Foto: Adriano Machado/Reuters
Terminou no dia 26 de abril, em Brasília, o 15º Acampamento Terra Livre, a maior conferência indígena do Brasil. A mobilização contou com a participação de mais de 4 mil lideranças de todas as regiões do país, e buscou chamar a atenção da sociedade para a institucionalização do genocídio dos povos indígenas, principalmente após a chegada ao poder do governo de Jair Bolsonaro, tutelado pelo Alto Comando das Forças Armadas.
Reivindicando os seus direitos constitucionais, como o direito ao território e o direito de viver de acordo com o seu modo de vida tradicional, o evento ganhou um caráter de resistência depois que Bolsonaro acusando-o de ter sido financiado com dinheiro público, numa clara tentativa de jogar a opinião pública contra os indígenas. Não satisfeito, ele insuflou o confronto ao mandar o seu ministro de estimação, Sergio Moro, a autorizar o uso da Força Nacional na Praça dos Três Poderes e a Esplanada dos Ministérios, local em que ocorreria o evento. Temendo o pior, mulheres e crianças não participaram da conferência deste ano.
Esse receio parecia se confirmar logo no primeiro dia, quando a Polícia Militar do Distrito Federal obrigou as delegações a se deslocarem para a Praça dos Ipês, ao lado do Teatro Nacional, para montarem o acampamento. Apesar do clima de tensão, dessa vez não houve confronto com os agentes do velho Estado, e no último dia de mobilização a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e a Mobilização Nacional Indígena do Brasil (MNI) divulgaram o documento base do ATL 2019, onde acusam o novo governo de turno Bolsonaro/Alto Comando de querer exterminar os povos indígenas ao criar medidas que atacam frontalmente os seus direitos. Uma delas é a Medida Provisória 870/19, que pretende inviabilizar o reconhecimento e a demarcação de terras, agora sob a responsabilidade dos latifundiários do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Outra medida é municipalização da política de atenção básica à saúde indígena, que foi temporariamente suspensa após a contundente reação da sociedade.
O documento diz ainda que o governo de Bolsonaro tem assumido um discurso de ódio, integracionista, reafirmando a narrativa de que eles não precisam de território, a não ser que sigam o caminho do agronegócio ou arrendem seus espaços de vida, o seu lugar de pertencimento. Essas afirmações foram veementemente rebatidas no documento divulgado pelos povos indígenas, que colocaram também o compromisso de fortalecer os laços com todos os setores da sociedade, do campo e da cidade, que estão sofrendo com a perda de direitos historicamente conquistados.
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