PR: Entrevista com mãe de Willian Davidson, jovem assassinado pela Polícia Militar do Paraná

Em 2021, Willian Davidson foi assassinado pela PM do PR sob alegação, sem provas, de confronto. Outros indícios presentes na cena apontam que Willian foi executado. Desde então, sua mãe luta por justiça.
Comitê de Apoio entrevistou Julie David, mãe do jovem assassinado pela PM do PR, William Davidson. Foto: Banco de Dados AND

PR: Entrevista com mãe de Willian Davidson, jovem assassinado pela Polícia Militar do Paraná

Em 2021, Willian Davidson foi assassinado pela PM do PR sob alegação, sem provas, de confronto. Outros indícios presentes na cena apontam que Willian foi executado. Desde então, sua mãe luta por justiça.

Em 2021, Willian Davidson foi assassinado pela Polícia Militar (PM) do Paraná (PR) sob alegação, sem provas, de confronto. Outros indícios presentes na cena apontam que Willian foi executado. Desde então, sua mãe Julie David luta por justiça pelo assassinato de Willian. Julie faz parte do grupo Justiça e Paz, que é composto por mães que tiveram seus filhos assassinados pela polícia, e realizou uma entrevista com o Comitê de Apoio ao AND de Curitiba e Região falando sobre o assunto.

Willian tinha 28 anos quando foi assassinado. Em maio de 2021 foi a um encontro em uma chácara para rever amigos que não via há anos, naquele dia, a polícia invadiu o local e, supostamente, o confundiu com um jovem que teria cometido um furto na semana anterior, então o perseguiu e o matou, alegando que havia ocorrido um confronto.

William Davidson foi confundido, torturado e executado por PMs. Foto: Banco de Dados AND

Quando questionada sobre a forma como seu filho morreu, Julie declarou que “no boletim de ocorrência falam que meu filho morreu em uma determinada posição e que a arma não pôde ser periciada, mas não tem como isso ser verdade, o boletim de ocorrência foi totalmente fraudulento. Ele morreu com um tiro na cabeça, morreu segurando um mato na mão, essa foi a arma do meu filho, um mato na mão. Isso parece confronto para vocês? Um jovem torturado com um mato na mão?”.

Sobre a alegação da PM a respeito do conflito que levou a morte de Willian disse que “ele foi torturado, isso parece confronto para vocês? Ele levou um tiro no coração e na cabeça que não apareceram nos laudos. […] Ele já tinha se rendido e foi arrastado até a linha do trem e torturado. Ele já tinha sido rendido, ele tinha que ter sido preso. Porque, se ele fosse preso, teria sido averiguado que na sexta-feira do crime que ele foi acusado e colocado no boletim de ocorrência como ladrão, ele não estava nem na cidade, estava com a esposa em outro local”.

Julie também destacou que no dia do ocorrido “ele estava no lugar errado e na hora errada, mas se a lei do nosso país tivesse sido feita, que é prender e averiguar, meu filho estava vivo. Vocês viram aqui que mataram um inocente!”.

Leia também: PR: 488 pessoas foram mortas pela Polícia Militar do Paraná em 2022

Atenção: As imagens abaixo possuem conteúdo sensível

O CdA perguntou como o monopólio de imprensa tratou o assassinato de seu filho, ao que Julie respondeu: 

— O que botaram na mídia do meu filho, foi que ele era um ladrão de residência, que estava armado e colocou a vida dos policiais em risco. Com um mato na mão?!? A arma que ele morreu foi um mato na mão! Colocaram isso nas redes sócias e em canais de televisão e todo mundo aplaudiu. Todo mundo acredita no que a mídia coloca. Você já parou para pensar se tudo o que a mídia coloca é verdade? Eu tenho aqui que não é verdade, nem os laudos, nem o boletim de ocorrência foram verdade. 

Questionada pelo CdA sobre o culpado pela morte de seu filho, ela apontou que: 

— Vamos começar lá em cima? O Estado. Eu acho que se os nossos policiais fossem mais preparados para cumprir o papel deles e fizessem a coisa certa, meu filho seria preso, seria averiguado que ele é inocente e hoje ele estaria vivo. Teve vários envolvimentos na morte do meu filho? Teve. Mas o principal culpado é o Estado que não está trabalhando na consciência dos policiais, eles estão perturbados emocionalmente, eles precisam ser afastados e receber tratamento. Tem que por policiais qualificados, policiais preparados para cumprir a lei do nosso país, e se eu não me engano, a lei ainda não é a pena de morte. 

Julie faz parte do grupo Justiça e Paz e relatou um pouco sobre ele: 

— É um grupo de pessoas que me acolheram, mas é um grupo muito doído e eu gostaria que nenhuma mãe estivesse nele. É um grupo de mães que tiveram seus filhos arrancados de uma forma cruel, da mesma forma que eu tenho a minha história, tem outras mães também com relatos disso para pior. A gente se juntou, não para que traga os nossos filhos de volta, porque isso não vai acontecer nunca, mas para que esse grupo diminua, mas infelizmente ele está aumentando. Nesse grupo estamos na mesma luta e na mesma dor, eu sou muito grata a ele, é onde eu posso me expressar e outras mães também. Quando fazemos nossos eventos e eu vejo aquele mural de varal com vários meninos, aquilo me dói na alma, eu vejo naquele varal não só a história do meu filho, mas a história de vários jovens que foram ceifados e penso o que eles poderiam ser se estivessem vivos. O que aconteceu ali foi que o Estado tirou a chance de defesa desses jovens buscarem uma vida melhor. 

Julie ainda pontuou “estou nessa luta, não fecho a minha boca e não tenho medo, enquanto estiver viva vou lutar pelo meu filho e por outros meninos”.

No ano de 2022 a Polícia Militar do Paraná foi responsável pela morte de 488 pessoas, sendo que mais da metade delas eram jovens. Durante 2023 vários protestos contra a violência policial sacudiram o estado, sendo os mais expressivos na cidade de Londrina e Curitiba.

Leia também: Familiares de mortos pela polícia intensificam protestos no Paraná

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