As prisões no Brasil podem aumentar a chance dos presos morrerem em duas a sete vezes, no caso de doenças, e de duas a seis vezes, em situações violentas ou suicídio, principalmente nos jovens. Os riscos continuam até mesmo no caso de presos que são libertos, que tem mais chances de desenvolverem problemas com álcool ou drogas. As informações são da revista Pesquisa Fapesp.
O que aumenta esses riscos são as constantes violações de direitos e condições precárias dos presos. A falta de acesso à Educação e Saúde, a alimentação pobre e celas superlotadas sem ventilação são algumas das condições frequentes nas prisões brasileiras.
É um quadro que implica na manutenção dos presos na marginalização e favorece a contaminação por doenças como “tuberculose, cólera, sarampo, caxumba, varicela, gripe e Covid-19”, segundo um artigo científico citado pela revista. Outros vírus e bactérias encontrados são os HIV (da Aids), HCV (da hepatite C) e Treponema pallidum (bactéria da sífilis). No caso da tuberculose, que é uma das doenças mais comuns nos cárceres, menos de 10% dos presos chegam à prisão já infectados.
A superlotação e as condições infernais aos quais os presos são submetidos, dentre os quais estão torturas e agressões por parte dos guardas, também servem de terreno fértil para o aumento da violência dentro das prisões. A chance de morrer por agressões ou suicídio na prisão é duas vezes maior do que na propulação em geral. Nos centros de detenções de jovens, o risco é 19 vezes maior.
Os motivos de morte variam de acordo com a idade. Nas prisões de regime fechado, a causa mais comum para a morte de jovens entre 18 e 24 anos é a violência, seguida de suicídio, doenças comunicáveis e doenças não comunicáveis (como doenças crônicas) e, por fim, lesões associadas ao transporte. Entre 24 e 29 anos, as doenças não comunicáveis são a segunda maior causa, depois de violência, sucedida por doenças comunicáveis e suicídio. As mortes por doença passam a aumentar e as de violência passam a diminuir conforme a idade avança.
As conclusões vêm de uma série de estudos e análises em instituições como a Universidade Federal do Ceará (UFC), Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) da Fiocruz e Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS).
Mulheres: mais doentes e abandonadas
As mulheres também estão no quadro de maior vulnerabilidade. No geral, as presas têm a saúde mais precária do que o resto da população, com casos de doenças como hipertensão, câncer e problemas no sistema cardiovascular superando de duas a quatro vezes as mulheres em liberdade. Outras patologias comuns entre as mulheres são DSTs e hanseníase (que supera em 100 vezes a taxa da população geral).
Muitas delas, mesmo as jovens, já são presas com problemas de saúde grave que geralmente só aparecem em mulheres mais velhas; um sintoma dos problemas enfrentados ainda na liberdade.
Paralelamente, há diferentes problemas psicológicos decorrentes do abandono das presas. O peso de problemas ligados à questão feminina, como o machismo e as obrigações sociais impostas às mulheres, fazem com que as presidiárias sejam abandonadas por amigos e familiares mais facilmente que os homens. Segundo um estudo reportado pela Pesquisa Fapesp, uma em cada três presas nunca era visitada, uma quantidade similar só era visitada pela mãe e 23% por irmãos ou filhos.
Problemas crescem com a crise
Com o aumento da população carcerária, o problema cresce. A quantidade de presos no Brasil cresceu 3,6 vezes em duas décadas, e o país tem atualmente a terceira maior população prisional do mundo. O número de idosos presos cresceu em nove vezes nos últimos 18 anos.
Esse crescimento desenfreado acompanha o ritmo da crise econômica no país, também crescente. Conforme os problemas da crise, como a pobreza, o desemprego ou a restrição à informalidade, a falta de direitos básicos e o aumento da exploração aumentam, é natural que outros problemas sociais também cresçam.