Poema: “Treme o lado direito da rua” (1964), de Manoel Raposo

Poema: “Treme o lado direito da rua” (1964), de Manoel Raposo

Manoel Coelho Raposo (1933-2009) foi um importante comunista brasileiro. O seguinte poema foi escrito durante sua prisão em 1964.

  

Jornais do mundo burguês

abrem-se em manchetes colossais

e do lado esquerdo da rua

o silêncio

 

Do bangalô de luxo um suspiro

um suspiro do senhor do bangalô

e do lado esquerdo da rua

o silêncio

Foguetes ensurdecedores

rasgam o firmamento

em violentas explosões de júbilo

e do lado esquerdo da rua

o silêncio

 

O nome de Deus

pelas caridosas senhoras do soçaite

é pronunciado com emoção

elas agradecem

a salvação dos seus palácios

e suas piscinas ornamentadas

de coxas

seios

e virgindades mortas

e do lado esquerdo da rua

o silêncio

 

A “sagrada” propriedade

privada

da terra ensanguentada

está salva

os senhores da terra

matam bois e carneiros

para a festa antecipada

e do lado esquerdo da rua

o silêncio

 

O silêncio

do silêncio surge a “profecia”

“toda noite tem aurora”

quebra-se o silêncio

do lado esquerdo da rua

rompe o sol no horizonte

os raios invadem o lado

esquerdo da rua

a liberdade se anuncia

treme o lado

direito da rua

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