Policiais e paramilitares tentam expulsar famílias em proveito de latifundiário político do Ceará

Metros de fila de viaturas, um trator e uma caminhonete foram gravados por camponeses. "Estão pegando as motos dos trabalhadores", denuncia o homem que filma as cenas.
Policiais pegaram motos de camponeses. Foto: Reprodução/Instagram

Policiais e paramilitares tentam expulsar famílias em proveito de latifundiário político do Ceará

Metros de fila de viaturas, um trator e uma caminhonete foram gravados por camponeses. "Estão pegando as motos dos trabalhadores", denuncia o homem que filma as cenas.

Um esforço de guerra feito pelo governo do Ceará hoje (23/10) levou policiais, tratores e pistoleiros para expulsar famílias de um latifúndio no município de Morrinhos. A terra, que pertence ao secretário de Cidades do governo, Zé Albuquerque, foi retomada pelos camponeses depois de anos de abandono.

Metros de fila de viaturas, um trator e uma caminhonete foram gravados por camponeses. “Estão pegando as motos dos trabalhadores”, denuncia o homem que filma as cenas.

A blitz arbitrária nas motos é apenas o começo da repressão, porque, segundo as denúncias, o verdadeiro objetivo da operação é “destruir as casas” dos camponeses e “expulsar as famílias” do local.

A Retomada Poeta Colibri, conforme foi nomeada pelos camponeses, foi feita no dia 23 de setembro por dezenas de famílias do distrito de Sítio Alegre. Os camponeses exigem as terras, mas têm contra eles todo o governo, as polícias e uma força paramilitar.

“São muitas viaturas […] O segurança particular do proprietário, conhecido com Capitão Albuquerque, está comandando a ilegalidade”, diz o camponês Jeremias Gonçalves, em uma declaração divulgada pela Organização Popular (OPA), que também detalha que a operação não tem “mandado judicial algum”.

Guerra se alastra

Acumulam-se casos que policiais e pistoleiros agem de forma conjunta e sem ordem judicial contra camponeses. Às vezes a combinação de forças é pela escolta dos PMs aos pistoleiros, com a garantia de que eles vão atuar sem punição. Em outros casos, a PM toma parte direta na repressão.

Exemplo disso foi a operação de guerra da PM de Alagoas a serviço do latifundiário Eduardo Queiroz Monteiro, primo do Ministro da Defesa José Múcio, na Área Revolucionário Renato Nathan. Os militares destruíram, de forma ilegal, as casas de várias das mais de 720 famílias que vivem na terra desde 2009.

Outro caso muito particular foi a recente Batalha Camponesa no Engenho Barro Branco, em Jaqueira (PE), onde uma carreata do movimento paramilitar “Invasão Zero” tentou expulsar os camponeses das terras, mas foi escorraçada pela resistência camponesa com barricadas, pedras, paus e coquetéis molotovs.

A PM não chegou a balear ninguém, como costuma fazer, mas observou inerte dois camponeses e uma estudante serem alvejados pelos pistoleiros, no braço e no pé. A resistência camponesa conseguiu impedir que mais posseiros fossem baleados. Os pistoleiros, por sua vez, perderam um cachorro no fogo das barricadas e viram dois comparsas irem para o hospital com balas alojadas no corpo.

Logo após a vitória sobre os pistoleiros, os camponeses se organizaram para denunciar o ataque às massas das vizinhanças por meio de panfletagens e iniciaram a reconstrução dos sítios demolidos. Um abaixo-assinado organizado pelos posseiros já reuniu mais de 200 assinaturas. Brasil afora, organizações democráticas como o Movimento Mangue Vermelho e o Movimento Estudantil Popular Revolucionário (MEPR) declararam apoio aos camponeses.

Em declaração após à batalha, a Liga dos Camponeses Pobres (LCP), que organiza os posseiros de Barro Branco, listou outros crimes do “Invasão Zero”. Em vários deles, os pistoleiros agiram junto com a PM, a exemplo daquele que acabou com o assassinato da liderança indígena Nega Pataxó.

LCP emite comunicado: ‘Os paramilitares bolsonaristas estão levando sua guerra covarde ao campo, é guerra o que eles vão ter!’ – A Nova Democracia
“Nós camponeses somos os palestinos do Brasil e lutamos contra um inimigo armado até os dentes; mas assim como o Povo Palestino, nossa luta é justa e venceremos inevitavelmente! Há exatos 75 anos, o povo chinês, em mais de 27 anos de guerra popular prolongada, derrotou três grandes inimigos que pesavam sobre o povo e a nação chinesa: o imperialismo, o capitalismo burocrático e o latifúndio feudal e semifeudal. Do mesmo modo, o povo palestino e o povo brasileiro, assegurarão a sua completa libertação, mesmo que a luta cobre muito tempo para se cumprir, nossa causa triunfará inevitavelmente!”, declara a LCP
anovademocracia.com.br

A LCP também declarou que não vai observar de braços cruzados os camponeses serem alvos de crimes do latifúndio. Se “os paramilitares bolsonaristas estão levando sua guerra covarde ao campo”, diz a Liga, “é guerra o que eles vão ter!”.

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