Na tarde do dia 26 de julho, oito camponeses morreram, 11 ficaram feridos e um ainda está desaparecido após a explosão de um silo na “cooperativa agroindustrial” C. Vale, localizada em Palotina, no oeste do Paraná (PR). A explosão ocorreu enquanto os trabalhadores tentavam desobstruir um dos dutos da estrutura de armazenamento. O monopólio latifundiário C. Vale é considerada a 2° maior cooperativa do Paraná e a 5° maior do “agronegócio” na região sul do Brasil. A empresa faz parte do setor que tem recebido vultosos investimentos do governo oportunista de Luiz Inácio desde o início do ano.
A causa da explosão ainda não foi confirmada. Contudo, de acordo com uma entrevista do engenheiro agrícola e engenheiro de segurança do trabalho Valdir da Cruz de Oliveira ao monopólio de imprensa G1, explosões de silos geralmente estão relacionadas à falta de manutenção e limpeza adequada nos equipamentos nos quais os trabalhadores são forçados a trabalhar. Acúmulo de pó, confinamento do local sem ventilação, e faíscas liberadas por equipamentos sem manutenção são algumas das condições geradas pela precarização dos equipamentos, afirma Valdir.
Até agora, os trabalhadores mortos foram os haitianos Michelet Louis, de 41 anos, Jean Michee Joseph, 29, Jena Ronald Calix, 27, Donald ST Cyr, 24, Wicken Celestin, 55, Eugênio Metelus, 53, Reginald Gegrard, 30, e o brasileiro Saulo da Rocha Batista. Além disso, 11 trabalhadores estão feridos, sendo nove deles em estado grave. Um trabalhador ainda está desaparecido e se encontra soterrado sob 10 mil toneladas de milho.
Histórico de matança
Esse não é o primeiro caso de trabalhadores mortos em silos da Cooperativa C. Vale. Em 2017, em meio a uma supersafra do “agronegócio” similar à deste ano, os camponeses Edgar Jardel Fragoso Fernandes e João de Oliveira Rosa foram soterrados por grãos de soja enquanto desobstruíam um duto de armazém em São Luiz Gonzaga, Rio Grande do Sul. Os dois morreram asfixiados em poucos segundos.
Problema estrutural
Em verdade, a matança de camponeses em silos precários e sem manutenção é um problema generalizado no latifúndio brasileiro, revelador da essência do chamado “agronegócio industrial”, ou “agroindústria”. Apesar do velho Estado brasileiro não fornecer estatísticas oficiais precisas sobre o número de mortes desses trabalhadores em armazéns de grãos no Brasil, reportagens e levantamentos demonstram o aumento da frequência desses números nos últimos anos. A elevação é ainda correspondente com o próprio crescimento do “agronegócio” e os sucessivos recordes do setor, erguidos justamente sobre a exploração máxima da massa camponesa.
Um levantamento feito pelo monopólio de imprensa BBC revela que entre 2009 e 2018 ao menos 106 pessoas morreram em silos de grãos no Brasil, a maioria delas por soterramentos. O mesmo levantamento demonstra que o alto número de vidas ceifadas pelas relações precárias de trabalho impostas pelo “agronegócio” tem aumentado. Em 2017, 24 mortes em silos foram registradas, um aumento de 140% em relação ao ano anterior. Em 2018, foram 13 mortes somente nos sete primeiros meses do ano.
Nesses anos, o índice de mortes acompanhou os lucros do latifúndio. Em 2017, o município de Sorriso, no Mato Grosso, concentrou, ao mesmo tempo, o maior valor de produção agrícola (R$ 3,2 bilhões) e o maior número de mortes em silos.
O recente acidente demonstra que o problema ainda não foi resolvido e segue a se agravar. Com a extrasafra deste ano e os incentivos robustos dados pelo governo de Luiz Inácio ao “agronegócio industrial”, sobretudo por meio do Plano Safra, a tendência é a manutenção e o agravamento das relações precárias e até semifeudais de trabalho impostas aos camponeses, com vistas à taxas de lucro ainda maiores.