Amostras de águas coletadas pelas empresas de abastecimento em todo o Paraná no período de 2014 a 2017 apontam a contaminação da água por uma mistura dos mais variados agrotóxicos, muitos deles proibidos em vários países devido às diversas doenças que ocasionam. A contaminação atinge 90% dos municípios do estado.
Dos 399 municípios paranaenses pesquisados, 326 cidades, dentre eles a capital Curitiba, estavam contaminados com cerca de 27 pesticidas diferentes, além de outros agrotóxicos. Nove dos pesticidas encontrados são atualmente proibidos no Brasil, enquanto outros sete já são proibidos na União Europeia. O Paraná só perde para São Paulo na quantidade de cidades com água contaminada por agrotóxicos.
Os relatórios foram produzidos pelas empresas de abastecimento de água em conjunto com o Ministério da Saúde e estão disponíveis no Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (SisAgua) do Ministério da Saúde.
Atualmente a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) classifica 16 pesticidas como altamente ou extremamente tóxicos. Enquanto estudos diversos apontam que outros 11 pesticidas provocam os mais variados problemas de saúde, como por exemplo diversos tipos de câncer, disfunções endócrinas e malformação de bebês, entre outros.
Apesar da constatação de várias doenças causadas pelo uso de determinados agrotóxicos, principalmente de câncer, e da proibição deles em vários países do mundo, no Brasil o agronegócio e tais monopólios têm campo livre pela Anvisa. Dentre esses agrotóxicos está o caso mais notório, do glifosato, que é o veneno mais vendido no Brasil, apesar de já ter sido banido em vários países.
O glifosato é utilizado como herbicida para controle de insetos ou como agente para acelerar a colheita. É usado principalmente nos latifúndios de milho, soja, algodão, cana de açúcar entre outros. Estudos em vários países apontam o glifosato como causador de graves doenças, dentre elas depressão, diabetes mellitus, esclerose, más formações diversas em fetos durante a gravidez, doenças respiratórias, diversos tipos de câncer, entre outras doenças.
O engenheiro agrônomo e membro da Campanha Nacional Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, Leonardo Melgarejo, relata que mesmo os dados da vigilância sanitária apontam para altos níveis de contaminação. “Esses dados do Sisagua mostram que os limites de segurança estão sendo extrapolados de longe. E os métodos que temos hoje para retirar os agrotóxicos da água não são eficientes. Isso significa que precisamos repensar a forma de trabalhar para limpar a água contaminada”.
População bebe água contaminada por agrotóxico. Foto: Banco de dados AND