Após quatro anos como prefeito da “capital da inovação”, Sebastião Melo (MDB) inovou apenas em mais profundas e mais eficientes maneiras de explorar e violentar o povo porto-alegrense. O prefeito deixa um legado de profundo descaso com a população, exacerbado pela incompetência da prefeitura, não apenas nas chuvas de maio de 2024, mas também de junho e setembro de 2023. Ao mesmo tempo, seu governo foi marcado pelo aprofundamento de ações anti-povo na cidade, com despejos e militarização das forças de repressão policiais.
Melo cumpriu apenas 56% das promessas, beneficiando principalmente a burguesia
De todas as promessas que Melo fez na campanha eleitoral de 2020, só cumpriu 56% delas, segundo levantamento de dados é do monopólio de imprensa G1. A maioria das promessas, e as que mais cumpriu, foram as feitas à grande burguesia, abrindo caminho para a insaciável especulação imobiliária engolir grandes fatias da capital, especialmente no centro e em bairros populares. Das promessas ao povo, não cumpriu quase nada.
Melo prometeu, por exemplo, reduzir o custo da passagem de ônibus municipal, mas, na verdade, houve um aumento no valor, passando de R$ 4,55 para R$ 4,80 em 2021. A empresa municipal de ônibus, Carris, foi privatizada. Em relação à saúde pública, ele fez três promessas: realizar mutirões de cirurgias, reabrir postos fechados e ampliar o número de postos com atendimento até as 22h. Embora a prefeitura afirme que o programa “Agiliza Saúde” de 2023 realizou 24 mil procedimentos, incluindo 11 mil cirurgias, mais de 53 mil cirurgias ainda estão em espera na rede pública de saúde da capital. Antes da eleição de Melo, oito postos funcionavam até as 22h e atualmente são 16; contudo, existem mais de 120 postos na capital; isto é, apenas 13% deles funcionam em acordo com as grandes promessas do prefeito. Em quatro anos de gestão, apenas três postos de saúde foram reabertos, enquanto dezenas, incluindo três hospitais, continuam fechados ou sem previsão de reabertura. E então, as promessas foram cumpridas?
Legado de incompetência e ações anti-povo
Durante a gestão de Melo, a militarização das forças policiais de repressão, polícia civil, brigada militar e guarda municipal, alcançaram um novo patamar. Homens fardados com equipamento de guerra e fuzis se tornaram vista rotineira na capital, e, em conjunto, a violência aumentou também. Desde 2023, o AND divulgou as rotineiras incursões policiais contra a população, principalmente contra as massas em luta pela moradia. Se destacam a mais recente onde mais de 100 pessoas foram despejadas ilegalmente em junho e o sequestro, tortura e assassinato do trabalhador Vladimir Abreu em maio.
O maior fracasso e legado da gestão de Melo foi o manejo incompetente, praticamente inexistente, das enchentes que atingiram o estado em maio. Porto Alegre, que desde a década de 70 é protegida por sistemas contra enchentes, poderia ter evitado grande parte dos danos, mas, por descaso, diques transbordaram, muros de contenção romperam e a água invadiu as ruas pelo sistema de esgoto. O mais grave é que a maioria dos problemas foi identificada em 2023, mas nada foi feito. Bombas que deveriam manter a água fora do esgoto estavam inoperantes há anos e uma brecha em uma comporta do muro que protege o centro, detectada em 2023, foi ignorada.
Vítimas de descaso histórico centenário, os camponeses e pescadores da região das ilhas da capital foram os que mais sofreram. Em novembro de 2023 o AND já havia denunciado a situação da região, que voltou a se repetir em maio de 2024 quando toda a população da região teve que ser evacuada, deixando a região praticamente inabitável até hoje.
Mudança de sigla não mudará a vida do povo
Melo, em busca desesperada por votos, tenta desviar a culpa dos problemas da cidade para o governo federal, comportamento típico de quem já está politicamente desgastado. Sua concorrente, Maria do Rosário (PT), por outro lado, celebrou ao lado de Paulo Pimenta, “ministro extraordinário” de Luiz Inácio que organizou a repressão no Rio Grande do Sul durante as enchentes, utilizando tropas federais e policiais de outros estados.
O povo de Porto Alegre, experiente em suas lutas, sabe que candidatos de diferentes siglas em nada diferem em suas práticas, o que explica o alto índice de abstenção, que em 2020 chegou a 40%. Em 2020, foram 436.971 que boicotaram as eleições, entre votos brancos, nulos e pessoas que nem foram às urnas, demonstrando que a verdadeira luta por direitos se dá pela mobilização popular, não nas urnas. Com a crescente miséria, é provável que ainda mais pessoas boicotem as próximas eleições municipais.