Poema: “A Criança” (1865), de Castro Alves

Poema: “A Criança” (1865), de Castro Alves

Castro Alves (1847-1871) foi um poeta abolicionista brasileiro, cujo natalício completa 175 anos no dia 14 de março.

 

Que tens criança? O areal da estrada

Luzente a cintilar

Parece a folha ardente de uma espada.

Tine o sol nas savanas. Morno é o vento.

À sombra do palmar

O lavrador se inclina sonolento.

 

É triste ver uma alvorada em sombras,

Uma ave sem cantar,

O veado estendido nas alfombras.

Mocidade, és a aurora da existência,

Quero ver-te brilhar.

Canta, criança, és a ave da inocência.

 

Tu choras porque um ramo de baunilha

Não pudeste colher,

Ou pela flor gentil da granadilha?

Dou-te, um ninho, uma flor, dou-te uma palma,

Para em teus lábios ver

O riso — a estrela no horizonte da alma.

 

Não. Perdeste tua mãe ao fero açoite

Dos seus algozes vis.

E vagas tonto a tatear a noite.

Choras antes de rir… pobre criança!…

Que queres, infeliz?…

— Amigo, eu quero o ferro da vingança.

 

Castro Alves, o poeta condoreiro, aos 20 anos. Foto: Reprodução. 

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