No dia 10 de março, em Curitiba (PR), centenas de estudantes e trabalhadores realizaram uma nova manifestação contra o aumento da passagem e em exigência do passe livre. O ato foi convocado pela Frente de Luta Pela Tarifa Zero, recentemente criada com o intuito de lutar contra o repentino aumento da tarifa de ônibus (que passou de R$ 5,50 para R$ 6,00) ocorrido na capital paranaense no final de fevereiro.
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O ato teve início na Praça Rui Barbosa, na região central da capital paranaense. Um panfleto distribuído no local denunciou o cartel do transporte curitibano, encabeçado pela Urbanização de Curitiba (Urbs) e a família Gulin, apontando que “a cada ano dizem melhorar a qualidade dos transportes com esses acréscimos a conta-gotas, mas o que temos visto é uma verdadeira fartura dos tubarões do transporte que, além de arrancar nossos trocados todos os dias, são beneficiados com gordos subsídios anualmente pelo governo e pela prefeitura, e só neste ano vão ganhar 206 milhões de reais! Para onde vai esse rio de dinheiro? Para o transporte público que não!”. O mesmo texto também citava a redução da frota de ônibus (que ocorre desde 2017), a extinção ou mudança de itinerário de linhas, a superlotação em horários de pico, a demissão de cobradores (obrigando motoristas a cumprirem dupla função), dentre outros fatores que evidenciam a situação de precarização do sistema de transporte público.
Povo de Curitiba se levanta contra o aumento da passagem
Dirigindo-se às estações tubo da Praça Rui Barbosa, parte dos manifestantes pulou e abriu as catracas (o famoso “catracaço”) possibilitando que dezenas de trabalhadores e demais usuários do transporte público tivessem acesso aos ônibus sem a necessidade de pagar o abusivo preço da passagem. Ao lado da estação expôs-se uma faixa com a consigna R$ 6,00 é roubo! Passe livre já!, assinada pelo Centro Acadêmico de Pedagogia (Caped) da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Apesar da tentativa de alguns policiais militares de impedir o catracaço, os manifestantes permaneceram no local e entoaram palavras de ordem combativas até o momento em que saíram em protesto até a Praça Carlos Gomes, marchando através das ruas e canaletas.
Ao longo do caminho foram registrados diversos episódios de apoio das massas populares, que filmara, fotografaram, incentivaram e até mesmo se juntaram à manifestação. Em entrevistas ao Comitê de Apoio ao AND, diversos trabalhadores demonstraram sua insatisfação e repúdio ao aumento da tarifa, afirmando que “já tava caro, agora ficou pior ainda”, “pegaram a gente desprevenido mudando de um dia pro outro, esse preço da passagem nem todo mundo tem condições de pagar” e “R$ 6,00 a tarifa é um absurdo, que democracia que a gente vive?”. Houve também declarações estimulando a manifestação, tais como “é o primeiro passo, não dá pra ficar quieto e ir aceitando” e “apoio demais isso daí, o governo é podre independente se é do país, do estado ou essa prefeitura, é tudo a mesma coisa”.
Nas estações tubo da Praça Carlos Gomes foi realizado outro catracaço, o qual foi prontamente rechaçado por agentes do Grupo de Operações Especiais (GOE) da Guarda Municipal (GM) que buscavam afastar e dispersar os manifestantes. Contudo, a GM viu seu esforço em interromper a manifestação falhar vertiginosamente, visto que o protesto continuou de maneira ainda mais enérgica em direção ao Terminal Guadalupe.
No restante do percurso, mesmo seguidos por uma série de viaturas do GOE e da Polícia Militar (PM), os manifestantes iluminaram as ruas com sinalizadores e fizeram ressoar ainda mais alto palavras de ordem como Esse aumento não vai ficar assim, o povo tá pagando pelo lucro dos Gulin!, Fecha, fecha, fecha o terminal, pula a catraca e faz greve geral! e Só vai mudar quando o povo controlar, tarifa zero quando? Tarifa zero já!.
Após mais um catracaço nas estações tubo da rua João Negrão, os manifestantes reuniram-se em frente às filas de espera dos ônibus no Terminal Guadalupe e repetiram em jogral:“Mais uma vez, a máfia do transporte de Curitiba rouba o povo com esse aumento criminoso da passagem para R$ 6,00. Cabe aos jovens, estudantes e trabalhadores se rebelar contra esse aumento criminoso, realizar manifestações, panfletagens, catracaços, para demonstrar a todo o povo que é somente através da luta que derrotaremos o aumento da passagem e conquistaremos a tarifa zero!”.
Manifestantes enfrentam truculência policial
A grande manifestação de 10/03 evidenciou a movimentação de um grande efetivo de forças policiais e agentes de “segurança pública” por parte da prefeitura, com dezenas de viaturas do GOE, GM e PM posicionando-se com antecedência em cruzamentos entre vias e nos locais percorridos durante o ato (praças e terminal). Algumas viaturas também foram destacadas para seguir os manifestantes no decorrer de todo o trajeto, permanecendo às suas costas caso fosse necessário cercá-los. Além disso, os agentes que em algum momento interviram individualmente estavam fortemente equipados.
À frente do Terminal Guadalupe, um comboio policial fechou a rua João Negrão assim que os manifestantes chegaram ao local. Uma estudante chegou a ser rendida pela PM quase ao término do ato, porém foi solta assim que se repetiram em uníssono os dizeres Não acabou, tem que acabar, eu quero o fim da Polícia Militar! e Polícia fascista, Estado terrorista!
Mais recentemente, em 16/03, estudantes compareceram num evento no Passeio Público que contava com a presença do prefeito Rafael Greca. Entretanto, conforme relata a Frente de Luta Pela Tarifa Zero, o episódio “terminou com agressividade por parte da Guarda Municipal com manifestantes que exigiam serem ouvidos”.
Nova manifestação ocorrerá no dia 24/03
Um panfleto assinado pela Frente de Luta Pela Tarifa Zero anunciou uma nova manifestação marcada para a próxima sexta-feira, 24 de março, às 18:00 na Praça Rui Barbosa. Em nota publicada no Instagram (@frentepelatarifazero), a mesma Frente declarou: “Até quando aguentaremos o sucateamento de tudo que é público e a privatização de nossos direitos? Até quando acharemos normal o prefeito decidir sobre nosso futuro e cotidiano em jantares caríssimos com empresários? A denúncia precisa e está sendo feita. Mas, para a efetiva mudança desse contexto que vivemos, ainda há muito chão. Por isso convidamos todos para nosso próximo ato.A luta é o que muda, o resto só ilude!”.