Faixa exige justiça e repudia o assassinato do indígena Demilson Ovelar Mendes. Foto: Reprodução.
O indígena Demilson Ovelar Mendes, de 28 anos, foi executado durante a noite quando retornava para a sua casa, no dia 14 de novembro. Demilson vivia na aldeia Tekoha Jevi localizada no município de Guaíra, no oeste do Paraná.
Pertencente à etnia Avá-Guarani, Demilson saiu durante a tarde com destino ao bairro Vila Eletrosul, que fica a um quilômetro e meio da sua casa. Às 17h, foi abordado por dois rapazes de moto com quem foi visto pela última vez. Aproximadamente três horas depois o corpo do rapaz foi encontrado a 500 metros do bar, no meio de uma plantação de soja, com marcas de pedradas e pauladas.
Ilson Gonçalves, cacique da Tekoha Y Hovy, aldeia mais próxima do local onde aconteceu o crime, declarou em entrevista para o portal De olho nos Ruralistas que avistou viaturas e uma ambulância passar em direção à plantação de soja, por volta das 20h.
O cacique considera estranho a polícia ter encontrado o corpo muito rápido. “Podemos entender que alguém chamou a ambulância e a polícia, uma vez que o local do delito não foi na rua, à vista de todos”, afirma. E prossegue: “Ou seja, há testemunhas, embora ninguém tenha dito o que viu”.
Um grupo de indígenas da aldeia Tekoha Y Hovy ocupou o lugar da morte de Mendes com faixas e barraco exigindo justiça. Ao retornarem à ocupação, na manhã do dia 18 de novembro, os indígenas Gilberto Kunomi Reko e seu tio, Wilfrido Benitez Espindola, foram atacados por um latifundiário. Além de incendiar as faixas e barraco, o latifundiário apontou uma pistola para a cabeça de Reko, ameaçando de morte os que insistissem com protestos.
Outro ataque aconteceu há três semanas quando a casa do cacique da Tekoha Y Hovy, Gonçalves, foi alvejada. Em novembro do ano passado, o indígena Ava-Guarani Donecildo Agueiro também sofreu um atentado a tiros quando deixava reunião com a Coordenação Técnica Regional da Fundação Nacional do Índio (Funai) e ficou tetraplégico.
Ainda em entrevista ao portal De olho nos Ruralistas, Clovis Brighenti, professor de história da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila) que acompanha de perto a situação dos indígenas, afirma: “Não podemos chamar o que acontece em Guaíra de conflitos. Os guarani estão sendo massacrados pela ação dos fazendeiros”.
Indígenas despejados lutam por suas terras
Na região, a luta indígena tem se elevado, especialmente contra os despejos de suas terras tradicionais em benefício dos monopólios econômicos e das grandes construções, como a Usina Binacional de Itaipu.
Assim como o Tekoha Jevy onde habitava o jovem, existem mais 14 tekohas somente nos municípios de Guaíra e Terra Roxa. Estas são decorrência da luta que se deu em 2004, quando, através da retomada, foi fundado o Tekoha Marangatu nas margens do rio Paraná, em território que foi posteriormente reivindicado como área de preservação pela Usina de Itaipu. Porém, de acordo com a sentença da ação, foi negada a reintegração de posse do território.
Contra as 14 aldeias há pelo menos um pedido de reintegração. A morosidade na demarcação é alvo de denúncias dos defensores dos direitos indígenas e os impasses jurídicos para a realização das demarcações já se arrastam há 15 anos.
A resolução dos problemas incidentes nas aldeias são resolvidos através de combativas ações. Uma liderança do Tekoha Marangatu, no Relatório Sobre Violações de Direitos Humanos Contra os Avá Guarani do Oeste do Paraná, diz que “tivemos que ir na ponte fazer manifestação”. Ela prossegue: “Fechamos a ponte três vezes. Também fechamos a balsa aqui na Receita Federal. Levamos ameaça da Polícia Militar, da Polícia Civil e dos carreteiros. Lutamos bastante pra conseguir”.
O relatório contextualiza a violência que atinge os Ava-guarani atualmente como diretamente relacionada às violações causadas pela construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu, obra que desalojou diversas comunidades, subsidiou a Ação Cível Originária (ACO) 3300 onde se exigia que União e Itaipu Binacional fossem responsabilizadas e atuassem no sentido de mitigar os danos causados e impedir que continuem a acontecer.
O Procurador-Geral de República, o reacionário Augusto Aras, pediu a extinção da ação, mas os indígenas seguem reivindicando sua participação no processo para que possam ser ouvidos pelo poder judiciário.