Favela Nova Holanda, 10/06/2019. Foto: Douglas Lopes
Moradores de duas grandes comunidades do Rio de Janeiro protestaram no dia 12 de junho contra ações policiais. Na Cidade de Deus, ruas foram fechadas por mulheres, jovens e crianças contra uma ação que demolia casas e barracos de madeira, enquanto que no Complexo da Maré os moradores reagem contra agressões, torturas, invasões e roubos praticados por policiais durante operações nos últimos dias.
Especialmente na Maré, no dia 12, trabalhadores e jovens interromperam o tráfego na Linha Vermelha, importante via expressa da região, para denunciar e repudiar os criminosos abusos que ocorrem há pelo três dias, durante as consecutivas operações.
Casas foram invadidas e moradores agredidos. “A casa da vizinha estava só com o cadeado. Eles arrombaram o cadeado e entraram. Como não encontraram nada, já que a casa está vazia para ser alugada, deixaram a porta aberta e foram embora”, conta um trabalhador residente do Parque União, em entrevista ao O Dia. Ele completa: “A gente conhece muitos casos de casas roubadas, porque dentro da comunidade até que você prove que não é bandido, você é bandido, pelo menos para a polícia”.
O grupo Redes da Maré, em nota pública, denunciou arrombamento de carros, invasão de casas, roubos de dinheiro e equipamentos eletrônicos, tortura física e psicológica de moradores, sequestro e cárcere privado e até ameaças de mortes. Os crimes ocorreram, segundo a denúncia, nas favelas Nova Holanda, Parque Rubens Vaz e Parque União, do dia 10 à madrugada do dia 11 de junho.
‘Moramos em casa de madeira porque precisamos’
Na Cidade de Deus, sob a justificativa de remover “barricadas e barracos”, agentes da prefeitura e do 18º Batalhão da Polícia Militar (PM) aplicaram violência contra os moradores que tentaram impedir a demolição de suas casas, a maioria delas confeccionadas com madeira. Um helicóptero e veículos blindados foram utilizados na operação. Em resposta, os moradores ergueram barricadas em chamas na estrada Marechal Miguel Salazar Mendes de Moraes, que ficou fechada durante a manhã. Com a repressão, os moradores lançaram pedras contra os agentes.
“Acham que a gente mora aqui porque gostamos de brincar de casinha de madeira? Moramos porque precisamos. Não temos para onde ir. Trabalho para uma empresa terceirizada da prefeitura e não recebo meu salário há 4 meses. O que vou fazer com uma criança desse tamanho na rua?”, protesta indignada uma moradora, com seu filho de 1 ano, em entrevista ao O Globo.
A região concentra mais de 50 barracos abrigando trabalhadores que perderam suas casas ou não têm condições de pagar aluguel. A operação policial também resultou em troca de tiros.