Uma operação de busca e apreensão prendeu hoje (20/3) o policial federal aposentado Josias João do Nascimento. Ele foi, durante 7 anos, o maior traficante de armas do Brasil, tendo contrabandeado mais de 2 mil fuzis dos Estados Unidos (EUA) para o Rio de Janeiro. O caso evidencia como as forças de repressão brasileiras estão na base, como um aspecto central, do crime organizado no País.
Segundo as investigações, os armamentos eram escondidos dentro de objetos pesados como aparelhos de ar-condicionado, aquecedores de piscina e aparelhos de ar-condicionado e trazidos para o Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro.
As informações apontam ainda que o policial federal vendia as armas para qualquer interessado, e o dinheiro das vendas era lavado em uma rede ligada a Josias.
Os mantenedores do crime
O caso é só mais um, dos pouco revelados, em que agentes do Estado brasileiro são revelados como figuras centrais no crime organizado no País. Há outros exemplos, como o do sargento Carlos Alberto de Almeida, apontado na época de sua prisão como “o maior armeiro” do Rio de Janeiro.
Somente no ano passado, o Exército reacionário brasileiro registrou cerca de 460 munições furtadas, três pistolas, 21 metralhadoras e 12 fuzis. Os roubos ocorreram em 7 das 12 regiões militares estabelecidas no país, sendo São Paulo o estado líder. Ao longo dos últimos 10 anos, mais de 26,4 mil munições foram furtadas, sendo a maior parte delas munições de grosso calibre, como metralhadoras, fuzis e espingardas de uso restrito pelas “forças de segurança”.
Para além das armas, três militares da Força Aérea Brasileira foram presos por transporte de drogas em aviões da força, em fevereiro desse ano. As investigações tiveram origem em uma apreensão de cerca de 350 quilos de drogas ocorrida no ano passado, quando três militares haviam sido presos, incluindo um soldado do Exército.
O conjunto de casos deixa claro que são as forças de repressão – sobretudo o Exército, pelo controle das fronteiras – as responsáveis centrais pelo crime organizado no País. A rede conta, também, com participação ativa das classes dominantes, como os latifundiários que usam as fazendas como pista de pouso para aviões lotados de drogas e grandes burgueses que investem pesado em todo o esquema.
Discrepância
Toda essa participação passa, na imensa maioria das vezes, de forma impune. Durante a operação de busca e apreensão de hoje, um dos investigados, o membro de um grupo de extermínio e segundo-em-comando de Josias, Marcelo Lopes Santiago, recebeu a equipe de policiais em seu condomínio no Recreio com tiros em uma tentativa de fuga.
Contudo, a reação dos policiais à tentativa de homicídio foi muito distinta daquela apresentada pelos agentes do velho Estado durante as operações policiais nas favelas cariocas. O paramilitar morador do Recreio foi contido pacificamente e levado sem grandes percalços, enquanto nas favelas, o modus operandi das polícias é promover tiroteios sem se preocupar com os moradores locais.
Segundo dados divulgados pelo Instituto Fogo Cruzado, nos primeiros 75 dias do ano ao menos 27 pessoas foram baleadas durante operações policiais e 7 foram assassinadas, totalizando ao menos 66% das vítimas por bala perdida.