Soldados do Exército e Agentes do Ibama estão atuando na Operação Verde Brasil 2, liderada pelo vice-presidente General Mourão, a operação visa a repressão aos camponeses e aos povos indígenas. Foto: Ministério da Defesa
As lideranças da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) denunciam o início da contaminação por Covid-19 no território indígena Parque do Tumucumaque após militares que atuam na região infectarem os demais. As lideranças indígenas denunciam que os primeiros casos com diagnóstico confirmado trabalhavam em uma empresa terceirizada de limpeza da Força Aérea Brasileira (FAB).
Conforme boletins epidemiológicos da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) do Ministério da Saúde, até 8 de junho, apenas no Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Amapá e Norte do Pará já são 117 casos confirmados; não houve óbitos. Nove povos indígenas distribuídos em cerca de 63 aldeias moram no DSEI. Apenas na região da base militar são cerca de 23 casos confirmados, dentre eles uma indígena grávida de 5 meses transferida em estado grave para Macapá (AP).
A região está localizada no extremo Norte na fronteira do Amapá com o Pará e Suriname. O acesso à região se dá apenas por via aérea. Cerca de 50 militares do Exército e da FAB atuam no 1º Pelotão Especial de Fronteira (1º PEF) localizada a cerca de 10 km do Suriname e aproximadamente 940 km em linha reta de Belém/PA.
Uma das lideranças indígenas da Coiab, Angela Kaxuyana, que mora na região de Missão Tiriyó, denuncia que os primeiros casos confirmados foram de indígenas da aldeia Missão Tiriyó, além disso ela relata que um militar foi removido da região em estado grave para Belém/PA, relata também preocupação com a Terra Indígena Paru d’Este, que está abaixo de Tumucumaque. “Com certeza, os militares levaram. O que nos preocupa é que os indígenas tiveram contato com as outras aldeias do entorno. Há uma possibilidade de ter um número muito maior. As aldeias mais distantes têm interligação, eles visitam a família, transitam”, afirma.
A liderança também denuncia que a situação é agravada pelas precárias condições da Sesai que reflete diretamente na atenção primária do DSEI. “A aldeia está com um técnico de enfermagem do DSEI, um profissional indígena e um padre que está correndo pra cima e pra baixo. Não tem uma equipe que está fazendo frente a essa situação”.
Associada a isso há também negligência das Forças Armadas com a situação. Em nota ao monopólio de imprensa o Ministério da Defesa afirma: “Não é possível afirmar, com segurança, a origem do contágio na região, sendo, contudo, muito pouco provável que seja a transmissão por militares da Força Aérea Brasileira”.