A cúpula da Polícia Civil do Rio de Janeiro está sendo acusada de envolvimento com o grupo que articulou o assassinato da vereadora Marielle Franco, conforme denunciou o miliciano e ex-policial militar Orlando de Oliveira Araújo (vulgo “Curicica”), em entrevista para o monopólio de imprensa “O Globo”.
“Existe no Rio hoje um batalhão de assassinos agindo por dinheiro, a maioria oriunda da contravenção. A DH (Delegacia de Homicídios) e o chefe de Polícia Civil, Rivaldo Barbosa, sabem quem são, mas recebem dinheiro de contraventores para não tocar ou direcionar as investigações, criando assim uma rede de proteção para que a contravenção mate quem quiser. Diga, nos últimos anos, qual caso de homicídio teve como alvo de investigação algum contraventor?”
Curicica, junto do vereador Marcello Siciliano, foi apontado em delação como um dos mandantes da morte de Marielle e Anderson. Desde 19 de junho ele se encontra na penitenciária federal de segurança máxima em Mossoró, no Rio Grande do Norte, para onde foi transferido.
“No dia 10 de maio, o delegado Giniton Lages (titular da DH da Capital), foi me ouvir, mas já chegou dizendo que tinha ido lá para ouvir eu falar que o Siciliano tinha me pedido para matar a vereadora. Eu disse que isso não era verdade.”, acusa Curicica.
“Ele disse: ‘Fala que o vereador (Siciliano) te procurou e você não quis, e outra pessoa fez’. Como me recusei, ele disse que ia futucar a minha vida e colocar inquéritos na minha conta, que me mandaria para Mossoró e, de fato, foi o que fez. Mas o tempo todo percebi que eles (investigadores) estavam perdidos, sem caminho nenhum.”, continua.
A repercussão da delação e, inevitavelmente, a desmoralização da “investigação” sob o comando da intervenção militar foram tamanhas que levaram o ministro da Segurança Pública a anunciar, no dia 1º de novembro, que a Polícia Federal vai investigar os próprios investigadores da Polícia Civil envolvidos no caso. O objetivo da “investigação da investigação”, como ele chamou, é apurar as denúncias apresentadas em delação por Curicica. “Vai ter duas investigações em paralelo. A da morte de Marielle continua. Mas vai ter outro eixo, que vai investigar, seja quem está dentro do poder público, ou quem está fora.”, explicou.
Crime impune
As execuções de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes completaram oito meses em novembro, sem que o velho Estado tenha sido capaz de esclarecer quem os matou. Uma execução feita com balas compradas pela Polícia Federal, dias depois de denúncias contra a violência policial, em um estado que está sob intervenção militar e não se deu ao trabalho de esconder que foi uma execução. Parecia evidente que o objetivo era, e além de calar uma militante que estava denunciando seus crimes, demonstrar força e poder para incutir medo naqueles que tentam se mobilizar contra o aparato de repressão do estado.
Foi uma execução que não procurou disfarçar seu caráter de classe, indicando a clara intenção de passar um recado àqueles que buscam combater os crimes das forças repressivas do velho Estado. Uma mulher negra, vinda da Favela da Maré, sufragada como vereadora sustentando pautas contra as milícias, aos ataques policiais às favelas e ao genocídio do povo pobre, virou alvo quando antagonizou com os interesses daqueles que lucram e se beneficiam da violência e do crime na cidade, demonstrando que a via legalista e da falsa democracia não pode resolver os problemas aos quais ela dedicou-se a denunciar.