Reproduzimos este belo poema enviado à Redação de AND por Jorge Moreno, um poeta internacionalista e entusiasta da luta popular no Chile.
Por tua bandeira hasteada(Ao povo chileno)___A dor que sintoé a dor que aflige meu povoo sentimento presente em minha vidaestá cheio da alma de minha gente.Não tenho como contentar-meenquanto existir tanta infelicidadenas ruas, nos campos, bairros e favelas.Mas ao ver-te meu povo nas ruas, nas callesdesobediente ao toque de recolheranimado pelo canto e pelo violão insubmissoComo conter tanta emoção?Como não crer em tua forçaao desafiar atrevido o injusto armado até os dentesapenas com a certeza da verdade em tuas mãos?Um largo canto se fez posseda minha mente, dos meus lábiose dancei como dançou Mercedes em Vinãquando o ditador ainda moribundo“porque tudo pode mudarmas nunca mudaráo amor por minha gente!”Sim, mostraste para todo o mundoque a liberdade sempre será um sonhoindissociável da sua conquista nas ruas.Nas ruas, vielas e praças disseste sim:somos os filhos herdeiros da terra de irmãosportadores de uma bandeira que sempre será hasteadauma verdade que não pode ser contida.Quando faltarem todas as armasnossa primeira e derradeira arma contra a opressãonosso grito único, forte e inconteste seráLiberdade!Como disse o nosso pedagogoexilado em território comprido e estreitoonde agora o povo resiste aos batalhões armadosainda saudoso do aroma de sua terra natal:crê no povo é condição préviaa qualquer sonho de liberdade!Nunca duvidei, nunca duvidareida opção que fiz quando ainda imberbe.Não duvido, nunca duvidei, nunca duvidareida força do meu povo quando se põe em marchaAo lado de minha gente estarei, estarei semprena dor, na alegria, na batalha pela vidana festa da terra conquistada, enfim libertade toda forma de opressão.Estarei no cultivo, na escolha da semente,no amor à terra, na risada gigantequando o arroz com seus cachos cor de ouroanuncia o tempo novo da farturaQuando aquele pedaço de pau enterradomajestosamente da casa de manidormindo na terra, com aparência de morto,desperta para a hora de alimentar meu povo.tempo de trabalho em mutirão no plantio e na colheirapara que seja tempo de honesta fartura na refeição!O maior perigo que os inimigos tememé que povo alimentado sonhae sempre alimenta o sonho de outros povos.Não, minha gente não recuaráa rua é sua por destino e designação.Que importam então as armas, as balas e os drones?Que são tanques de guerra quando o povo unidomarcha por sua liberdade, destemidociente que a escuridão findará e o sol nascerá em seguida?O que são as armasquando a arma mais poderosa que uma nação possuié seu povo quando não aceita recolher-se, ficar em silêncioe enfrenta os canhões virados contra si,transformados em auxiliares de assassinos?Que meu grito assim seja ouvidoem alto e bom som:tremam os quartéis, os palácios,os jornais malditos de propaganda do ditador!Refeitas sejam as leis, todas as leispois o soberano está sim nas ruasa rua é e sempre será do soberano:o povo!Desobedecidas sejam todas as leisque disponham o contrárioAmaldiçoadas sejam para sempre!Propaguem, pois, essa notíciaaos ouvidos novos, aos ouvidos cansados:Nossa dor passará, chegará o dia da festa!Preparemos então o riso,vamos juntar o que restou!Mesmo pouca, a comida será farta, porque partilhadanossa alegria será imensa, pois de todospreparemos a dança, a voz e o canto.Precisaremos de todas mãosé hora de reconstruir o que o ditador destruiu.É hora de distribuir para todoso que os amaldiçoados quiseram só para sitransformando a nação em campo de fome e desolação!Nesse novo dia que chegará,até o choro será permitidomas não será mais de dor, nem de desesperoÉ o choro bem-vindo da emoçãoao ver a bandeira hasteada no topoanunciando que um povo foi liberto.Bandeira que enviará aviso aos outros povosque a liberdade é possívelponte que só pode ser cruzadacom povo unido e resoluto de sua tarefa.Não duvidem, nunca duvidemo dia chegará, ele já está grávidoserá como qualquer parto, com dor e sanguemas passado esse instanteserá apenas riso e celebração!
Jorge Moreno, 26/10/19