Nota da Redação: Segundo o IBGE, a prévia da inflação para novembro registrou um aumento de 0,33% para novembro. A cifra foi medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15. Dentre os nove grupos medidos pelo índice, oito apresentaram perspectivas de aumento. Os alimentos e bebidas se destacam, pois tiveram a queda de preços interrompida por um aumento de 0,82%. No caso da alimentação em domicílio, o aumento foi de 1,02% no mês. Na semana passada, o AND havia publicado uma matéria acerca da alta dos alimentos, a qual republicamos abaixo.
A grande onda de calor que assola o país, em conjunto com a ocorrência cada vez mais frequente de eventos climáticos extremos, têm apontado para graves impactos na condição de vida das massas. Observa-se já o aumento do preço de diversos alimentos, que no momento atinge sobretudo hortaliças, tubérculos e frutas, decorrente das dificuldades que se abatem sobre a pequena e média produção camponesa. A perspectiva é de um significativo aumento do preço de vários alimentos principalmente a partir de 2024.
Hortaliças, frutas e verduras ficaram 3% mais caras no último mês. Verificou-se também, no caso dos tubérculos e legumes, um aumento de preço em 4,5%. A alface americana teve um aumento de 100% de seu preço nesse período no atacado, saindo de R$2 para custar R$4 reais. No varejo, a mesma custa R$9.
São todos alimentos da pequena produção camponesa, e que revelam o impacto das oscilações climáticas em cima desse setor, carente de apoio estatal, de equipamentos e insumos e, portanto, mais vulnerável aos efeitos das oscilações climáticas. O preço, além de ser puxado pelas dificuldades climáticas que abatem sobre a produção camponesa, também aumenta pela maior incidência de perdas de cargas, dado que o calor acelera o apodrecimento dos produtos. O camponês Flagner, referente a essas constantes perdas, relatou ao monopólio de imprensa O Globo que o preço cobrado por ele pelas caixas de bananas subiu de R$60 para R$100. Já a caixa de morangos, subiu de R$12 para R$20.
As dificuldades da produção camponesa e o preço dos alimentos
As perspectivas apontam para uma piora desse cenário em 2024, onde se prevê um aumento de 6,6% da inflação sobre o preço dos alimentos.
Não é a primeira vez que os pequenos e médios camponeses, verdadeiros abastecedores do mercado interno alimentício brasileiro, sofrem pela falta de estrutura para contornar os eventos climáticos extremos esse ano. Em setembro, no Rio Grande do Sul, camponeses da região tiveram lavouras destruídas e mortes de suas criações de animais.
O velho Estado é responsável
Esse cenário, apesar de antigo, nunca foi revertido pelo velho Estado e governos brasileiros, que priorizam a grande produção exportadora (o latifúndio, “agronegócio”) acima dos pequenos e médios camponeses. De 2003 a 2017, o crédito rural no Brasil sofreu um aumento de R$ 32,5 bilhões para R$ 202 bilhões. Em 2003, a agricultura familiar recebeu 16,6% do crédito, e passou a receber depois 14%. O latifúndio, por sua vez, foi agraciado em 2003 com 83,3%, e a taxa se manteve posteriormente em torno de 85%.
Essa mesma lógica segue até atualmente, e foi aplicada esse ano. É o caso do mais recente Plano Safra, celebrado como “o maior da história”. Nele, R$ 363 bilhões de reais foram entregues para o dito “agronegócio” e somente R$ 70 bilhões foram destinados aos camponeses.