População de Paraisópolis protesta contra ação terrorista da Polícia Militar em 01/12. Foto: Marlene Bergamo/Folhapress
No último dia 2 de dezembro, a página do AND noticiou a ação terrorista da Polícia Militar do governador João Doria que terminou com a morte de nove jovens na favela de Paraisópolis, zona sul de São Paulo, em 01/12.
As imagens da selvageria cometida pelos policiais correram o Brasil e o mundo causando intensa revolta. As cenas vão desde jovens sufocados em vielas até policiais dando madeiradas em pessoas indefesas, incluindo um rapaz com muletas. Bombas, tiros de bala de borracha e disparos de armas de fogo foram usados pelos agentes de repressão durante o ataque às cerca de 5 mil pessoas que participavam de um baile funk.
Porém, as denúncias não param por aí.
Em matéria assinada por Lúcia Rodrigues, o portal Viomundo divulgou relatos de testemunhas do massacre que, em condição de anonimato, contaram que as vítimas não morreram pisoteadas como o monopólio da imprensa noticiou inicialmente. Segundo o site, os moradores afirmam que “os jovens foram muito espancados e teriam sido asfixiados pelo gás lacrimogêneo e spray de pimenta ao serem encurralados em uma das vielas da favela”.
Uma senhora contou que os corpos ficaram espalhados pelo chão, vários deles na escada que dá acesso ao beco.
“Não consegui dormir depois das cenas que vi. Foi desesperador ver o que esses meninos passaram. Os PMs bateram sem dó. Mataram na porrada e com spray de pimenta e bombas de gás. Não foram pisoteados”, revela.
“Os meninos pediam socorro, estavam passando mal. Tinha muito gás lacrimogêneo, não dava para respirar. Sete já saíram daqui mortos. Alguns estavam com os lábios roxos.”
A matéria aponta que o processo de asfixiamento pode ter sido agravado pelo fato de a viela estar localizada há mais de um metro abaixo do nível da rua e entre altas paredes. A moradora também desmente a versão policial de que os PMs perseguiam uma moto quando deram de cara com o baile funk.
“A história da moto é mentira, balela. Não tinha moto nenhuma.”
Também em entrevista ao Viomundo, outro morador igualmente contestou a versão policial.
“O que o delegado está falando é mentira. Eles já vieram determinados a matar a meninada na maldade. Encurralaram e bateram com cassetete de madeira na nuca, nas costas. Foi um massacre. […] Eles dizem que foram recebidos à bala, mas não foram”, declara.
Já Valdemir José Trindade, dirigente da associação de moradores União em Defesa da Moradia, em depoimento ao mesmo portal, trouxe a tona mais denúncias. Ele disse que vários dos feridos não estavam nem participando do baile. “A rua faz uma encruzilhada. De um lado tem o baile funk, de outro tem forró, de outro tem samba, do outro tem barzinhos”, esclarece.
O líder comunitário afirma que, dias antes do massacre, áudios recebidos por Whatsapp por moradores alertavam que a chacina estava prestes a ocorrer. “Recebemos áudios dizendo que a polícia ia fazer uma tragédia na comunidade Paraisópolis de vingança. Mas ninguém acreditou”.
Valdemir ainda criticou a a postura do governador João Doria frente ao massacre.
“O Doria mora aqui do lado, no Palácio [dos Bandeirantes]. Não adianta dizer que lamenta. Ele está dando apoio para que isso aconteça. A Polícia Militar tem uma facção miliciana.”
Soldado cancela chamado do Samu
Não bastassem todos estes relatos, testemunhas disseram que policiais militares impediram o socorro de vítimas do ataque. Informações veiculadas no próprio monopólio da imprensa afirmam que um chamado feito ao Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) por uma mulher foi cancelado por um soldado do Corpo de Bombeiros.
Os moradores relataram para um canal de TV que não puderam socorrer as vítimas e chegaram a ser ameaçadas pelos policiais caso o fizessem.
A ligação para o Samu foi feita às 4h18 do dia 1º por uma jovem, que disse ao atendente que ela e um rapaz foram agredidos pela polícia e que uma bomba havia ferido suas pernas e os olhos do rapaz. A moça também disse que testemunhou violência sexual e uso de armas de choque.
“Quando a gente chegava perto, eles [policiais] vinham com a arma para cima, tanto que chegaram até perto da minha porta. ‘É pra ficar aqui embaixo, não é pra subir’. A gente falava que queria salvar os que estavam lá. ‘Não é pra salvar ninguém’”, denunciou uma moradora.