Portugal: Caminhoneiros realizam segunda greve do ano; Exército foi chamado para reprimir

Portugal: Caminhoneiros realizam segunda greve do ano; Exército foi chamado para reprimir

Está ocorrendo em Portugal a segunda grande greve dos caminhoneiros em 2019 para exigir aumento salarial e melhores condições de trabalho. Os “operários da condução” voltaram a se rebelar dando início à greve em 11 de agosto, pois o acordo firmado após a greve de abril não foi cumprido. O Exército foi mobilizado pelo governo e tem autorização para tomar o controle dos caminhões.

Pela segunda vez em 2019, caminhoneiros entram em greve. Aveiras de Cima, Portugal, 12 de agosto de 2019. Foto: Patricia de Melo Moreira / AFP

Organizada pelo Sindicato Independente dos Motoristas de Mercadorias e pelo Sindicato Nacional dos Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP), a paralisação tomará a forma de greve por tempo indeterminado até que a Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias (patronal) faça uma “proposta razoável”. 

“Até lá, vamos fazer greve por um dia, uma semana, um mês, pelo tempo que for.”, afirmou o vice-presidente do SNMMP, Pedro Pardal Henriques, responsável pela convocação da greve. Desde a tarde de domingo, cerca de 15% dos 3 mil postos de gasolina do país estavam total ou parcialmente sem combustível.  

No segundo dia de greve de caminhoneiros em Portugal, o governo do Partido Social Democrata (PSD) decretou emergência energética e mobilizou o Exército para conduzir caminhões e abastecer postos de combustíveis no país. Outra medida estipulou que grevistas possam ser presos caso não cumpram um serviço mínimo previsto pelo governo, como em hospitais, aeroportos e outros consumidores emergenciais, além de decretar funcionamento mínimo à rede de postos de combustível do país.

“Agora percebo porque é que a Antram não cumpre o que tinha dito. O governo está do lado da Antram”, afirmou Pardal Henriques. “São as petrolíferas e as grandes logísticas que mandam neste país. Os trabalhadores estão fartos de ser escravizados”.

Os motoristas lutam por um reajuste que eleve o salário, ao longo de dois anos, para 900 euros. Hoje, a base salarial da categoria é de 630 euros, num país cujo salário mínimo é 700 euros. O salário exigido, por si, já é baixo, pois Portugal é um dos países com menor salário real (poder de compra) da Europa, ficando atrás da Polônia, Eslovênia, Romênia, Turquia, Malta e praticamente empatado com a Grécia, em grave crise geral há anos. 

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Diferentemente do Brasil e da greve aqui realizada pelos caminhoneiros em 2018, em Portugal a greve atual é levada a termo por proletários – trabalhadores contratados e sem nenhuma propriedade – e não por pequenos proprietários, como no caso dos caminhoneiros brasileiros, que são donos de seus próprios caminhões e recebem através do frete.

A greve ocorrida em abril se caracterizou como o maior episódio de instabilidade industrial de Portugal em anos, por isso atualmente o governo não mede esforços em tentar aplastá-la com medidas antipovo e reacionárias.

Caminhoneiros se revoltam com ataques ao direito de greve

Em uma entrevista para o portal eco.sapo.pt, sobre a exigência do governo português de serviços mínimos a serem prestados, como em aeroportos e hospitais, assim como a ameaça da utilização das Forças Armadas caso esses não fossem realizados, os caminhoneiros demonstraram sua insatisfação com a limitação do seu direito de greve.

“Os ministros acabaram de dizer que não vivemos em democracia, vivemos numa ditadura. A greve existe só no nome e para tirar salário a estas pessoas”, reagiu o advogado que representa os motoristas. Questionado sobre se os motoristas vão cumprir os serviços, respondeu: “Vamos refletir sobre este atentado e esta barbaridade. É possível cumprir [os serviços mínimos] desde que não se faça greve”.

O advogado denunciou ainda que os serviços mínimos abranjam cargas e descargas, que apesar de na prática acabarem sendo feitas pelos motoristas, não estão previstas no contrato coletivo de trabalho. “Não recebem por fazer cargas e descargas. O governo está a decretar que estas pessoas têm de trabalhar sem receber”, disse.

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