Primeira Intifada – 36 anos

Aos 36 anos da Primeira Intifada, a resistência popular palestina continua e se desenvolve. Foto: AP

Primeira Intifada – 36 anos

Se olharmos hoje para o campo de refugiados de Jabâliyah, na Faixa de Gaza, veremos um aglomerado de construções em escombros, prédios e casas inteiros transformados em nada mais que pedaços. O Estado Sionista de Israel, no dia 5 de dezembro, anunciou que o campo – o maior no território Palestino – estaria cercado por tropas. Preparados para reduzir os pedaços de Jabâliyah em nada mais que pedras, as Forças de Ocupação de Israel inconsequentemente levarão a mais uma geração de resistência. Foi ali, naquele campo de refugiados onde vivem mais de 10 mil palestinos expulsos de suas casas e seus descendentes, onde em 9 dezembro de 1987 iniciou-se um evento de proporções históricas, que faz tremer o solo palestino até os dias de hoje. O povo palestino, cansado de sofrer uma ocupação interminável, criminosa e ilegal, se ergueu contra seus opressores no que hoje conhecemos como a Primeira Intifada.

Intifada (em árabe انتفاضة), significa literalmente “tremor”, originada do ato de “se sacudir” para remover a areia dos pés ou, especialmente, espantar o sono. Nenhuma palavra poderia descrever melhor o que foi A Intifada. Desde 1948, quando o a entidade sionista foi fundada sobre as ruínas e corpos palestinos, no que conhecemos com Al Nakba (النكبة, “A Catástrofe”), o povo nativo da região foi submetido a todos os tipos de abusos e ilegalidades, de prisões arbitrárias, expulsões, destruições de residências, templos e plantações, assassinatos encomendados ou em massa. E, especialmente, após a Guerra dos Seis Dias, em 1967, momento a partir do qual o Estado Sionista de Israel passou a ocupar ilegalmente a Faixa de Gaza e a Cisjordânia, com um cada vez mais crescente números de assentamentos judaicos nos territórios palestinos. Depois de 20 anos dessa ocupação criminosa, após o martírio de quatro palestinos nas mãos das Forças de Ocupação de Israel, três dos quais vinham do campo de refugiados de Jabâliyah, a população deste campo deu início às revoltas, sacudindo o povo palestino de um aparente torpor diante de sua opressão, em um “dia de fúria” que duraria quase 6 anos.

As pedras que o exército de ocupação cria ao destruir as casas e comércios palestinos se tornaram também um símbolo nesse evento histórico. Com pedras nas mãos contra soldados armados e tanques de guerra, a Intifada das Pedras transformou o ato de lançar pedras em um ato de resistência não apenas simbólico, mas verdadeiramente poderoso. E assim como hoje, em 2023, durante a brutal e genocida ofensiva em Gaza, durante A Intifada a entidade sionista recebeu as pedradas com tiros de munição letal. Até o final da Intifada, quase 1500 palestinos foram assassinados pelas Forças de Ocupação, e mais 120 mil foram presos.

A Intifada culminou nos Acordos de Oslo, em 1993, quando Yasser Arafat, líder da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), e o Primeiro-Ministro da entidade sionista, Yitzhak Rabin, reconheceram-se mutuamente sob os auspícios de Bill Clinton, presidente do USA. A OLP e o Estado Sionista de Israel, então, concordaram em uma partição do território de acordo com as fronteiras de 1967, com o reconhecimento da autonomia palestina sobre seus territórios pela primeira vez, dando origem à “Autoridade Palestina”. A solução para a paz proposta pelos Acordos de Oslo seria a tão falada “Solução dos Dois Estados”, que os líderes mundiais hoje propagandeiam como uma panaceia. Tão logo essa “solução” foi proposta, não somente ficou claro que acatá-la nunca esteve nos planos do Estado Sionista de Israel, mas também que tal “solução” era apenas a capitulação da Resistência palestina diante de seu opressor. Os assentamentos ilegais, os checkpoints, muros e cercas impostos pelo Estado Sionista de Israel continuaram a existir e foram expandidos nos anos seguintes aos Acordos de Oslo, e a ocupação militar em Gaza e na Cisjordânia continuaram mais fortes que nunca, agora sem a resistência da OLP e da “Autoridade Palestina”, cuja própria existência é baseada em uma farsa de autodeterminação que só é possível graças às “boas graças” da própria força ocupante.

Edward Said, intelectual palestino, descreveu os Acordos de Oslo como a Versailles Palestina, referenciando o acordo de paz pós-Primeira Guerra no qual as nações vitoriosas optaram por humilhar a Alemanha, derrotada. Estes Acordos, portanto, ficaram marcados tanto como uma forma de o Estado Sionista de Israel pacificar a resistência legítima do povo palestino com promessas jamais cumpridas como a “Solução dos Dois Estados”, como também uma derrota estratégica do movimento de resistência nacional palestino após a vitoriosa Primeira Intifada. E dizemos vitoriosa pois ela provou, de uma vez por todas, que a resposta do povo palestino era necessária não somente com o ato de existir, mas também de resistir. Da Primeira Intifada nasceu o Movimento de Resistência Islâmica, o Hamas, que hoje é um dos grupos que leva a cabo a resistência nacional palestina em Gaza.

George Habash, fundador da FPLP na década de 60, uma vez foi questionado se ele era o Che Guevara do Oriente Médio ao que ele respondeu que preferia ser o Mao Tsetung dos Árabes. Foto: Reprodução

Já se vão 36 anos desde a Primeira Intifada, e mais de 30 anos desde os Acordos de Oslo. Até hoje o Estado Sionista de Israel mantém a Cisjordânia sob ocupação militar ilegal, com um crescimento exponencial de assentamentos ilegais na região, além de um cerco militar infindável na Faixa de Gaza que hoje vemos se transformar em uma agressão em proporções genocidas. A entidade sionista até hoje não reconhece a existência de um Estado Palestino – como teria sido acordado em Oslo –, não permite que a Palestina tenha suas próprias forças armadas e não permite que os refugiados palestinos retornem às suas casas roubadas ou destruídas, direito reconhecido internacionalmente desde 1948, reafirmado pela Resolução 194 da ONU, sendo apenas uma das mais de 62 Resoluções desrespeitadas pelo Estado Sionista de Israel desde sua criação. A “Solução de Dois Estados” se provou uma farsa cuja utilidade é somente dar à entidade sionista a liberdade de invadir territórios e expulsar cada vez mais palestinos de suas casas, vagando o território para ocupações ilegais promovidas e financiadas pelo Estado Sionista. Neste aniversário de 36 anos da Primeira Intifada, a Faixa de Gaza sofre uma agressão genocida e limpeza étnica, enquanto a população da Cisjordânia enfrenta prisões arbitrárias, destruição de monumentos e residências e assassinatos indiscriminados nas mãos das Forças de Ocupação. A Nakba de 1948 não acabou em 1948, e é o passado, presente e futuro do povo palestino se o mundo permitir que o Estado Sionista siga com seus planos. Urge que todas as pessoas progressistas, revolucionárias e humanistas do mundo se ponham ao lado da resistência nacional palestina em um de seus momentos mais críticos.

Viva a Resistência Nacional Palestina!

Viva a memória da Primeira Intifada!

Palestina Livre, do Rio ao Mar!

من النحر الى البحر! فلسطين حره!

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