Polícia matou mais de 3 mil pessoas no Paraná em dez anos

O assassinato de jovens pela PM cresceu 40% desde a posse do governador Ratinho Júnior
Foto: Reprodução

Polícia matou mais de 3 mil pessoas no Paraná em dez anos

O assassinato de jovens pela PM cresceu 40% desde a posse do governador Ratinho Júnior

A Polícia Militar do Paraná, com violenta tradição antipovo, matou mais de 3 mil pessoas nos últimos dez anos, na grande maioria (cerca de 70%) jovens entre 18 e 29 anos. O monitoramento, realizado desde 2015, é do Ministério Público estadual, e comprova uma escalada da violência policial a partir da posse do atual governador, o bolsonarista Ratinho Júnior. Desde que ele assumiu o governo do Paraná, a média anual das mortes provocadas por forças policiais aumentou 40%.

“O governador deveria estar preso”, dizem os cartazes de manifestantes nas ruas de Curitiba. São familiares e amigos de jovens executados por policiais, que vão às ruas da cidade denunciar o extermínio oculto na periferia da capital, onde são registradas a maioria das mortes.

No ano passado, dos 348 homicídios computados, 70 ocorreram em Curitiba, 28 nos municípios vizinhos de Piraquara, Pinhais e São José dos Pinhais, e 29 em Londrina, Norte do Estado, que vergonhosamente desponta como segunda cidade mais violenta, com especial agressividade policial contra os jovens.

Neste ano, os números, normalmente divulgados no primeiro e no segundo semestre, permanecem sem publicação. O Ministério Público afirma estar realizando adaptações metodológicas no levantamento.

Intimidações – A mesma polícia que executa jovens em confrontos raramente esclarecidos pela Justiça parece considerar muito perigosos os pais e amigos de suas vítimas. As manifestações que eles realizam periodicamente, no calçadão central de Curitiba, são acompanhadas permanentemente por equipes da PM.

Em uma dessas manifestações, em Agosto, dois carros policiais se revezaram para observar, fotografar e filmar os manifestantes, que entretanto não se intimidam e exigem a responsabilização do governador pela política de extermínio executada por sua polícia.

Na Vila Parolin, uma das maiores favelas de Curitiba, palco diário de abusos policiais, foi inaugurado em Junho um memorial em homenagem a jovens da comunidade mortos pela PM. A iniciativa foi apoiada pela Rede Nenhuma Vida a Menos, que se dedica a documentar as mortes e apoiar os familiares.

Tortura – Um dos casos mais recentes documentados por Nenhuma Vida a Menos é o de Miro e Roberto, mortos pela Polícia Militar em Campo Magro, cidade vizinha de Curitiba. Testemunhas afirmam que os dois foram abordados, algemados e levados, vivos, em um camburão por volta de 15:30 do dia 19 de Março. Entretanto, somente sete horas mais tarde foram apresentados em uma delegacia, mortos e com sinais de tortura, como dentes arrancados e dedos amputados.

Os policiais alegaram que os dois morreram em confronto ao resistir a uma abordagem, e indicaram como cena do suposto confronto um local a cerca de 8 km de onde testemunhas afirmam que Roberto Valendorff Júnior e Wladimir Carvalho foram presos com vida. De acordo com a ONG, um dos policiais que participou da operação já respondia por 32 homicídios, pelos quais permanece impune.

Tradição – A desmilitarização da polícia do Paraná, pautada durante o processo constituinte estadual, em 1989, foi confrontada por forte articulação política e corporativa. Sequer o Corpo de Bombeiros, que no Paraná é subordinado ao Comando Geral da PM, foi desmilitarizado.

A aberração política e jurídica de uma polícia militarizada para controlar a ordem civil foi confirmada, restando a PM e o Corpo de Bombeiros como “forças auxiliares e reserva do Exército” (C.E., Artigo 49), prorrogando-se a tutela militar sobre a ordem pública, consagrada pelo regime que se implantou com o golpe militar de 1964.

Criada em 1854, a corporação tem como patrono o Coronel Joaquim Sarmento, que foi ferido no olho por golpe de facão, na batalha do Irani, na Guerra do Contestado (1912 a 1916), na qual a polícia militar paranaense combateu, como de hábito, civis camponeses e pobres.

Contemporaneamente, a mesma polícia ficou famosa por espancar professores em praça pública, por duas ocasiões, em 1988, no governo de Álvaro Dias, para reprimir manifestação de grevistas, e novamente em 2015, no episódio que entrou para a história como Massacre do Centro Cívico, no governo de Beto Richa. Mais de duzentas pessoas ficaram feridas por balas de borracha, gás e mordidas de cães policiais, nesse último episódio.

Apoio ao latifúndio

No campo, a PM paranaense presta serviço de repressão sistemática contra camponeses, em sucessivos casos de abuso. Um monumento desenhado por Oscar Niemeyer e plantado às margens da Rodovia que liga a Capital ao interior relembra um desses episódios, o assassinato do camponês Antônio Tavares Pereira pela Polícia Militar, em 2001, quando a polícia tentava impedir que manifestantes sem-terra chegassem a Curitiba para protestar contra o governo estadual.

Mais recentemente, às vésperas da eleição que seria vencida por Jair Bolsonaro, para intimidar caravanas de camponeses que poderiam se dirigir à cidade, a PM marchou pelas ruas, em vexatória exibição de sua vocação antipopular.

A Polícia Militar do Paraná foi procurada pela reportagem para se manifestar sobre os fatos, mas sua assessoria de imprensa não atendeu aos vários telefonemas feitos durante uma segunda-feira, em horário de expediente. De acordo com a recepção do Quartel do Comando Geral, a assessoria também não possui e-mail.

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