Série Especial Dia Internacional da Mulher Trabalhadora
Louise Michel (1830 – 1905) foi uma revolucionária francesa, importante combatente da Comuna de Paris (1871).
Sobre o quadrante trincado vão os dias,
Passem, sempre,
Levem todos os rancores e os amores
Passem, passem, horas do dia!
Que a erva cresça sobre os mortos!
Feneçam, coisas recém-nascidas;
Barcos, distanciem-se dos portos;
Passem, passem, ó noites profundas,
Despedacem-se, ó velhos montes;
Proscritos ou mortos, retornaremos
Das masmorras, das tumbas, das ondas.
Retornaremos, turba inumerável;
Retornaremos por todos os caminhos,
Espectros vingadores saídos das sombras,
Voltaremos, de punho cerrado,
Alguns em seus pálidos sudários,
Outros ainda sangrando,
Pálidos sob as rubras bandeiras,
Flancos crivados de balas.
Tudo acabou! Os fortes, os bravos
Todos caíram, ó amigos meus,
E ainda rastejam os escravos,
Os traidores e os degradados.
Ontem, eu os via, meus amigos,
Filhos do povo vitoriosos
Orgulhosos e valentes como nossos pais
Com a Marselhesa* nos olhos.
Irmãos, nessa gigante luta,
Prezo por vossa ardente coragem,
A metralhadora ruge e troveja,
Bandeiras flutuam ao vento,
Sobre as ondas, na grande agitação do mar,
É belo nos lançarmos à sorte;
A meta é a de salvar o povo,
A recompensa, a morte.
…
Idosos sinistros e débeis,
Já que vos falta todo nosso sangue,
Curvem-se sobre as ondas fecundas,
Bebam todo este oceano vermelho;
E nós, com nossas bandeiras encarnadas,
Nelas nos enrolamos para morrer;
Juntos, nesses belos sudários,
Onde poderemos, enfim, dormir.
Nota:
* A Marselhesa é um hino da tradição republicana francesa, entoada neste país pelos revolucionários até então.
Louise Michel em 1871, durante a Comuna de Paris. Foto: Reprodução