Por Robert Inkalesh*
O exército israelense tem um novo chefe de estado-maior que, por acaso, trabalha como aliado do atual primeiro-ministro, aparentemente cumprindo as suas ordens.
Em vez de se concentrar na defesa, o novo chefe militar, de tendência hawkish, procura a “vitória total” e prepara-se para um conflito em várias frentes.
“Você está sob ataque do Hamas”, disse Eyal Zamir ao major-general do Comando Sul de Israel, Yaron Finkelman, apanhando-o desprevenido e realizando um exercício não declarado durante uma visita a uma posição do exército perto de Beit Hanoun, em Gaza.
Esta proeza foi realizada no primeiro dia de funções do recém-empossado chefe do Estado-Maior israelita, que procurou mostrar o tipo de líder militar que será.
Nascido na cidade de Umm al-Rashrash (Eilat), Zamir é um dos chefes de Estado-Maior mais velhos a ocupar o seu cargo atual, com 59 anos. É também de origem judaica iraquiana e iemenita.
Estudou ciências políticas na Universidade de Tel Aviv, tendo posteriormente obtido um mestrado em “segurança nacional” na Universidade de Haifa, e frequentou também academias militares.
Depois de entrar para as forças armadas israelenses em 1984, escolhendo logo o Corpo Blindado, Zamir foi treinado como soldado de combate e tirou também um curso de operador de tanques.
Ao longo dos anos, subiu nas fileiras do exército israelita até se tornar comandante, liderando formações de tropas na Segunda Intifada, na guerra do Líbano de 2006, bem como em numerosos ataques israelitas contra a Faixa de Gaza sitiada.
Durante algum tempo, chegou mesmo a liderar o comando sul israelense que se desmoronou poucas horas após o ataque de 7 de outubro de 2023, liderado pelo Hamas.
Entre 2018 e 2021, Zamir foi mesmo o vice-chefe do Estado-Maior das forças armadas israelenses. No entanto, antes da sua mais recente nomeação, decidiu trabalhar como diretor-geral do Ministério da Defesa israelita entre 2032 e 2025.
Além disso, foi também secretário militar do primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu.
É de salientar que Eyal Zamir é um aliado próximo do primeiro-ministro israelense e tem mantido com ele uma relação de longa data.
É interessante notar que Netanyahu conseguiu expurgar a maior parte dos que anteriormente o rodeavam e criticavam as suas tácticas, trazendo, em vez disso, para o seu lugar leais.
Por exemplo, o Primeiro-Ministro israelita criou circunstâncias muito difíceis para o antigo “Gabinete de Guerra”, obrigando Benny Gantz e Gadi Eisenkot a demitirem-se, frustrados, devido ao facto de o governo de emergência de guerra ter de funcionar em paralisia.
Mais tarde, Netanyahu viria a expulsar o seu ministro da Defesa, Yoav Gallant, que desafiava a tomada de decisões do primeiro-ministro, substituindo-o pelo antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, Israel Katz, que lhe era fiel. Mesmo no que diz respeito à equipa de negociadores israelitas que Netanyahu enviou ao Qatar e ao Egito para comunicar indiretamente com o Hamas, decidiu livrar-se dos anteriores negociadores e colocar o seu colaborador próximo Ron Dermer nessa mesma posição.
Uma das primeiras medidas do novo chefe do Estado-Maior do exército israelense foi iniciar uma vaga de despedimentos de generais. Por acaso, despediu também o porta-voz do exército israelense, Daniel Hagari, que se tinha desentendido frequentemente, por vezes publicamente, com o primeiro-ministro israeleense Netanyahu.
Zamir é também alguém que acredita na visão da velha escola para as forças armadas israelenses, colocando-se em oposição à dependência maciça da entidade ocupante em relação à tecnologia, uma estratégia adoptada no início dos anos 90 e que foi em tempos apelidada de “um exército pequeno e inteligente” pelo antigo primeiro-ministro israelense Ehud Barak.
Em vez de confiar na diplomacia e procurar evitar a guerra, Zamir não só é inflexível na luta agressiva contra Israel, como prometeu trabalhar com o poder político para “garantir” que o Hamas deixe de existir em Gaza e que a guerra não termine com o acordo de cessar-fogo.
A nomeação de Zamir, na passada quarta-feira, foi recebida com grande satisfação pelas facções políticas mais extremistas de Israel, algumas das quais descreveram a sua seleção como um “sonho”.
Entretanto, o ministro das Finanças israelese, Bezalel Smotrich, observou que “o mais importante é que Zamir se lembre de que o escalão profissional está subordinado à liderança política. É altura de os militares perceberem isso”. De acordo com o diário israelense Haaretz, Netanyahu respondeu a Smotrich dizendo-lhe: “Não apenas os militares, mas todo o escalão profissional”.
*Robert Inlakesh é jornalista, escritor e realizador de documentários. Dedica-se ao Médio Oriente, especializando-se na Palestina. Contribuiu com este artigo para o The Palestine Chronicle.