Anúncio de Trump no dia 1 de abril segue sequência de preparativos para uma intervenção imperialista direta na Venezuela. Foto: Tom Brenner/Reuters.
No dia 1º de abril, em uma das coletivas de imprensa diárias que o ultrarreacionário Donald Trump tem feito para tratar do coronavírus, ele anunciou o envio de navios de guerra e aeronaves da Marinha do Estados Unidos (USA) para perto da Venezuela, apesar de não especificar quão próximo da costa eles pretendem chegar. Acompanhado do secretário de Defesa, Mark Esper, e do chefe de Estado-Maior do Exército ianque, o general Mark Milley, a cabeça do imperialismo ianque afirmou que está dobrando os recursos militares investidos na região, incluindo destróieres, aviões de vigilância e tropas.
A fim de dar legitimidade à nova ameaça de agressão imperialista contra a nação venezuelana, o imperialismo alega que a medida visa combater cartéis de droga venezuelanos e o que Trump chamou de “atores corruptos”, citando como exemplo o presidente do país, Nicolás Maduro. O engodo criado por Trump e pelo Exército ianque para elevar suas provocações golpistas e colonialistas é de que temem que tais “atores” tomem proveito da pandemia do coronavírus “para contrabandear mais narcóticos”. Tentaram, com isso, desmoralizar o governo da Venezuela e criar caldo de cultura de apoio à invasão.
O anúncio se segue à acusação de “narcoterrorismo” feita pelo USA sobre o governo venezuelano, no dia 26 de março.
Segundo o procurador-geral ianque, William Barr, as acusações criminais protocoladas são de que o governo venezuelano seria responsável por contrabandear, em conjunto com as “Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia” (Farc), até 250 toneladas de cocaína por ano para dentro do USA. No cúmulo do ridículo, o Departamento de Estado do USA ofereceu uma recompensa de 15 milhões de dólares (cerca de R$ 75 milhões) apenas por informações que incriminem Maduro.
Como desdobramento de mais esse exemplo de pretensões coloniais do imperialismo ianque, um dos listados como procurados, o general aposentado do Exército venezuelano Cliver Alcalá, famoso opositor de Maduro, foi preso na Colômbia por agentes da Administração de Repressão às Drogas (DEA) e levado para Nova York, no dia 27 de março.
Um dos cartazes distribuídos pelo imperialismo ianque oferece recompensas por informações que levem à prisão de Maduro e de outros ligados ao governo venezuelano. Foto: Defesanet/DEA.
FORTALECIMENTO DA PRESENÇA IANQUE
Apesar do pretexto do coronavírus, a intensificação da presença militar ianque no continente sul-americano já havia sido anunciada antes mesmo do surto da doença ter alcançado a sua atual escala global e ser considerado oficialmente como uma pandemia. Demonstra, além disso, a mentira por trás do discurso de Trump.
No início de março, o comandante de combate do Comando Sul (responsável por operações militares nas Américas Central, do Sul e no Caribe), Craig Faller, declarou em um depoimento feito ao Congresso estadunidense ianque que o fortalecimento da presença de seu Exército na região seria feito “em reconhecimento a ameaças complexas”. No dia 1º de abril, comentando sobre o anúncio da Casa Branca, Faller afirmou que a decisão ajudará a combater os avanços da China sobre a América do Sul e Central, ou seja, que teria fins de manter a hegemonia da influência regional do imperialismo ianque sobre a região.
Maduro respondeu às ameaças de invasão militar ianque e denunciou se tratar de uma “tentativa desesperada de desviar a atenção da trágica crise humanitária que o país [USA] está enfrentando como resultado do tratamento errático de suas autoridades antes do Covid-19”. Ele disse, ainda, que os ianques “pretendem atacar a Venezuela com infâmias e ameaças”, segundo informações veiculadas pela rede Telesur.
Como analisado anteriormente pelo AND, a Venezuela vivia um cenário de guerra de baixa intensidade aplicada pelo imperialismo ianque para desestabilizar o país e tornar a situação interna insuportável, porém com medidas encobertas em medida tal que o campo de resistência nacional não se alargasse tanto. No entanto, o quadro se encaminha agora para o de uma guerra de agressão imperialista aberta, vide o avanço das tropas ianques para perto da fronteira.
Sob tais circunstâncias, de nada adiantará a vacilante defesa de Maduro quanto a soberania nacional da Venezuela, ou as ilusões quanto ao apoio do imperialismo russo ou do social-imperialismo chinês, principais “aliados” venezuelanos que sabem muito bem o valor da posição estratégica da América do Sul enquanto quintal do imperialismo ianque e base da sua hegemonia global.
PREPARATIVOS PARA GOLPE
Dias antes, em 31 de março, o USA apresentou o que o governo do genocida Trump chamou de “Marco Democrático para a Venezuela”, que se trataria de um “plano de transição pacífica de poder” para a Venezuela.
O documento de conteúdo chantagista determina que tanto Maduro como Juan Guaidó, que se autoproclamou “presidente” da Venezuela em maio de 2019 com a bênção dos ianques, “afastem-se” para que a Assembleia Nacional nomeie um conselho de governo de transição, e este se encarregaria, então, de organizar novas eleições presidenciais dentro de seis a oito meses. Além disso, o plano ianque também exige que todas as forças de segurança estrangeiras se retirem do país, referindo-se às tropas e conselheiros russos e chineses, principalmente.
O primeiro passo a ser cumprido, segundo Trump, seria o retorno dos membros da Assembleia Nacional e do Tribunal Supremo de Justiça, assim como a restituição da imunidade parlamentar para os deputados e a dissolução da Assembleia Nacional Constituinte (convocada por Maduro e que suprimiu, na prática, o parlamento).
Se tais extorsões fossem obedecidas, o imperialismo ianque retiraria algumas das sanções impostas sobre a Venezuela, como as sobre o petróleo venezuelano. O plano para uma “transição democrática” possui um cronograma que cita 14 pontos, nos quais são especificadas quais sanções seriam levantadas.
Com tal plano, os ianques (que só aceitam como “eleições livres” aquelas que eles conduzem e, portanto, manipulam) estabeleceriam um governo títere, submetido integralmente aos seus mandos e que permita aos monopólios financeiros ianques impor-se com exclusividade sobre o mercado local de matérias-primas (como petróleo) e consumidor. Converteria-se, assim, a Venezuela em colônia ianque.