Nos últimos dias de julho de 2024, indivíduos ligados ao Grupo 1143 — organização neonazista e etno-nacionalista portuguesa — convocaram simpatizantes da extrema-direita a participar da “primeira manifestação nacionalista da região do Minho”, ato que ocorrerá no dia 5 de outubro de 2024, data em que se completam os 881 anos Tratado de Zamora, que os extremistas reivindicam como a fundação do Reino de Portugal. Entre palavras de ordem como “Portugal é nosso e há de ser” e “nacionalidade herda-se somente pelo sangue”, vê-se um reflexo da ascensão de ideais chauvinistas, reacionários e fascistas em toda a Europa, fruto da incapacidade da esquerda social-democrata de lidar com as crescentes contradições do capitalismo.
A ascensão da extrema-direita em Portugal
Enquanto a social-democracia portuguesa, encabeçada pelo Partido Socialista (PS) e pelo Partido Social-Democrata (PSD), mostra sua incapacidade em lidar com a crescente crise do Imperialismo Europeu — que internamente pode ser observada pela crise imobiliária, aumento constante do preço dos alimentos, precarização das condições de trabalho e desemprego crescente; e externamente é vista em uma política vacilante e submissa aos interesses ianques na Europa —, a extrema-direita aproxima- se sorrateiramente das massas portuguesas. Dizem ao trabalhador que os imigrantes querem substituí-lo e destruir sua cultura; que os ciganos, negros e outras minorias étnicas se sustentam com seus impostos; que o “socialismo” destruiu a economia nacional e reivindicam de maneira cada vez menos velada o legado do ditador fascista António de Oliveira Salazar.
Embora mais de 3 milhões de portugueses (aproximadamente 33% dos cidadãos país, segundo a base de dados Pordata) sigam optando pelo boicote eleitoral, a parcela mais indecisa da população, desiludida com a esquerda eleitoreira, mas ainda crente no parlamentarismo burguês, tem cedido às investidas das alas mais reacionárias e, deste modo, acabam por fortalecer a extrema-direita.
Grupo 1143 e neonazismo
O Grupo 1143 é uma organização abertamente neonazista atuante em Portugal. Alegam possuir aproximadamente 3 mil militantes em suas fileiras e são responsáveis por ações violentas contra imigrantes, ciganos, negros e a comunidade LGBTQIAP+, atacando seus comércios, estabelecimentos e residências; pichando frases como “White Power”, “Portugal aos portugueses”, “Viva Salazar”, etc. Foi fundado no início dos anos 2000 e, com a prisão de diversos integrantes ao longo de sua primeira década de atuação, ficou inativo, retomando suas ações nos últimos 18 meses graças à cena política que empurra Portugal novamente para as garras do fascismo.
Seus simpatizantes iniciaram, recentemente, convocações para um ato que ocorrerá na cidade de Guimarães no dia 5 de outubro (feriado da Implantação da República de Portugal, mas também reivindicado por alguns extremistas como a data de fundação do Reino de Portugal), chamando apoiadores reacionários a defenderem o que nomeiam como “Reconquista de Portugal”, pautada principalmente pela violência contra imigrantes e outros grupos minoritários do país. Em resposta às investidas reacionárias, coletivos pertencentes ao Grupo de Ação Conjunta Contra o Racismo e a Xenofobia, juntamente com outros movimentos antifascistas, já iniciaram suas mobilizações e convocações para, também no dia 5 de outubro, fazerem frente ao torpe avanço fascista no Minho (mais informações sobre o posicionamento dos movimentos sociais da região serão divulgadas em www.antiracismo.org).
Imigrantes: o principal alvo da extrema-direita
Faz-se necessário realçar que a região do Minho, que abarca os distritos de Viana do Castelo e Braga, está entre as áreas que mais recebem imigrantes em Portugal, e os problemas enfrentados pelas comunidades imigratórias tem crescido na medida em que a extrema-direita avança no parlamento e na sociedade: desemprego; racismo; xenofobia e burocratização do acesso aos serviços de inserção dos imigrantes na sociedade são parte integrante de um projeto de precarização e barateamento da mão de obra deste grupo social que se encontra cada vez mais marginalizado, mesmo representando uma parte significativa da força de trabalho em Portugal (o Banco de Portugal aponta que 13% dos trabalhadores do país são imigrantes, e estes compõe 40% da mão de obra no setor agrícola e 31% no setor de serviços).
A extrema-direita – por trás dos discursos chauvinistas que inflamam o povo português contra o espantalho da questão imigratória enquanto escondem que as reais causas da crise são as contradições e a putrefação do modelo capitalista de produção – tem ciência de quê a mão de obra proveniente de povos que se encontram em diáspora graças à pilhagem capitaneada pelos imperialistas no Sul Global é fundamental para manter de pé o que ainda resta da economia europeia, por isso busca maximizar de todas as formas o lucro extraído da mão de obra dos povos vindos das colônias e semicolônias, mesmo que isso seja um sinônimo de lançá-los à irregularidade e ilegalidade.