Desde 2023, a prefeitura de Recife (PE) esteve continuamente buscando entregar os parques urbanos da cidade para grandes bilionários. Agora, em 2025, o projeto tomou forma a partir de uma concessão que prevê um gasto de mais de R$ 570 milhões concedidos à empresa vencedora do leilão, ao longo de 30 anos. O conjunto dos espaços totaliza uma área de 172,6 mil metros quadrados (m²).
Em 2025, a conclusão da licitação entregou os parques da Jaqueira, Santana, Apipucos e Dona Lindu para o consórcio Viva Parques Brasil. Imediatamente, o povo sofreu com a venda, a partir da destruição da pista de bicicross no Parque da Jaqueira.
‘Destruíram a pista para construir um restaurante’
A gestão privada começou no dia 10/03, e o espaço destruído será destinado para a construção de um restaurante luxuoso. A modalidade esportiva, que além de poder ser praticada de maneira gratuita no local, era um ambiente onde funcionavam diversos projetos sociais voltados para o incentivo e desenvolvimento dos atletas.
Gilmar Batista, responsável por administrar a pista há mais de 40 anos, relatou à Tribuna Marco Zero Conteúdo que, ao receber o informativo da destruição da pista, restavam apenas duas semanas para a demolição.
“A gente teve uma reunião lá na EMLURB (Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife), né? Aí eu pensei que era uma reunião com coisas boas, porque a chamada que fizeram foi a de ‘coisas boas para o bmx’. Mas ali o martelo já estava batido, iam destruir a pista para construir um restaurante. Fiquei só imaginando a Jaqueira sem o bicicross. […] Aqui é uma pista onde os pilotos se sentem à vontade, em casa. As mães e pais vêm aqui, sentam ali no banquinho e assistem aos treinamentos. Aqui é um projeto social onde trabalham muitos jovens, muitas crianças.”, comentou ele.
Transação suspeita
De acordo com a prefeitura de Recife, o projeto é coordenado pela Secretaria de Planejamento, Gestão e Transformação Digital (SEPLAGTD), através da Secretaria Executiva de Parcerias Estratégicas (SEPE), em conjunto com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O consórcio Parques do Brasil é formado pelas empresas Aqui é Brasil Parques LTDA, que consta em situação cadastral nula na Receita Federal – quando há inconsistência ou fraude na declaração de impostos –, BG Promoções e Eventos Musicais LTDA EPP e RNB Rodrigues Turismo.
Além da situação cadastral irregular da Brasil Parques LTDA, a quantia de R$ 570 milhões destinada pela prefeitura às empresas chama atenção, visto que a soma do capital social declarado por elas é de apenas R$ 80 mil.
A situação se assemelha ao acontecimento da venda do Edifício Holiday, no qual o ataque contra os direitos mais básicos do povo feito com o despejo dos habitantes foi tamanho que os ex-moradores do edifício receberam solidariedade nacional e internacional de diversas organizações de luta por moradia.
A empresa compradora do leilão, DG IV LTDA, dos irmãos José Roberto e José Romero Dias Gomes da Silva, realizou o negócio no valor de R$ 21,5 milhões. Entretanto, semanas após a compra, foi aberta uma petição de anulação da venda no Tribunal de Justiça de Pernambuco, pela desconfiança gerada por a empresa declarar ter capital social de apenas mil reais.
Integrantes e apoiadores da comunidade do bicicross da Jaqueira organizaram um abaixo-assinado para que o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) não permita a demolição da pista.
Os apoiadores alegam que o parque da Jaqueira é uma Unidade de Conservação de Paisagem e que a pista é uma área de lazer coletivo e tem função social. Porém, com o início da gestão privada (10/03), as obras já destruíram o espaço, com o aval da prefeitura, resultando na perda deste lazer para a população.