No último dia 17 de dezembro, o povo chileno foi mais uma vez à votação de uma nova constituinte. O texto constitucional a ser votado foi elaborado pela extrema-direita do país e retomava características da constituição pinochetista, como a maior restrição sob as liberdades democráticas no país, e 55,76% dos chilenos rejeitaram o projeto da extrema-direita
Dentre as características da ‘nova’ constituição rejeitada, destaca-se a manutenção dos principais elementos da constituição pinochetista até hoje presente no país, sobretudo no que diz respeito ao incremento do aparato repressivo do velho Estado. Nas palavras do parlamentar de extrema-direita Luis Silva, do Partido Republicano, “a nova constituição é melhor do que a atual [no caso, a pinochetista] porque dá conta de um Chile muito diferente daquele de 1980; com um desafio mais urgente que é a segurança”. Como segurança, se refere ao grande levantamento de massas que ocorreu no país em 2019. O texto ainda é criticado por não tratar profundamente da questão do direito dos povos indígenas e autodeterminação de seus territórios (grave, em um país em que os povos originários estão sujeitos a grave repressão e mesmo militarização de seus territórios, como os Mapuche) e apresentar retrocessos em tópicos como o aborto, para ficar em algumas.
O povo chileno já havia recusado, em 2022, outra constituinte proposta pela esquerda oportunista do país. A proposta não mudava mais que superficialidades na Constituição pinochetista. Além disso, era fruto direto do esforço da falsa esquerda na desmobilização das grandes jornadas de protesto do Chile de 2019, durante as quais Boric e outras figuras da falsa esquerda clamaram pelo fim das rebeliões e escolha do caminho parlamentar, com promulgação de uma nova constituição. que desmobilizou desavergonhadamente as jornadas de lutas de 2019 com o discurso de “lutar por uma nova constituinte”. O resultado, como esperado, foi a ampla rejeição das massas a proposta, quando formada: 62% rejeitaram.
Não há, assim, legitimidade das massas para a velha ordem. A extrema-direita, velha conhecida do povo chileno, não tem credibilidade para voltar a açoitar as massas e submeter o país à repressão máxima e violação brutal de direitos, com submissão total da Nação ao imperialismo. A falsa esquerda, já desgastada, terminou de esfarelar-se no governo oportunista de Boric, que, dentre os fracassos, manteve o sistema de previdência privado, a militarização dos territórios Mapuche e não garantiu os direitos e melhorias nas condições de vida do povo chileno. Nos últimos anos, trabalhadores e estudantes do país voltaram a protestar pelos direitos não garantidos.
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“Não estou muito interessada na escolha. Vou votar porque é obrigatório, mas sei que não vai dar em nada, vai acabar tudo igual”, afirmou a técnica de enfermagem Paula ao monopólio de imprensa AFP durante o último dia de votação.
A rejeição de ambas as constituintes reflete um conhecido sintoma de um período revolucionário, no qual as classes dominantes não conseguem governar como antes e os debaixo não aceitam ser governados da mesma forma. O que se espera para os próximos anos é mais um ascenso da explosividade das massas por todo o país.