Prisão de brasileira nos EUA gera revolta e escancara arbitrariedades na perseguição a imigrantes

Em Worcester, mulher é presa em frente aos filhos; no Texas, venezuelanos são transferidos para corte favorável ao governo, sob risco de deportação sumária com base em lei de guerra do século XVIII.
Trecho de vídeo que mostra sequestro de brasileira por agentes migratórios do ICE enquanto vizinhos tentam impedir. Fonte: Storyful

Prisão de brasileira nos EUA gera revolta e escancara arbitrariedades na perseguição a imigrantes

Em Worcester, mulher é presa em frente aos filhos; no Texas, venezuelanos são transferidos para corte favorável ao governo, sob risco de deportação sumária com base em lei de guerra do século XVIII.

Uma violenta operação do Serviço de Imigração e Alfândega dos EUA (ICE, na sigla em inglês) na cidade de Worcester, na região de Boston, Massachusetts, nesta quinta-feira (08/05), gerou revolta entre moradores e, mais uma vez, escancarou a repressão arbitrária e desenfreada por parte das autoridades migratórias do ultrarreacionário presidente Donald Trump. Durante a ação, agentes do ICE prenderam uma brasileira diante de sua filha adolescente e de um bebê de dois meses. Tudo foi registrado em vídeo por testemunhas. 

Segundo testemunhas, os agentes federais abordaram a mulher dentro de seu carro e arrancaram-na do veículo sem apresentar qualquer mandado judicial. A filha tentou impedir a prisão e acabou sendo jogada no chão e presa pela polícia local sob acusações de “resistência à prisão” e “colocar uma criança em risco”.

Os policiais também prenderam uma adolescente de 16 anos, filha da brasileira, por tentar impedir o sequestro. Fonte: Mass Live News/X

Revolta popular

Revoltados, cerca de 25 vizinhos e transeuntes intervieram em solidariedade e cercaram os agentes federais em protesto, também sendo reprimidos. Os moradores exigiram que os agentes mostrassem um mandado judicial, o que não ocorreu. Uma ativista local, Ashley Spring, de 38 anos, foi detida por tentar impedir a ação violenta dos policiais.

A polícia de Worcester justificou a repressão alegando que “a multidão estava indisciplinada e várias pessoas estavam colocando as mãos nos agentes federais e nos policiais”, tentando “impedir que o veículo e a detida saíssem”. O prefeito da cidade, Joseph Petty, declarou-se “perturbado” com os eventos e destacou que “o medo de que o ICE separe uma família é o pior pesadelo de muitas pessoas em nossa cidade”. Convenientemente, ele não se pronunciou sobre a atuação da polícia local.

Moradores revoltados reuniram-se na rua Eureka e exigiram o mandado judicial aos agentes federais. Fonte: Toni Caushi

A brutalidade da ação do ICE se insere num contexto de recrudescimento das políticas migratórias sob a atual administração Trump, que vem aprofundando sua agenda de repressão aos imigrantes, principalmente latino-americanos. 

Sequestros, prisões arbitrárias, separações familiares e deportações sumárias, frequentemente amparadas por dispositivos jurídicos ultrapassados e aplicados oportunisticamente, são todas crueldades sofridas pelos imigrantes em busca de um falso “sonho americano”. Essas medidas estão sendo aplicadas mesmo em regiões antes propagandeadas como “santuários”, onde o número de brasileiros presos dobrou desde o início do mandato de Trump.

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Campo de concentração no Texas, “Lei dos Inimigos Estrangeiros” e tática de manipulação judicial

Paralelamente, dezenas de venezuelanos foram transferidos pelo ICE para o Centro de Detenção Bluebonnet, em Anson, no interior do Texas, instalação isolada que serve como verdadeiro campo de concentração para imigrantes e onde todos os processos migratórios caem sob a jurisdição do juiz federal Wesley Hendrix, nomeado por Trump. Enquanto vários juízes em estados como Colorado, Nova York e Pensilvânia negaram deportações, Hendrix é, até o momento, o único juiz federal que se recusou a suspendê-las com base na “Lei dos Inimigos Estrangeiros”, uma lei de 1798 criada para “tempos de guerra”.

O campo de concentração de imigrantes Bluebonnet, em Anson, Texas. Fonte: Eli Hartman/AP

A estratégia do governo ianque, denunciada por advogados da União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU, na sigla em inglês) consiste em mover imigrantes de diferentes estados para o Texas, forçando-os a enfrentar seus casos numa corte considerada “favorável” às políticas de Trump. Muitos foram transferidos secretamente e às pressas, antes sequer que os advogados conseguissem bloquear judicialmente as transferências ou até mesmo com ordens judiciais que as proibiam. O resultado é um esvaziamento do direito de defesa legal e a aceleração das deportações (com mínima contestação judicial) – em muitos casos, sem que os detidos sequer compreendam o conteúdo dos documentos que recebem.

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Em um dos episódios mais graves, venezuelanos em Bluebonnet foram colocados em ônibus rumo a um voo de deportação para El Salvador, operação que foi interrompida por uma decisão emergencial da Suprema Corte dos EUA. Os migrantes haviam recebido, em inglês, avisos de que seriam deportados como “inimigos estrangeiros” – categoria sem sentido, já que os EUA não estão formalmente em guerra com a Venezuela. Muitos deles são classificados, mesmo que sem comprovação, como “terroristas” da organização criminosa venezuelana Tren de Aragua.

Em março, o presidente venezuelano Nicolás Maduro se pronunciou sobre o envio de venezuelanos a prisões de segurança máxima em El Salvador: “O objetivo é humilhar a nacionalidade venezuelana. É uma mensagem racista de desprezo. Estão sequestrados em campos de concentração nazi em El Salvador. Campos de concentração ao estilo de Hitler. Não cometeram nenhum delito, nem nos Estados Unidos, nem em El Salvador”.

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Absolutismo presidencialista e repressão coordenada

Os dois episódios – a prisão da brasileira em Massachusetts e a transferência forçada de venezuelanos para o Texas – apontam para uma política coordenada de repressão migratória. O ICE, com ampla margem de manobra, vem operando com métodos brutais como prisões sem mandado, deslocamentos secretos entre jurisdições judiciais, negação de direitos processuais básicos e uso político do sistema judicial para acelerar deportações. Lee Gelernt, advogado e integrante da ACLU, declarou que há uma “manipulação do sistema legal para neutralizar qualquer resistência judicial”.

Sob Trump, o ICE vem agindo com amplos poderes e “carta branca”, gerando medo e insegurança entre comunidades inteiras. O órgão é uma agência federal subordinada ao Departamento de Segurança Interna (DHS) dos EUA e, desde o início de 2025, quando a Casa Branca interveio diretamente em sua gestão, houve várias trocas em cargos de liderança e realocação de outros altos funcionários com o objetivo de acelerar as ações de deportação. Caleb Vitello foi nomeado diretor interino em janeiro, porém rebaixado em fevereiro por não cumprir as expectativas de Trump. Todd Lyons, veterano da agência e com atuação anterior em remoções de imigrantes, assumiu em março.

Todd Lyons, então vice-diretor do escritório de campo do ICE, conversa com seus agentes após efetuarem três prisões em setembro de 2019 em Revere, Massachusetts. Fonte: Matt Stone/MediaNews Group/Boston Herald

A Ordem Executiva 14.159, de 20 de janeiro, intitulada “Protegendo o Povo Americano Contra a Invasão”, autorizou oficiais estaduais e locais a atuarem como agentes federais de imigração, permitindo-os apreender imigrantes sujeitos à remoção. A medida também ampliou as deportações sem processo judicial de imigrantes com menos de 2 anos no país. Além disso, outras agências (DEA, US Marshals, Bureau de Prisões, ATF) também foram mobilizadas para colaborar com o ICE, e outras ordens executivas exigiram submissão de todas ações regulatórias ao Escritório de Gestão e Orçamento da Casa Branca, minando a autonomia de agências federais e concentrando o poder no Executivo.

Como se evidencia, a cruzada chauvinista de Trump contra os imigrantes é marca indelével de seu absolutismo presidencialista. A repressão promovida por seu governo ultrarreacionário, longe de garantir “segurança nacional”, transforma o território norte-americano em palco de criminalização e perseguição institucionalizada contra os direitos democráticos dos povos migrantes, especialmente latino-americanos.

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