Reproduzimos com nossos leitores e leitoras o poema enviado à Redação de AND por Daniel Moreno.
Todo encaixe é violento
Toda transição, um enfarto
e na súplica do parto
é que se fabrica a vida
pois ali se brisa um vento
que arromba toda ferida
que tanto é inseticida
quanto do novo é fermento
Vento que vem de dois ares
mas se torna num momento
um só corpo turbulento
que do firmamento erode
se te chama pra marchares
não há colo que acomode
venta até que o chão sacode
‘rranca as massas de seus lares
Como o mangue é em si o rio
bem como é o mar e a lama
vêm cravados em sua mama
jacaré, uçá e pintado
Também a história é um fio
e o presente é costurado
de águas passadas de um lado
de outro, pororoca em cio
Mas não é o tempo um ossário
e não há margem que o empaque
nos golpes do tique taque
o que é dado se renova
Tudo vira o seu contrário
– e piramboia de sua cova
treme com os ecos da sova
entre as águas do estuário
(Daniel Moreno)
Arte: Coletivo Bagaço