Imagem: Al Jazeera
No dia 25 de novembro, manifestantes invadiram, saquearam e incendiaram instalações da “Organização das Nações Unidas” (ONU) na cidade de Beni, no nordeste da República Democrática do Congo (RDC) ocupado por tropas estrangeiras. A ação espontânea ocorreu mesmo sob tiros dos policiais congoleses que tentavam dispersar o protesto. Indignado com a falha em conter um grupo armado que havia matado oito civis no dia anterior em resposta a ações do Exército congolês, o povo também incendiou o gabinete da prefeitura da cidade.
Nos confrontos com as forças da repressão, estima-se que pelo menos mais duas pessoas morreram e várias ficaram feridas. Um tweet da polícia local exibiu chamas saindo da janela da Prefeitura e uma fumaça preta espessa subindo.
Segundo Teddy Kataliko, ativista local, os principais alvos dos manifestantes eram os escritórios e os veículos da “missão de paz” da ONU no Congo (Monusco), consequência da fúria das massas para com a ineficácia do trabalho da ONU no país, que exigem que estas deixem o país. Mais tarde, no mesmo dia, os manifestantes se dirigiram à uma segunda base militar da ONU, mas não conseguiram atacar o local.
O correspondente do jornal Al Jazeera no país, Alain Uaykani, narrou que “os soldados da ONU estavam tentando se defender, mas foi muito difícil. Duas pessoas foram mortas ao redor da manifestação em torno do campo da ONU, que destruiu metade do muro do edifício principal da ONU”.
Imagem: Al Jazeera
O jornal também coletou entrevistas dos manifestantes presentes, em que um afirma: “Estamos protestando porque ninguém está fazendo nada para nos proteger. Todos – os soldados do governo e os soldados da ONU – falharam em nos proteger”. Outro, diz: “Fomos mortos enquanto eles [soldados da ONU] apenas observam. O que eles estão aqui para fazer?”.
Embora nenhum grupo específico tenha reivindicado para si o ataque do dia 24, a cidade de Beni está sob ataque contínuo das Forças Democráticas Aliadas (um grupo armado que opera na RDC e no país vizinho, a Uganda) desde que o Exército congolês iniciou uma campanha contra o grupo, em que mais de 60 pessoas já foram mortas.
‘Missão de paz’ é invasão mascarada
A RDC é um pequeno país centro-africano onde, em 2004, teve início uma guerra civil um ano após um golpe militar liderado pelo general François Bozizé, que foi posteriormente deposto em outro golpe de Estado, no ano de 2013. Vivendo sob uma profunda crise do seu débil capitalismo burocrático, o país é cercado por outras nações que compartilham anos seguidos de guerra civil e intervenções imperialistas, tais como o Sudão, Sudão do Sul e a República do Congo.
Devido a instabilidade que limitava o capitalismo burocrático e o saqueio semicolonial das riquezas do país, a potência imperialista da França lançou uma intervenção militar na RDC ao fim de 2013. Meses depois, em setembro de 2014, a ocupação foi apropriada pela ONU, disfarçando a invasão estrangeira com suas bandeiras brancas de “paz”. A intervenção e a ocupação imperialistas no país converteram a RDC em uma verdadeira colônia, onde hoje o povo se desfralda em fúria contra qualquer símbolo que represente essa falsa ajuda estrangeira.