chocamos agora com o bastão
a última parede
que a máquina moedora de corpos
nos intercede
–
as mãos enrugadas
endurecidas e calejadas
clamam em todas as direções
na fisgada da coluna machucada
nos olhos marejados
nos filhos entregues ao asfalto enrolados em lençóis brancos
no uniforme escolar disposto no caixão
nos gritos de socorro
nas vielas da delinquência
no fuzil fotografado
no meio do mato, nas pinturas de guerra
nos massacres de baixo da tenda chuvosa
na coronhada
nos escritórios
na rotina aprisionadora
no túnel paulistano
no viver violentado
na musicalidade humilhada
–
a confusão generalizada
–
o chacoalhão
será retumbante
estremecerá
cada semblante
da mata adentro
de cada morro
do apartamento
da pradaria
o chacoalhão
mudará tudo
removerá a cortina da fantasia
concentrará a esperança
dará nova vida ao mundo
Bolchevique (1920), pintura de Boris Mikhailovich Kustodiev. Foto: Banco de Dados AND