Nesta semana, estudantes do Instituto Federal do Paraná (IFPR) realizaram diversas mobilizações contra problemas estruturais no prédio da instituição e a falta de direitos estudantis básicos. Segundo os estudantes, apesar do prédio ter sido construído no ano passado, diversos problemas já estão acumulados.
Há vasos sanitários quebrados, corrimãos fora do lugar, infiltrações, vidros quebrados e falta de funcionários para limpeza e manutenção da universidade. Outro problema que é sensível aos estudantes é o problema da climatização. Apesar do ar-condicionado já ter sido comprado para metade do prédio, está há meses guardado, aguardando a morosa instalação. A outra metade dos equipamentos sequer foi comprada e o processo se arrasta vagarosamente sem nenhuma perspectiva de ser resolvido.
Mas a principal reclamação dos estudantes é a falta de alimentação gratuita no campus. Os estudantes denunciam que passam muitas horas no IFPR e não tem dinheiro para comprar lanches, sendo obrigados a passarem muitas horas sem comer. Denunciam também a falta da comunicação da direção do IFPR com os estudantes. Eles afirmam que a nova obra em andamento, iniciada sem comunicar aos estudantes o que seria, só foi depois de muito tempo descoberta como um refeitório, e não um restaurante universitário.
Esses problemas, acumulados ao longo de um ano, estouraram neste mês após uma tempestade estilhaçar uma das janelas que estavam abertas pela falta de climatização. O aluno Emanuel Batista ficou ferido no acidente e precisou ser socorrido pelos estudantes. A sala com o vidro quebrado, com o chão ensanguentado e o estudante ferido foram a gota d’ água para os estudantes, que se revoltaram e logo iniciaram as mobilizações.
Estudantes resolvem necessidades com as próprias mãos
As mobilizações se iniciaram esta semana. Diversas assembleias ocorreram no dia 17 de agosto entre os estudantes do ensino médio técnico, com apoio dos professores, para definir os rumos da luta. Os estudantes montaram barricadas em salas de aula para garantir que a escola fosse ficar paralisada no dia da mobilização. Nesta assembleia os alunos ironizaram a contradição da consideração da IFPR ser instituição de “alto nível”, “elite”, mas com esses problemas tão básicos e gritantes de estrutura e falta de alimentação. Nesse mesmo dia, vários cartazes foram colados pelo prédio, denunciando todos esses problemas e convocando os demais estudantes para a luta.
Dois dias depois, os estudantes fizeram um “panelaço” dentro da instituição, exigindo a alimentação para a direção, pedindo melhorias no prédio e angariando grande apoio dos demais estudantes. Esta luta também acabou se somando ao dia nacional de luta convocado pela Executiva Nacional dos Estudantes de Pedagogia (ExNEPe) contra o “Novo Ensino Médio”, medida que também foi denunciada pelos estudantes como outra forma de precarização brutal do ensino público.
No dia seguinte, 20/10, os estudantes organizaram um almoço gratuito para todos os estudantes do campus. O prédio não conta com fogão, então os alunos preparam as suas comidas em casa e levaram para o IFPR. Tudo foi feito com muita organização: foram separadas marmitas, suco com gelo e os estudantes que manejavam a comida estavam com toucas descartáveis, prezando pela higiene. Além disso, para conseguir a marmita era preciso antes pegar um ticket com outro estudante. A mensagem ficou clara a partir da fala de um estudante: “se nós conseguimos fazer esse almoço, por que o IFPR não consegue fazer para nós?”. A mobilização foi tão massiva que chamou atenção até mesmo do monopólio de imprensa, que visitou a escola nos dias 19/10 e 20/10.
Os discentes deixaram claro para a reportagem do AND o seu grande ânimo de luta e vontade de continuar se mobilizando até que sejam atendidas as reivindicações. Eles apontam ainda que se trata de um momento favorável para mobilização, pois paralelamente ocorre a eleição de campus para eleger o reitor. Por fim, deixaram claro que suas mobilizações são independentes e não apoiam nenhum candidato e simplesmente reivindicam o mínimo para ter garantido o seu direito de estudar, ensinar e aprender.