O mandatário do governo Luiz Inácio (PT) voltou a tratar da alta dos alimentos nesta quinta-feira (6/2), mas se esquivou da responsabilidade sobre a inflação. Luiz Inácio culpou a antiga gestão do Banco Central (BC), a alta do dólar e o aumento da exportação dos produtos pela inflação. E, sem oferecer nenhuma solução, disse que o povo precisa passar por um “processo educacional”.
“Uma das coisas mais importantes para que a gente possa controlar o preço é o próprio povo. Se você vai no supermercado e você desconfia que tal produto está caro, você não compra”, disse ele.
A afirmação é uma resposta a uma das maiores preocupações do governo atualmente: a alta dos preços dos alimentos, grupo que teve uma inflação de 8,23% em 2024.
A culpa é do BC?
Luiz Inácio responsabilizou a gestão de Roberto Campos Neto pela alta do dólar e da inflação. “Tivemos um aumento do dólar porque tivemos um Banco Central totalmente irresponsável, que deixou uma ‘arapuca’ que a gente não pode desmontar de uma hora para outra”, disse.
Ele se refere ao fato de que Campos Neto sinalizou que a taxa básica de juros (Selic) continuaria a aumentar nas próximas reuniões do Conselho de Política Monetária (Copom).
A explicação de Luiz Inácio não justifica a situação. Durante a antiga gestão do BC, Luiz Inácio nunca cogitou demitir Campos Neto, apesar de poder fazê-lo através do Conselho Monetário Nacional (CMN), conforme detalha o artigo 5° da lei complementar número (n°) 179 de 2021.
Além disso, bastaria ao novo Copom, presidido pelo indicado de Luiz Inácio, Gabriel Galípolo, desfazer a “arapuca” de Campos Neto e baixar a taxa de juros, o que não foi feito.
Alta do dólar e exportação de produtos
A alta do dólar impacta no preço dos alimentos porque encoraja que os latifundiários produtores ou magnatas do ramo alimentício vendam os alimentos para o mercado estrangeiro em vez de abastecer o mercado interno.
O caso da carne é emblemático. O item subiu 8,02% em 2024 ao mesmo tempo que bateu recorde de exportações. Ou seja, enquanto o povo viu a proteína animal sumir do prato, os latifundiários da pecuária tiveram lucros recordes com a venda para o exterior.
Luiz Inácio também poderia agir aqui, mas não o fez. Uma medida seria impor um limite sobre as exportações, forçando os latifundiários a destinarem uma parte significativa da safra ao mercado interno. Outra medida seria regular os preços a partir de um teto.
Em janeiro, os magnatas do ramo alimentício anteciparam essas duas alternativas e pressionaram o governo a não fazer nenhuma delas. O governo capitulou frente à pressão e manteve os preços altos.
Distribuição da terra
A medida mais efetiva, contudo, seria minar o latifúndio através do confisco das terras e distribuição delas aos camponeses pobres sem terra ou com pouca terra. Isso é importante porque o latifúndio, mesmo na forma de agronegócio, produz principalmente monoculturas para a exportação na forma primária (commodities). Os alimentos são produzidos principalmente por camponeses pequenos e médios, que têm a produção submetida aos monopólios e são obrigados a vender os produtos abaixo do preço do valor..
Não faltam justificativas para o confisco, uma vez que as posses dos latifundiários são todas griladas, conforme comprovam estudos como o do intelectual Ariovaldo Umbelino, e os grandes fazendeiros frequentemente estão envolvidos em outros crimes, como trabalho servil, sonegação de impostos, pistolagem e destruição do meio natural.
O governo fez pouquíssimos esforços para entregar terras aos camponeses entre 2023 e o início de 2025. Mesmo a cúpula do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), criticou o governo. “Efetivamente, desde o ano passado, nenhuma família foi para terra. Não temos uma foto para mostrar”, disse Ceres Hadich, membro da coordenação nacional do movimento, a uma reportagem do Repórter Brasil.
Por isso, a maior esperança dos brasileiros para a concretização dessa alternativa é o avanço de movimentos revolucionários comprometidos com a destruição do latifúndio mediante a Revolução Agrária, a exemplo da Liga dos Camponeses Pobres (LCP).
Mais uma vez, o crédito
Luiz Inácio prometeu anunciar, nos próximos dias, medidas para incentivar o crédito no país. “Ao invés de a gente ficar discutindo macroeconomia, a gente tem que discutir microeconomia, porque é ela que faz a coisa acontecer”, começou ele, na vulgarização escancarada da economia e problemas do país.
“Um cidadão que pega 1 bilhão de dólares, nem sempre ele investe no ano seguinte. Um cidadão que pega 10 conto (R$ 10 mil), ele vai investir. O cidadão que ganha R$ 1 mil vai para o supermercado comprar o que comer. E isso que movimenta a economia. É isso que estamos fazendo sem esquecer que precisamos financiar os grandes para que a macroeconomia cresça”.
O crédito, além de não resolver os problemas que são a base da inflação dos alimento e da fome no Brasil, vai complicar ainda mais a situação das milhões de famílias endividadas, ainda mais no cenário de alta da taxa Selic. Segundo a Confederação Nacional do Comércio (CNC), 76,1% das famílias brasileiras estão endividadas.