PM que executou jovem com 7 tiros em discussão de trânsito é atropelado por parente da vítima em São Paulo

Tudo indica que a morte do PM foi uma resposta da família ao cruel assassinato de seu parente e à impunidade que tipicamente recai sobre os militares, conforme mostram os dados.
Imagem: Reprodução/TV Globo

PM que executou jovem com 7 tiros em discussão de trânsito é atropelado por parente da vítima em São Paulo

Tudo indica que a morte do PM foi uma resposta da família ao cruel assassinato de seu parente e à impunidade que tipicamente recai sobre os militares, conforme mostram os dados.

O policial militar (PM) aposentado Abel Siqueira foi morto na noite de ontem (15/04) após ser atropelado duas vezes no estacionamento do Shopping Metrô Itaquera, na zona leste de São Paulo (SP). De acordo com as informações divulgadas pela Secretaria de Segurança Pública (SSP), o policial foi atropelado pelo carro que pertence ao pai do jovem Luan Henrique Cândido, assassinado a sete tiros por Siqueira em março de 2024, após uma discussão de trânsito. 

As imagens da câmera de segurança do shopping, divulgadas pelo monopólio de imprensa G1, mostram um Hyundai Veloster passando por cima do militar, derrubando-o. Instantes depois, Siqueira tenta se levantar e é novamente atropelado. 

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O carro utilizado foi encontrado a cerca de dois quilômetros de distância do local e as digitais do irmão de Luan Henrique foram encontradas. Nas redes sociais, internautas condenam o fato de o policial assassino estar solto mesmo depois do assassinato a sangue frio de Luan Henrique Cândido. “Estava solto? Matou com 7 tiros? Briga de trânsito? Vixi tá feio hein?”, diz um comentário no portal de notícias monopolista Uol. “A vingança é um prato que se come frio”, comentou outro. Um terceiro diz ainda que “é triste, mas mereceu”. 

A PM foi até a casa da família do jovem executado, mas não encontrou nem o pai e nem o irmão da vítima. Os familiares do PM afirmaram que Siqueira vinha recebendo ameaças e que um carro passava constantemente em frente a sua casa, dando a entender que a ação foi planejada.

Genocídio e impunidade

Tudo indica que a morte do PM foi uma resposta da família ao cruel assassinato de seu parente e à impunidade que tipicamente recai sobre os militares, conforme mostram os dados.

Somente em 2024, as polícias comandadas pelo governo paulista assassinaram ao menos 77 crianças e adolescentes entre 10 e 19 anos, de acordo com um relatório elaborado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).

Já a tese de mestrado da advogada Débora Nachmanowicz, defendida no ano passado, mostrou que menos de 2% dos PMs investigados por júris são condenados. Em números reais, isso significa que, de 1.224 inquéritos sobre crimes cometidos entre 2015 e 2020, só 122 foram denunciados pelo Ministério Público.

Ela diz que uma das razões da impunidade é que os PMs ameaçam as testemunhas dos crimes, e assim impedem que provas sejam levantadas contra a falsa versão de “legítima defesa”. “Há ameaças veladas e, às vezes, não veladas. A mãe do meu cliente narrou que a polícia ficava fazendo ronda na rua em que morava. Quando só tem a palavra do policial e não tem imagens ou não tem testemunhas, sobra muito pouco para sustentar uma denúncia, a não ser quando o caso tem contradições gritantes, e aí os promotores têm como denunciar.”, disse ela à Agência Brasil. Isso é ainda mais grave ao considerar que os PMs frequentemente manipulam as provas dos crimes cometidos por eles, inviablizando assim as evidências físicas. 

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Segundo relatório divulgado pela Secretária de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP), no último dia 25 de outubro, a Polícia Militar de São Paulo matou 106 pessoas no último trimestre deste ano. Se comparado com o mesmo período de 2022, o número aumentou em 86%.
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Nachmanowicz defende também que o cenário é pior na Justiça Militar “Temos dados de outras pesquisas que demonstram que a porcentagem de absolvição ou de desclassificação do crime para uma tentativa de homicídio ou para uma lesão corporal – o que levava a penas muito baixas – era muito grande. Na prática, era bem benéfico para os policiais.”

Sentimento geral 

A busca por respostas da família de Luan não é isolada. Cada vez mais, as massas populares vítimas da violência policial exigem uma resposta para os militares envolvidos em torturas, execuções e outros abusos contra jovens estudantes e trabalhadores. 

Em novembro de 2024, o pai de um estudante de medicina de apenas 22 anos, executado por policiais, defendeu a pena de morte para PMs envolvidos em assassinatos de gente do povo. “Acabei de ver pela televisão como foi executado o meu filho, como foi executado e depois socorrido por esses lixos desses soldados. Quero que saibam que eles merecem a pena de morte. Há pena de morte dentro da lei quando estamos em tempos de guerra, porque estamos em tempo de guerra. Estamos em tempo de guerra da maldade, da criminalidade contra a nação, contra os inocentes. E o uso de arma de um militar contra a nação, contra inocentes, isso traz a pena de morte para o país. É isso o que eles merecem”, disse ele.

Protesto em SP condena violência policial; PM que executou jovem pelas costas é preso – A Nova Democracia
O protesto concentrou manifestantes, movimentos populares e familiares de vítima de violência policial. Eles também exigiram a demissão do secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilhermme Derrite, e a saída do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
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Em uma carta, o pai do estudante também respondeu ao governador Tarcísio de Freitas, que disse que poderiam denunciar os crimes da PM para a “ONU, para a Liga da Justiça, no raio que o parta, não tô nem aí”. O pai da vítima escreveu que talvez uma “Revolução Francesa” parasse os crimes da PM. 

Revolta concreta

São todos sinais de que a revolta espontânea das massas paulistas contra a violência policial vem ganhando novos contornos, particularmente depois das edições da “Operação Escudo”/“Operação Verão”, cuja última versão, no ano passado, foi responsável pelo assassinato de 56 pessoas na Baixada Santista.

No centro paulista, em um caso mais recente, trabalhadores do grande centro comercial Braz atacaram policiais que tentaram reprimir uma manifestação feita depois da execução a sangue frio do trabalhador senegalês Ngange Mabye. Imagens divulgadas pelo jornal Correria também mostram o momento em que as massas expulsaram um jornalista da Record que provocou os manifestantes. 

Ngange Mabye era casado e esperava uma filha, mas foi assassinado por tentar defender uma outra vendedora que teve as mercadorias roubadas por PMs. O seu assassinato foi duramente condenado pela Unidade Vermelha – Liga da Juventude Revolucionária. “Os crimes cometidos pelas forças de repressão do velho Estado vêm crescendo vertiginosamente no último período em todo o país, sendo justificado dia e noite pelos reacionários e a extrema-direita em nome da “segurança pública”.”, diz a organização. 

“O que temos visto na segurança pública de São Paulo dos fascistoides Tarcísio de Freitas e seu secretário de segurança Derrite, não poderia ser diferente. Esse gerenciamento de turno que iniciou com a criminosa operação verão, onde todo tipo de ilegalidade foi cometida, com execuções sucessivas cometidas pela polícia militar no litoral paulista, tem sucessivamente assassinando ou agredindo trabalhadores sem o menor pudor, mesmo em plena luz do dia a olhos vistos.”, conclui a nota. 

O Governo Militar Secreto
Publicado originalmente em 1987 por Nelson Werneck Sodré, grande historiador marxista do Brasil, o livro desnuda o que há por detrás das eleições, do parlame…
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