O velho poeta não queria ser soldado
Porque pra ele toda essa coisa sobre marchar, combater e ocupar
Eram quinquilharias
Brutalidades de homens pouco refinados
Que nada sabem sobre o espírito e os detalhes da vida
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Já o velho soldado desprezava os poetas
Considerava-os frágeis, homens pouco hábeis
Incapazes de prover a si mesmos e aos outros
Quiçá guiar os destinos de um povo
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Já o novo homem
Compreende que só pode ser um bom poeta na medida em que é um bom soldado
Porque se não marchar e não buscar prover os outros e a si mesmo, não poderá compreender como funciona a vida
E, portanto, nada de importante terá a dizer sobre a mesma
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Mas sabe também que se for apenas soldado
Combaterá em vão, por causas que desconhece e não é capaz de refletir sobre
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O velho poeta, que tem todas as condições de existência garantidas por mãos alheias
Não conhece verdadeiramente o espírito do seu tempo
Conhece apenas os próprios desejos, o próprio ego e a própria história isolada e mal resolvida
Não sabe o porquê de escrever sobre o que escreve
Não conhece a origem dos seus próprios pensamentos
É um poeta pela metade
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O velho soldado conhece tudo da arte militar
Mas combate por interesses que não são os seus, para prover luxos que não tem acesso
E portanto é grosseiro, temeroso
não é suficientemente esclarecido para guerrear bem e sentir-se vitorioso
O seu tempo não pode reconhece-lo herói
Perecerá amargurado
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O novo homem, sim
É capaz de alcançar a verdade
Chegar às profundezas da vida
E será soldado reconhecido
Poeta de carne viva
Escreverá com baioneta
Combaterá com canetas
O primeiro slogan (1924) pintura de Nikolay Borisovich Terpsykhorov. Foto: Banco de Dados AND