A região da cidade de Londrina atingiu, no ano de 2021, o maior número de assassinatos policiais dos últimos cinco anos. Dados do Ministério Público do Paraná de julho deste ano revelam que 230 pessoas foram mortas por policiais entre 2017 e 2021, 13,4% do total do estado, apesar de abrigar apenas 6,4% da população paranaense.
De acordo com a Rede Lume de jornalismo, em 2020, Londrina apresentou o 12º maior número de assassinatos policiais entre os mais de 5,5 mil municípios brasileiros. A letalidade em Londrina naquele ano foi maior que na maioria das capitais brasileiras.
Além disso, o número de mortes durante ações das forças de repressão no Paraná vem crescendo nos últimos anos. Em 2017, foram 275 óbitos. Em 2018, foram 327. Em 2019, houve uma queda para 307, mas o número voltou a aumentar para 380 em 2020 e 417 no ano passado. No total, são 1.706 vidas ceifadas pela polícia do Paraná em cinco anos, representando um crescimento de 52% em cinco anos. A esmagadora maioria das vítimas são civis, e não policiais. Este é um aspecto da guerra civil reacionária contra o povo brasileiro.
O modus operandi das polícias
Falando sobre o aumento das execuções policiais em Londrina num evento de balanço de três anos de atividade da PM, o comandante do 5º Batalhão da Polícia Militar de Londrina, tenente-coronel Nelson Villa atribuiu o alto número de mortos pela polícia à “eficiência dos policiais” na luta contra o “crime violento”.
Uma vez declarada pelos próprios policiais assassinos que como “confronto” contra o “crime violento”, os assassinatos policiais são enquadrados enquanto “excludente de ilicitude” ou “auto de resistência”, dando, na prática, carta branca para as polícias perpetuar a matança de pobres no Brasil enquanto política de Estado.
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Desta forma, são legitimados pelo velho Estado brasileiro os esculachos, as prisões e os assassinatos realizados por policiais. A ação de policiais de forjar flagrantes com drogas e armas tomadas pela polícia em outras circunstâncias é escondida, de modo que as execuções policiais são justificatidas por falsos “confrontos”, para os quais frequentemente não são apresentadas evidências reais, como testemunhas, perícias de balas disparadas contra a polícia, ou policiais feridos.
A humilhação e o desrespeito com as vítimas continua quando o monopólio da imprensa, que converge com a polícia e lhes dá apoio e exaltação sensacionalistas, reforça o coro reacionário de que as vítimas são “criminosos”, sem qualquer prova sem ser a palavra mentirosa dos policiais envolvidos e do delegado que vai acobertar o crime de assassinato. Os verdadeiros criminosos são os mandantes destas expedições punitivas (o velho Estado brasileiro), que além de matarem inocentes em cada operação policial, leva terror reacionário para os moradores.
Tudo isso é rechaçado pelas próprias massas que, entrevistadas pelo Comitê de Apoio ao AND de Londrina (PR), resgatam as histórias por trás dessas execuções e revelam a brutalidade do velho Estado brasileiro, assim como contestam as mentiras antipovo contadas pelo monopólio de imprensa.
Assassinado por “engano”
Fábio, trabalhador executado que teve flagrante forjado pela polícia. Foto: Reprodução
O Comitê de Apoio ao AND de Londrina (PR) entrou em contato com Carol, esposa do trabalhador Fábio que foi assassinado por policiais militares do Batalhão do Choque “por engano”, em 15 de março deste ano, confundido com um “suspeito”.
Logo após o assassinato de Fábio, os policiais, junto dos monopólios de imprensa reacionários, começaram uma campanha de difamação contra o trabalhador, alengando que ele portava uma pistola e era envolvido com o tráfico de drogas. Entretanto, Carol denuncia o caso como violência policial contra um trabalhador inocente, afirmando que os mesmos policiais que assassinaram seu marido forjaram um flagrante logo após a execução do trabalhador.
Dando razão à esposa do assassinado, um exame residuográfico deu negativo para a pólvora nas mãos de Fábio. Além disso, na arma constava apenas as digitais de um policial.
Esposa denuncia crime policial
Em entrevista ao AND, Carol, a esposa do trabalhador, relatou como ocorreu o crime dos policiais e narrou os momentos do dia do assassinato de seu companheiro, 15 de março. Sua cunhada estava sofrendo violência doméstica de Sérgio, seu marido, e decidiu ligar para a polícia para realizar uma denúncia. Por volta das 13h, os policiais ficaram à paisana na residência da Carol, que era um dos locais onde o agressor poderia estar.
Por volta de 15h50, Fábio chegou do trabalho e decidiu ir até a padaria. 16h12 Carol recebe a notícia de que os policiais haviam assassinado um homem na rua do Jaú. Ela foi imediatamente até o local e reconheceu o corpo do marido, já sem vida. No local, Carol conta que se deparou com os policiais em um clima descontraído, rindo como se estivessem “comemorando uma vitória”.
Carol perguntou ao policial sobre o nome da vítima ao que este lhe respondeu que havia ocorrido um “confronto com Sérgio”, resultando na sua morte. Carol retrucou: “Esse não é Sérgio, esse é meu marido Fábio”. Na mesma hora, as risadas dos policiais cessaram, ficando claro para os próprios policiais que eles tinham matado outra pessoa. Logo em seguida, os policiais se posicionam em conjunto com a viatura, fazendo uma barreira humana para dificultar a visibilidade do corpo. Fábio tinha sido confundido com Sérgio, que cometeu violência doméstica, e foi assassinado no lugar de seu irmão.
Desde o início Carol questionou a versão de “confronto”. Fábio foi atingido por dois disparos de fuzil, um na nuca e outro no ouvido esquerdo, ou seja, de costas.
De acordo com testemunhas, que se recusam a depor oficialmente com medo de ameaças, o carro do batalhão do Choque, entrou numa rua sem saída e logo após dar a volta, chega por trás de Fábio e os policiais gritam: “Sérgio!”. Fábio se virou e logo depois efetuaram os disparos. Os policiais à paisana monitoraram as residências por horas, não sendo justificável a “confusão” que levou à morte de um trabalhador.
Moradores denunciaram que, depois da execução, um carro com policiais à paisana passou próximo a onde se concentravam os policiais que haviam assassinado Fábio e deixaram com estes uma pistola. Os moradores contam ainda que viram os agentes da repressão chutando a arma para próximo do corpo de Fábio, forjando o flagrante. Depois disso, os policiais teriam mandado os moradores entrarem em casa, isolando a área e evitando que qualquer um se aproximasse do corpo.
Os moradores também afirmaram que logo antes da polícia executar Fábio, uma viatura passou pela rua exigindo que os vizinhos fossem para dentro de suas casas. O que demonstra claramente que a intenção da polícia era de executar o então “suspeito”, e não prender.
Tentando justificar a execução, polícia e imprensa reacionária afirmaram que Fábio foi preso por “envolvimento com tráfico de drogas”, como se isso bastasse para decretar sua morte. A imprensa local afirmou enganosamente que ele “cometia crimes há 8 anos”, dando a entender que foi criminoso por todo esse período. Fábio tinha uma passagem pela polícia há muitos anos atrás, mas cumpriu a pena e, desde então, trabalhava pintando paredes. Isso foi utilizado pela polícia e pelo monopólio de imprensa para difamar Fábio, desacreditar a família, e justificar a execução policial do trabalhador que não havia cometido nenhum crime.
Fábio trabalhava como pintor quando foi assassinado pela polícia. Foto: Arquivo pessoal
Luta por justiça
Carol, desde então, tem organizado manifestações para exigir justiça para Fábio, e afirma que não foi procurada pelo monopólio de comunicação para contar a verdade sobre o que aconteceu, e que, quando chegou a dar entrevistas, elas foram manipuladas.
Ela denuncia também que tem sofrido perseguição da polícia desde que continuou a lutar para expor o caso de Fábio como um crime cometido pela PM. Ela conta que em protestos que ela participou, seja pelo caso particular de Fábio, como também junto de outras esposas, mães e familiares de Londrina que tiveram seus companheiros e familiares assassinados pela PM, policiais à paisana tiraram fotos dela e de outras familiares de vítimas, assim como passaram “dando tchauzinho” pelo protesto, em claro tom intimidatório.
Em um dos casos, os policiais foram confrontados pelas massas, e admitiram que eram do serviço de inteligência e que enviariam as informações para Curitiba.