PM promove dia de terror em ocupação de Curitiba; casas são incendiadas e jovem é executado

PM promove dia de terror em ocupação de Curitiba; casas são incendiadas e jovem é executado

A Ocupação 29 de Março, localizada na Cidade Industrial de Curitiba, foi submetida ao terror policial no dia 7 de dezembro. A Polícia Militar, com soldados encapuzados, espancou moradores, invadiu casas e disparou para o alto para aterrorizar trabalhadores, a maioria em plena luz do dia. A noite, policiais causaram um incêndio na comunidade e executaram um jovem que gravou o crime com um tiro na nuca, segundo os moradores.

As 24 horas de terror iniciou-se após o policial militar Erick Nório ser baleado nas proximidades da ocupação e morrer em seguida, na virada de 6 a 7 de dezembro. Ao longo de todo o dia 7, começando pela manhã após a confirmação de sua morte, diversos policiais militares passaram a cercar a região para vingar o policial morto. A partir de então a prática adotada pela corporação foi de horrorizar os moradores e tratar a comunidade como se todos que ali moram, dentre trabalhadores e proletários em geral, fossem responsáveis pelo assassinato do policial.

Foram relatados pelos moradores casos de abuso, nos quais os policiais disparavam para o alto, apontaram armas para os moradores, invadiram casas, empurraram e bateram em moradores com cassetetes enquanto lançavam xingamentos, exigindo “a entrega” do assassino do policial militar, como se o responsável pela morte de Erick Nório estivesse escondido em cada uma das casas da comunidade.

“Eu não estava em casa, preferi passar o dia fora de casa. Minha porta estava trancada com cadeado. Eu cheguei e o portão estava aberto e o cadeado estourado. Nem autorização eles estão pedindo, estão estourando os cadeados e entrando. Não sei como vai ficar essa situação, tá complicado.”, relatou um morador da Ocupação.

“Está ficando tenso aqui. Os policiais estão querendo reprimir a gente. Represália contra nós. Não estão perdoando ninguém, estão dando tiro direto à toa pra cima, estão invadindo barraco, arrombando. Bateram bastante numa pessoa que está aqui comigo, ele está com medo de voltar pra casa dele, com medo de coisa pior. Eles estão misturando as coisas, usando de covardia e autoritarismo.”, disse um outro morador. Vários outros relatos foram veiculados pela imprensa local, denunciando a ação terrorista da PM.

Foi durante a noite do dia 7, no entanto, que o terror policial alcançou seu ápice. Depois das 22 horas, um grupo de homens com fardas amarelas (cor utilizada pela PM do Paraná) e encapuzados, adentraram a comunidade mandando todos entrarem em suas casas. Com a recusa, estes passaram a disparar para o alto obrigando os moradores a se retirarem.

Após todos se retirarem, este grupo se direcionou ao local onde o corpo do policial Erick Nório foi encontrado na madrugada e desencadearam um incêndio de grandes proporções, segundo os moradores.


Foto do incêndio, já em grandes proporções, retirada pelos moradores

Antes de se retirar do local, o grupo avistou um jovem morador chamado Rafael que havia gravado a ação. O bando policial não teve dúvidas: escoltou o jovem até uma estrutura de alvenaria abandonada e o executou com um tiro na nuca.

Ao tempo que o fogo se alastrou, destruindo mais de 100 casas, e da tomada de conhecimento da execução do morador, a comunidade explodiu em rechaço à violência policial, denunciando que daquele grupo de covardes encapuzados eram policiais vingando a morte do soldado contra a massa desarmada.


Foto tirada pelos moradores do corpo de Rafael. Tudo aponta a ser mais um jovem negro executado pelas forças do velho Estado

Ao longo de toda a madrugada entre os dias 7 e 8 de dezembro, os moradores seguiram na rua repudiando os policiais. Um grupo de 100 policiais militares foram deslocados para a comunidade, supostamente chamados para “conter a situação”, e também foram duramente rechaçados.

Após a retirada do corpo por parte do Instituto Médico Legal (IML), entre os dias 7 e 8, a Polícia Militar do Paraná fez questão de deixar um último recado na madrugada, detonando dezenas de bombas de efeito moral e atirando balas de borracha na direção dos moradores da comunidade, atingindo jovens, crianças e idosos.


Policiais aguardando a chegada do IML

Em declaração oficial, a Polícia Militar do Paraná sustentou um discurso mentiroso, afirmando que acusações feitas eram “falsas” e que representavam uma “inversão de valores” ao acusar uma “renomada instituição de segurança pública” de tal crime. Afirmaram que os verdadeiros responsáveis integram o crime organizado e que rechaçam a atuação da polícia, responsável por “levar segurança aos moradores da região”. E, no mais torpe tom, afirmam que todos aqueles que afirmam ser a polícia responsável pelo incêndio “não passam de criminosos interessados em denegrir a imagem da instituição”.

Desde então, dezenas de grupos e organizações populares vêm se manifestando em solidariedade às famílias, já em histórica luta pelo direito à moradia e em repúdio à violência policial arbitrária, característica presente na região.


Foto de morador atingido pelos projéteis. Foto: Instituto Democracia Popular

O Comitê de Solidariedade à Luta dos Povos (CSLP) acredita que a denúncia sobre o ocorrido possui extrema importância, pois não devem restar dúvidas quanto à atuação fascista das forças policiais em regiões de periferia e que a famigerada máscara de “Cidade Sorriso” que Curitiba recebe não passa de uma grande mentira.

Para além de suas particularidades na extensão do nosso país, as forças policiais nas cidades cumprem um dever geral em todo o território nacional, seja no Rio de Janeiro ou em Curitiba, estando entre suas prioridades a violência contra o povo pobre, que tem como crime morar na favela, ou até mesmo existir, segundo a ideologia reacionária de tais corporações militares.

O ocorrido em Curitiba, na Ocupação 29 de Março é reflexo do atual processo de reacionarização das instituições do velho Estado, tomando seus aparatos militares como centro dos ataques contra os interesses e as necessidades do povo.


Área destruída pelo incêndio. Fotos: Coletivo Jandira/ Joka Madrugada

A despeito deste crime e do atual estado de calamidade, com toda a certeza, a população das comunidades do complexo de ocupações da Cidade Industrial de Curitiba irá se levantar, reconstruir suas casas e principalmente ter mais consciência daqueles que são os inimigos de classe do nosso povo.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
Agora, mais do que nunca, AND precisa do seu apoio. Assine o nosso Catarse, de acordo com sua possibilidade, e receba em troca recompensas e vantagens exclusivas.

Quero apoiar mensalmente!

Temas relacionados:

Matérias recentes: