‘Poeira nos olhos’ – O que Hagari quis dizer com ‘Destruir o Hamas não é possível’?

As palavras recentes de Hagari também contradizem a última afirmação do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, em que ele, mais uma vez, insistiu em uma "vitória total" em Gaza.
Foto: Al-Jazeera Arabic

‘Poeira nos olhos’ – O que Hagari quis dizer com ‘Destruir o Hamas não é possível’?

As palavras recentes de Hagari também contradizem a última afirmação do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, em que ele, mais uma vez, insistiu em uma "vitória total" em Gaza.

Reproduzimos abaixo uma notícia publicada no portal Palestine Chronicle, um portal online dedicado à cobertura jornalística dos eventos na Palestina. O Editor-chefe de Palestine Chronicle é o conselheiro editorial de AND, Ramzy Baroud. Ramzy Baroud foi entrevistado pelo AND no programa A Propósito, na edição que pode ser conferida aqui.

O exército israelense sempre se sentiu frustrado com Netanyahu, mesmo antes do início da guerra. Porém, desde 7 de outubro, o racha entre as instituições militares e políticas atingiu novos patamares.

“Quem pensa que é possível destruir o Hamas está enganado”, disse o porta-voz do exército israelense, Daniel Hagari, em uma entrevista ao Canal 13 de Israel na quarta-feira.

“Dizer que é possível destruir o Hamas e fazê-lo desaparecer é jogar poeira nos olhos do público”, acrescentou Hagari.

A última declaração é totalmente diferente de todos os anúncios que o próprio Hagari fez sobre os objetivos de guerra de Israel em Gaza. Em suas declarações diárias à imprensa, Hagari descreveu o que parecia ser a destruição sistemática das capacidades militares do Hamas em toda a Faixa de Gaza.

As palavras recentes de Hagari também contradizem a última afirmação do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, em que ele, mais uma vez, insistiu em uma “vitória total” em Gaza.

As contradições podem ser facilmente atribuídas ao crescente conflito entre o exército israelense e o establishment político de Netanyahu e seus ministros de extrema-direita em Tel Aviv.

De fato, em um episódio sem precedentes, o exército israelense declarou uma “pausa tática” no sul de Gaza sem consultar sua liderança política, uma decisão que provocou a ira de Netanyahu e seus aliados.

“Temos um país com um exército, não um exército com um país”, disse ele durante uma reunião do gabinete em 16 de junho.

O exército israelense sempre se sentiu frustrado com Netanyahu, mesmo antes do início da guerra. Porém, desde 7 de outubro, o rompimento entre as instituições militares e políticas atingiu novos patamares.

Ainda assim, grande parte dessa tensão era frequentemente contida devido ao fato de que as guerras israelenses – em Gaza e no Líbano – eram em grande parte administradas por um conselho de guerra, que envolvia líderes da oposição e indivíduos com alta credibilidade dentro da instituição militar.

A renúncia antecipada do líder da oposição israelense, Benny Gantz – que foi chefe do Estado-Maior do exército israelense em 2014 – Gadi Eisenkot e outros, e o subsequente desmantelamento do conselho de guerra mudaram a dinâmica política que governou Israel nos últimos nove meses.

O exército agora se sente encorajado e está expressando abertamente sua frustração devido à falta de um plano político pós-guerra.

Também é preciso afirmar que, embora, de fato, o exército israelense tenha desempenhado um papel central na própria fundação de Israel, um conflito dessa natureza não tem precedentes.

Historicamente, os generais israelenses são incorporados ao establishment político quando se aposentam ou tendem a atuar como consultores nas principais empresas israelenses de fabricação militar.

A nova formação política de Netanyahu, no entanto, deliberadamente deixou de lado o establishment militar.

A liderança militar israelense deve ter percebido que o cenário pós-guerra em Israel deve incluir o retorno de seu papel político como parte do establishment político. Para isso, personagens de extrema-direita, como os ministros Itamar Ben-Gvir e Bezalel Smotrich, ambos sem experiência militar, não podem fazer parte da formação política do cenário do “dia seguinte”.

Isso deve explicar o contexto da atual rivalidade em curso em Israel, cujas consequências certamente serão de longo alcance.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
Agora, mais do que nunca, AND precisa do seu apoio. Assine o nosso Catarse, de acordo com sua possibilidade, e receba em troca recompensas e vantagens exclusivas.

Quero apoiar mensalmente!

Temas relacionados:

Matérias recentes: