No dia 27 de julho, cerca de 180 famílias tomaram terras de um latifúndio localizado em Caruaru, no agreste pernambucano (PE). Os camponeses exigiram que as terras fossem destinadas às famílias para a produção. A tomada ocorreu um dia depois de uma outra ocupação, promovida por aproximadamente 600 famílias na terra de um latifúndio conhecido como fazenda São Lukas, em Goiás. As mobilizações são um revés aos planos do governo, que afirmou, na pessoa de Luiz Inácio, não estar preocupado com a luta pela terra e que “esse negócio de invasões de terra vai acabar”.
No PE, as terras tomadas pertencem à chamada fazenda Djalma do Bonanza, que segundo o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), pertence a uma “família vinculada a políticos e grandes empresários” e é improdutiva. Essa é a segunda ocupação realizada em Caruaru esse ano, após uma tomada realizada durante o chamado “Abril Vermelho”.
Já em GO, as famílias exigem que as terras da fazenda São Lukas, localizada no município de Hidrolândia, sejam destinadas aos camponeses. O latifúndio atualmente pertence ao velho Estado, mas antes era gerido por um grupo ligado à exploração sexual e tráfico internacional de pessoas. Mesmo assim, a direção do MST não pretende assentar as famílias e iniciar a produção imediatamente. Segundo a direção do movimento, o objetivo da ação é “chamar atenção do governo federal” para que este encaminhe os procedimentos.
Também não é a primeira vez que as terras desse latifúndio foram ocupadas. Em março, uma tomada já havia ocorrido na área, mas foi despejada pela Polícia Militar (PM) de GO sob beneplácito do governo federal, a quem pertence as terras.
Luta pela terra volta aos holofotes
As tomadas de terras em GO e PE sinalizam um revés aos planos do governo de deter o avanço das massas camponesas em luta pela terra no País enquanto segue com o beneficiamento em massa ao latifúndio. Somente nos últimos meses, foram diversos os episódios que demonstram os diferentes pesos e medidas do governo dado aos camponeses e latifundiários.
Exemplo emblemático é a CPI do MST, iniciada em maio e que tem se desenvolvido ao mesmo tempo em que o governo anunciou mais de R$ 340 bilhões ao Plano Safra, destinados a agraciar os latifundiários. Já nas últimas semanas, entidades e organizações democráticas denunciaram novos desenvolvimentos da repressão: no início de julho, a Associação Brasileira de Advogados do Povo Gabriel Pimenta (Abrapo) informou da condenação arbitrária de Luzivaldo, camponês perseguido e preso político no estado de Minas Gerais. Já no dia 27 de julho, mesmo dia da recente ocupação, a Liga dos Camponeses Pobres (LCP) de de Rondônia e Amazônia Ocidental emitiu um comunicado informado do desenvolvimento da perseguição judicial contra quatro camponeses perseguidos políticos em Rondônia.
Contudo, apesar das diversas tentativas de intimidação, a luta pela terra não mostra sinais de arrefecimento, diferente do que afirmou Luiz Inácio em sua recente entrevista ao monopólio de imprensa Valor Econômico. Em verdade, pode-se afirmar que a tendência é exatamente o contrário. O prenúncio dado pelo ano de 2023 até agora é justamente de um auge do movimento camponês, tendência que fica cada vez mais clara desde os anos de 2020 e 2021, quando vigorosas batalhas camponesas no estado de Rondônia colocaram a luta camponesa sob os holofotes admitidos do velho Estado e seus representantes imediatos.