietário Rural (Pronamp), o Plano destinará R$ 61,14 bilhões, pouco mais de 16%. Os grandes empreendimentos do latifúndio ficarão com o restante: R$ 303,08 bilhões.
Já a chamada “agricultura familiar”, terminologia oficial para designar a economia camponesa de pequenos e camada inferior dos médios proprietários rurais, que corresponde a mais de 84% das propriedades rurais no País ocupando apenas 2,3% das terras agricultáveis segundo IBGE (2019), será anunciado um programa à parte, muito mais modesto e econômico. Luiz Inácio já adiantou que o montante será de aproximadamente R$ 70 bilhões. Apesar de os pequenos proprietários serem a imensa maioria, o valor destinado a eles corresponde a menos 19% do Plano Safra anunciado para o agronegócio, cuja produção de comodities é inteiramente destinada à exportação e praticamente não recolhe impostos.
Luiz Inácio abre cada vez mais seu governo para as demandas do latifúndio. Não poderia ser diferente: essa classe, a mais retrógrada de todas, possui praticamente metade dos parlamentares federais nas suas mãos, sem os quais o petista não terminaria, sequer, o primeiro ano do mandato. Para ludibriar, Luiz Inácio e a cúpula petista faz acenos de que, se dependesse dele, seu governo seria progressista, mas que “para governar” é necessário aliar-se com tais classes na “correlação de forças”. A questão é que, ao encontrar “governabilidade” em aliança com as classes dominantes, qualquer governo passa também a governar para tais classes, não sendo possível nenhum tipo de governo progressista. Luiz Inácio sabe muito bem disso. O problema, mesmo, são os incautos que caem na sua lábia.