Mulheres e crianças indígenas com o artesanato. Foto: Sandra Nodari
Cercados de promessas e traições, indígenas Kaingang e Guarani ocupam desde 10 de dezembro os arredores do Palácio da Araucária e da prefeitura de Curitiba, capital do estado do Paraná, exigindo a reabertura da Casa de Passagem Indígena (Capai).
O protesto foi iniciado por cerca de 30 indígenas, entre eles 10 crianças. Atualmente há mais de 50 famílias no local e este número tem aumentado a cada dia. O AND visitou a ocupação que agora migra para um espaço próximo ao Palácio do Iguaçu.
As primeiras famílias a ocuparem denunciam que estão desde o dia 04/12 desabrigadas após percorrerem quase 400 km até a capital, entretanto este foi apenas um dos casos de negligência. Desde março de 2020, a Capai está fechada sob a alegação do advento da pandemia de Covid-19. Isto deixa as famílias que buscam atendimento na capital desamparadas.
A Capai é um espaço de direito garantido que costumava abrigar os povos originários advindos do Paraná e Santa Catarina para a venda de artesanato nas ruas e feiras durante os períodos de festividade. Esse local é administrado pela Fundação de Ação Social de Curitiba (FAS), cuja ignorância e desprezo com as demandas dos povos indígenas vem sendo denunciada pelas famílias.
A primeira família Kaingang de cinco pessoas a vir durante o período de julho deste ano a Capai foi completamente desassistida. Segundo denúncias, a responsável pela Casa de Passagem tecia uma série de desculpas esfarrapadas para a não reabertura e oferecia até mesmo soluções frágeis e violentas, como a separação das famílias.
Em 16/12, o Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR) intermediou as exigências de abertura da Capai feita pelos indígenas ao facínora Rafael Greca, prefeito da cidade, porém nenhuma solução foi proposta pelos responsáveis institucionais e as famílias vindas do interior do estado, com crianças e mulheres grávidas seguiam sendo destinadas às ruas frias da capital. A Superintendência Geral de Diálogo e Interação Social (Sudis) afirmou que ofereceu verba para o retorno do funcionamento da Capai e que a prefeitura negou.
Conjuntamente, a FAS (sarcasticamente intitulada como “FAS de conta” pelos manifestantes) segue tentando evitar resoluções à situação e esforçando-se para invisibilizar os protestos ali realizados.
A vitoriosa ocupação surge em meio a festividade natalina que se intitula “Paz, Luz e Gratidão”, evento promovido pela prefeitura. Foi relatado que a Guarda Municipal têm sido utilizados para que as demais pessoas não vejam a ocupação.
Apesar desses ataques constantes e a negligência intencional da Prefeitura de Curitiba, os indígenas se mantêm firmes em seu espírito guerreiro. Os povos durante a ocupação entoam a certeza de que permanecerão até que se aponte uma solução e que, se necessário, abrirão no meio do centro, coração do estado do Paraná, uma grande aldeia.
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Manifestação de apoio e campanha Casa de Passagem, Já! Foto: Julio Carignano
Acampamento e artesanato. Foto: Reprodução