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Caminhoneiros portugueses que trabalham na logística de materiais perigosos (transporte de combustíveis, materiais aos aeroportos, serviços hospitalares etc.) realizam uma grande greve exigindo melhores condições de trabalho, aumento na remuneração e o reconhecimento de sua atividade profissional como “específica”, desde o dia 15 de abril. A greve foi convocada pelo Sindicato Nacional de Motoristas de Matérias Perigosas e tem adesão de 100% da categoria.
A greve, apesar de recém estourada, já deixou pelo menos 3 mil postos de combustíveis (40% do total) sem gasolina ou diesel. A escassez se espalha pelas regiões metropolitanas, inclusive na capital Lisboa, e no interior. A categoria afirma que as exigências que conformam a pauta da greve são reivindicadas há pelo menos 20 anos, sempre negligenciadas pelos sucessivos governos.
O serviço de transporte aéreo foi afetado e voos foram cancelados em Faro, na região do Algarve. Já no terminal de Lisboa, o abastecimento estava abaixo do normal, impactando também em sua atividade.
O governo português do primeiro-ministro António Costa, em resposta, colocou as Forças Armadas em estado de alerta e declarou “estado de crise energética”. O despacho governamental determina que se obrigue a realizar o abastecimento de combustíveis e de serviços essenciais relacionados à segurança, socorro e emergências. O “estado de crise” obriga ainda que motoristas que forem convocados pelas “autoridades” assumam o volante e voltem a trabalhar no abastecimento de áreas tidas como “emergenciais”.
Além disso, o judiciário acatou pedido do governo e emitiu decisão na qual obriga os grevistas a manterem em circulação um contingente mínimo para abastecimento do país.
Os motoristas de materiais perigosos trabalham, segundo o sindicato, em média, de 15 a 18 horas diariamente, extrapolando as 200 horas suplementares do ano permitidas por lei. A base salarial desses trabalhadores é também baixa, inferior a 630 euros, sendo que o salário mínimo estipulado no país é 700 euros mensais. Vale recordar que Portugal é um dos países com menor salário real (poder de compra) da Europa, ficando atrás da Polônia, Eslovênia, Romênia, Turquia, Malta e praticamente empatado com a Grécia, em grave crise geral há anos.
Diferentemente do Brasil e da greve aqui realizada pelos caminhoneiros em 2018, em Portugal a greve atual é levada a termo por proletários – trabalhadores contratados e sem nenhuma propriedade – e não por pequenos proprietários, como no caso dos caminhoneiros brasileiros, que são donos de seus próprios caminhões e trabalham através do frete.