Ángela Ramos Relayze (1896-1988) foi uma escritora comunista peruana, uma das fundadoras do Partido Comunista do Peru ao lado de Mariátegui. Escreveu o seguinte poema após o genocídio nas Luminosas Trincheiras de Combate de El Frontón, Lurigancho e Callao. Publicado em homenagem ao Dia da Heroicidade.
Noite da noite negra
Luz lilás suave da alvorada
quebrando o toque de recolher
já clareia a manhã
e despencam do céu
como um rebanho trágico
os corvos da vendeta
sobre a ilha desolada.
O trovejar da metralhadora
põe os presos em guarda
Chegou a hora da morte!
Ai, da morte anunciada!
a pedra voa feito areia
os peixes sob a água escapam
vêm as lanchas anfíbias
e cercam as águas verdes
de palmas agarradas
os presos juram e clamam:
Fazer a morte custar-lhes caro!
Que ninguém de joelhos caia!
as bacias exorbitantes
a espuma na boca sangra
e mesmo a pedra, feito humana
geme dentro em suas entranhas
Rasantes sobre a pedra
arautos da vingança
pássaros da morte
vomitam sua negra lava.
Voam cabeças humanas
Ai, do tronco serradas
as pedras se desmoronam
sobre o mar ensanguentadas
os arremessam as dinamites
os ardem com lança-chamas,
os acossam como feras
Todos morrem! Ninguém escapa!
Onde estão? Choram as mães
perguntando aos ares
Os corvos os levaram!
respondem os chacais.
E no pavilhão Azul –
pedacinho de terra isolada –
permanecem sonhos de Poetas
que em revolução sonhavam.
E com hinos voltarão!
as bandeiras desfraldadas –
novos sonhos, novas ânsias –
dos que, ao morrer, avançam.
Ángela Ramos junto a Mariátegui em 1929. Foto: Reprodução.