Thibault Camus/AP
Ocorreu, no dia 5 de dezembro, grandes manifestações durante a greve geral de tempo indeterminado contra o projeto de reforma da Previdência defendido pelo presidente Emmanuel Macron. Vários serviços como trens, aviões, escolas e hospitais ficaram quase que completamente paralisados.
O Ministério do Interior diz que 806 mil pessoas participaram dos protestos, enquanto a Confederação Geral do Trabalho (CGT) fala em mais de 1,5 milhão de pessoas, na greve que atingiu 40 cidades francesas.
Em Paris, a Torre Eiffel foi bloqueada pela polícia, se seus agentes lançaram gás lacrimogêneo contra os manifestantes, informou a Associated Press. Segundo a agência, pelo menos 87 pessoas foram presas.
Também em Paris, os manifestantes derrubaram e queimaram uma máquina de construção, e quebraram vitrines de lojas, assim como confrontaram a polícia, que atacava com gás lacrimogêneo. As “autoridades” haviam anunciado a mobilização de 6 mil policiais para a passeata em Paris.
Durante o primeiro dia da greve geral, de acordo com o portal G1, quase 90% das viagens dos trens de alta velocidade fossem canceladas. Dez das 16 linhas de metrô de Paris foram fechadas, centenas de voos foram cancelados e muitas escolas não abriram as portas.
Máquina de construção é incendiada durante protestos em Paris. Foto: Alexander Turnbull/AP
A paralisação de parte dos controladores aéreos também obrigou a Air France a cancelar 30% dos voos domésticos e 15% dos voos europeus. A empresa informou, no entanto, que todos os voos de longa distância serão mantidos. A companhia britânica EasyJet cancelou 223 voos nacionais e internacionais de curta distância.
O ministério da Educação afirmou que a greve atingiu 51,1% das creches e escolas de ensino fundamental e, no ensino médio, 42,3% dos professores aderiram à greve. Bernadette Groison, secretária-geral do FSU, o maior sindicato dos trabalhadores do setor de ensino, deu um balanço diferente. “Quase 70% dos professores do ensino básico estão em greve. Os números do ensino médio são similares. Nunca havia visto algo semelhante”, disse à AFP a secretária-geral do FSU.
Garis, advogados, aposentados e motoristas de transportadoras, assim como os “coletes amarelos” (que completou um ano de movimento em novembro de 2019), também aderiram à greve geral, que também recebeu o apoio de 182 artistas e intelectuais.
A revolta popular foi provocada pela reforma da Previdência do governo Macron, que tem como objetivo eliminar os 42 regimes especiais que existem atualmente e que concedem medidas diferentes a determinadas categorias profissionais, geralmente de risco ou de trabalho extenuante. O governo pretende estabelecer um sistema único, no qual, nas palavras do próprio governo, “todos os trabalhadores terão os mesmos direitos no momento de receber a aposentadoria”.
De acordo com a Rádio França, o projeto de reforma implica uma idade “ideal” de aposentadoria, aos 64 anos, chamada de “idade pivô” pelos franceses, que viria acompanhada de um incentivo financeiro. Quem continuar trabalhando até 64 anos, receberia um bônus na pensão; aqueles que decidirem partir aos 62 anos, receberiam uma pensão menor.
Blocos vermelhos dão caráter revolucionário à manifestação
O movimento revolucionário francês esteve presente nas manifestações da grande greve do dia 5 de dezembro. Nos blocos vermelhos, os militantes da organização de juventude Jeunnes Révolutionnaires balançaram bandeiras vermelhas com a foice e o martelo. Os mesmos jovens faziam há dias agitação e propaganda pela adesão à greve, entregando panfletos e fazendo pichações em diversas cidades, denunciando a reforma da previdência de Macron e convocando o proletariado e a juventude a se juntarem às manifestações.
Revolucionários se pronunciam sobre a greve
Declarações foram postadas durante a greve do dia 5 no portal de notícias revolucionário Cause du Peuple sobre as manifestações. Em um dos textos, os ativistas escrevem:
“Para forçar Macron a retirar sua reforma, não há 10.000 soluções: devemos estabelecer um equilíbrio de poder, devemos bloquear a economia do país, fazer a classe perder dinheiro para os poderes, a classe capitalista. Para isso, há uma arma poderosa, o ataque. A greve do transporte público paralisa as viagens das pessoas. A greve dos transportes rodoviários paralisa o transporte de mercadorias. O ataque ao porto e às docas paralisa a importação e a exportação. A greve da refinaria paralisou a produção de gasolina e, portanto, seu transporte até as estações. A greve dos professores paralisa as escolas e obriga os pais a ausentar-se do trabalho para cuidar dos seus filhos. Tudo isso faz do ataque uma arma extremamente eficaz, nas mãos do proletariado para lutar contra aqueles que o querem atacar.
Para vencer o Macron, é necessário continuar e ampliar o ataque. Para isso, temos de dar aos trabalhadores grevistas os meios para se aguentarem o mais tempo possível. Todas as massas populares, trabalhando ou não, devem se unir contra o Estado capitalista que está impondo suas reformas anti-povo. Precisamos de solidariedade entre todos os setores que lutam, porque, individualmente, somos fracos, mas, em solidariedade, a nossa determinação é inabalável. Tudo deve ser feito para criar adesão à greve, a fim de convencer aqueles que não podem dar-se ao luxo de perder o salário de um dia, a juntarem-se ao movimento.
Um movimento enorme está surgindo, um movimento como nenhum outro que vimos há pelo menos 24 anos. Temos uma oportunidade histórica de derrotar Macron e restaurar a confiança das massas populares na sua capacidade de vencer. Não percamos esta oportunidade e lancemos todas as nossas forças na batalha. A greve de hoje é muito forte, amanhã continuaremos ainda mais fortes!”