Nos últimos meses, progressistas e democratas de todo o mundo têm olhado com atenção para as movimentações do Irã contra a ocupação sionista na Palestina, primeiro em retaliação ao assassinato de líderes da Guarda Revolucionária do Irã e, depois, ao assassinato do líder do Hamas, Ismail Haniyeh.
Os conflitos que escalaram entre o país persa e o ente “Israel”, resultado dos desenvolvimentos da Operação Dilúvio de Al-Aqsa, representam o nível da escalada da guerra regional no Oriente Médio, cenário que abre possibilidades sem precedentes para as forças anti-imperialistas árabes.
Contudo, há ainda muitas dúvidas em torno do caráter do regime iraniano e do processo que o iniciou em 1979, chamado de revolução iraniana.
A revolução iraniana é um dos mais interessantes levantes populares do século XX. O vigor dessa revolução – uma das poucas que sobreviveu à virada do século que prenunciava o “Fim da História” – ainda hoje surpreende e desafia detratores de todos os espectros políticos. Entre as principais ideias norteadoras desta revolução, estavam o forte senso de repúdio ao imperialismo, ancorado numa identidade coletiva que se referenciava ao milenar Império Persa e à religião islâmica xiita – principalmente à última (Al-Odhmah, 2008).
Embora realizada por um amplo espectro de organizações políticas – de liberais a comunistas, de sacerdotes a ateus, de camponeses conservadores a burgueses ocidentalizados – a revolução que derrubou a ditadura do xá (título adotado pelos Pahlevi que remonta aos tempos do Império Persa) ficou conhecida como “islâmica”. Isso se deveu à decisiva liderança daquele que se tornaria a face global do movimento: o aiatolá Ruhollah Khomeini. Quando falamos na revolução iraniana de 1979, sua face severa ainda é a primeira que vem à mente da maioria das pessoas. Não foi ele, no entanto, o teorizador da aliança entre o anti-imperialismo, o nacionalismo revolucionário de inspiração socialista e o islamismo xiita que caracterizam a revolução do Irã. Este título pertence ao Dr. Ali Shariati.
Ali Shariati foi um importante sociólogo e teórico revolucionário iraniano, nascido em Sabzevar, 1933. Ele iniciou seus estudos no Irã, até receber uma bolsa para estudar na França. Lá obteve o título de Doutor em Sociologia na Universidade de Paris – Sorbonne, em 1964. Em meio ao efervescente ambiente universitário francês da época, sacudido pelos ventos do anti-imperialismo, Shariati travou contato com teóricos dos movimentos revolucionários anticoloniais – lendo e traduzindo para o persa obras de revolucionários como Che, Giap e Fanon, entre outros. Desse contato surge a ideia que para sempre caracterizou o pensamento de Shariati: a da construção de uma síntese entre o socialismo e a cultura popular das massas iranianas, representada principalmente pelo islamismo xiita (Abrahamian, 1982).
O socialismo que inspirou Shariati, no entanto, não foi o dos salões acadêmicos ocidentais ou o revisionismo soviético, mas o socialismo que florescia no então chamado “terceiro mundo”, dos povos oprimidos pelo imperialismo que desejavam conquistar a libertação nacional. Esse socialismo era o marxismo-leninismo que triunfou na Rússia em 1917, mas desenvolvido com os aportes de experiências como a Revolução Chinesa, de 1949.
Esses desenvolvimentos na China inflamaram movimentos revolucionários vitoriosos como os de Argélia e Indochina, de caráter socialista, e que representaram uma nova alternativa de libertação. As vitórias refutaram na prática as posições eurocêntricas e paternalistas do social-chauvinismo europeu – que não raro atuou como linha auxiliar do imperialismo.
Além disso, foram também importantes para o fortalecimento da linha revolucionária nos movimentos de libertação nacional no Terceiro Mundo, uma vez que os revolucionários demonstraram ser possível aplicar e desenvolver o marxismo-leninismo, como era chamado à época, como um instrumento de libertação nacional, ao propor soluções para questões fundamentais da Revolução Proletária Mundial.
Inspirado pelo exemplo dos movimentos socialistas de libertação nacional, Shariati começou a teorizar sobre como poderia ajudar a libertar sua pátria do jugo imperialista. Até então, o Irã vivia sob a ditadura militar do perverso xá Reza Pahlevi, mundialmente conhecido pela crueldade de sua polícia política – a Savak. Pahlevi era mais um dos vários governantes títeres do imperialismo. Sua família estava no poder desde 1953, quando a CIA instaurou seu primeiro golpe no Oeste Asiático. Mossadegh, presidente democraticamente eleito pelos iranianos em 1951, era tudo que a corja imperialista diz hoje querer para o Irã: um moderado, que exercia um governo laico, secularizado e interessado na modernização do país. Mas Mossadegh foi deposto assim que decidiu nacionalizar o petróleo de seu país, então controlado pelos britânicos. Então, em troca do trono, a família Pahlevi reestabeleceu o controle imperialista sobre os recursos naturais de seu país (Coggiola, 2008).
Naquele momento, os Estados Unidos substituíram o Reino Unido na posição de financiador do estado-cliente iraniano. Os USA forneceram armas e treinamento para o exército do xá, que em troca fornecia petróleo a Israel e servia de baluarte pró-Ocidente na região. O império soviético não era melhor: a URSS revisionista, fronteiriça ao norte do Irã, não tinha interesse em qualquer desestabilização no país. Negociando com o xá, a potência soviética era vista como mais um império que predava o povo iraniano (Coggiola, 2008).
Nesse contexto, Shariati propôs uma ressignificação do islamismo xiita, que ele argumenta ser uma religião revolucionária por vocação (ver também Al-Khazraji, 2008). Ele defendia que o xiismo jamais poderia transigir com a opressão. O xiismo negro, restrito ao “luto” pela injustiça que sofrera a família do Profeta e seus seguidores, seria uma negação do verdadeiro xiismo, o vermelho – vermelho do sangue dos mártires que lutaram, resistiram à opressão por todos os meios necessários. O xiismo sob os safávidas – que o instauraram como religião oficial de seu império – é o “xiismo negro”, do luto, que vive confortavelmente junto aos palácios. Já os rebeldes alauítas e o movimento Sarbedaran seriam exemplos do “xiismo vermelho” que combate a opressão.
O combate à opressão sempre esteve presente como princípio xiita, até mesmo na obra de clérigos tradicionais (Al-Muzaffar, 2009), mas Shariati levou esse princípio a outro nível de prioridade. Resultado: nos anos que antecederam a revolução de 1979, fitas com gravações dos discursos de Shariati defendendo valores revolucionários inspirados no xiismo burlavam a censura da Savak, incendiando campo e cidade ao defender libertação popular, independência perante as potências imperiais e a soberania do povo do Irã sobre seus costumes, recursos e destino. Por essas associações entre revolução e pensamento religioso, é difícil posicionar Shariati num espectro político em termos ocidentais. Embora influenciado pelo nacionalismo revolucionário, anticolonial e socialista, o sociólogo rejeitava o movimento comunista do Irã, ligado à política social-imperialista soviética (Coggiola, 2008).
“A principal objeção de Shariati em relação ao Tudeh [principal partido comunista iraniano de seu tempo] e ao Marxismo, no entanto, estava diretamente relacionada à sua prévia correspondência com Fanon. Para marxistas clássicos, o nacionalismo era uma ferramenta usada pela classe dominante para distrair as massas do socialismo e do internacionalismo. Para Shariati, os povos do Terceiro Mundo não poderiam derrotar o imperialismo, superar a alienação social e amadurecer ao ponto em que poderiam tomar de empréstimo a tecnologia Ocidental sem perder sua autoestima a não ser que eles primeiro redescobrissem sua herança nacional e cultura popular. Numa série de aulas intituladas Retorno, ele argumentou que os intelectuais iranianos precisavam redescobrir suas raízes nacionais e que estas seriam encontradas não na mitologia ariana – pois tal mitologia deixaria as massas imóveis – mas no xiismo, que permeava a maior parte dos círculos da da cultura popular” (Abrahamian, 1982. Tradução livre).
Shariati não estava sozinho em suas críticas a essa posição de setores do marxismo na Europa – afinal, o nacionalismo revolucionário do colonizado é profundamente distinto do nacionalismo do colonizador e do nacionalismo da burguesia das colônias. Diz Fanon: “A nação não existe em nenhum lado, se não é um programa elaborado por uma direção revolucionária e recolhido lucidamente e com entusiasmo pelas massas”.
Com o tempo, essas posições errôneas que classificavam todo nacionalismo como necessariamente reacionário foram derrotadas e o nacionalismo passou a ser reconhecido, em contextos de luta antiimperialista e anticolonial, como elemento importante na construção de uma Nova Democracia.
Outro tema complexo é a relação de Shariati com a religião. Embora reivindicasse o xiismo como base identitária, teórica e moral para a revolução, o autor não era uma pessoa religiosa, diferenciando seu projeto daquele que identificava com o conservadorismo clerical. Assim, a comparação de seu pensamento com outros movimentos religiosos progressistas, como a Teologia da Libertação, também é insuficiente. Para Shariati, a liderança revolucionária não deveria ser clerical, mas sim oriunda da intelligentsia revolucionária – que deveria ser capaz de compreender e liderar as massas (Abrahamian, 1982). Disse Shariati:
“Não basta dizer que nós devemos retornar ao Islã. Devemos especificar qual Islã: aquele de Abu Zarr ou aquele de Marwan o Governante. Ambos são chamados Islâmicos, mas há uma grande diferença entre eles. Um é o Islã do Califado, do palácio e dos governantes. O outro é o Islã do povo, dos explorados e dos pobres. Além disso, não basta dizer que alguém deveria estar ‘preocupado’ com os pobres. Os califas corruptos disseram o mesmo. O verdadeiro Islã está mais que ‘preocupado’. Ele instrui o crente a lutar por justiça, igualdade e pela eliminação da pobreza” (Shariati apud Abrahamian, 1982. Tradução livre).
Para Osvaldo Coggiola (2008), um dos erros dos comunistas no contexto da revolução iraniana foi se crerem possuidores do monopólio sobre a revolução, como se a história por si só fosse entregar o poder revolucionário nas mãos de alguns predestinados. Também a repressão cometeu este erro. O xá, que mandava matar a quaisquer lideranças que o desafiassem, teve a oportunidade de mandar assassinar Khomeini, então exilado em Paris. Mas não viu necessidade de fazê-lo. Supondo que os religiosos xiitas jamais se aliariam ao comunismo ateu, a monarquia subestimou a ameaça que o clero representava ao poder imperial – afinal, sem esquerda, sem revolução. Eis que o poder revolucionário não residia em nenhum grupo, mas nas massas organizadas em luta.
Realizada por uma frente ampla, a Revolução acabou dirigida pelo único grupo que soube unificar a cultura popular e a libertação nacional, como propusera Shariati. O único grupo que dispunha de uma estrutura organizacional nacional coesa e capilarizada, de lideranças capazes de oferecer um projeto de país, capaz de realizar atividades legais e ilegais, de estabelecer cadeias eficientes de comunicação interna e externa e de organizar uma Guarda Revolucionária capaz de combater militarmente os lacaios mais fiéis do xá – e levar à rendição os demais apoiadores vacilantes. Este grupo foi o clero xiita, liderado por Khomeini.
É difícil formar um aiatolá (“espelho de Deus”, em árabe), o mais alto título religioso no xiismo. Embora não exista clero organizado em forma de “Igreja” no Islã, o exercício de funções religiosas envolve alta complexidade na formação de seus quadros. Uma pessoa interessada em se tornar Sheikh – liderança formada em estudos teológicos e capacitada para liderar comunidades e rituais islâmicos – precisa passar por mais de uma década de formação acadêmica. O Sheikh estuda o Corão, as Tradições do Profeta e a jurisprudência islâmica. Apenas depois de décadas de trabalho e pesquisa uma pessoa pode receber o título de aiatolá. Para além da honra implicada no termo, o aiatolá se torna uma liderança política e intelectual, o único autorizado a produzir nova jurisprudência no direito canônico. Se considerarmos, além da intricada formação de quadros, todas as demandas envolvidas na organização de pessoal e logística envolvida na manutenção do clero, podemos considerar que a construção da cadeia de relações necessárias para fazer a organização acontecer conferiu aos religiosos a solidez institucional e relação com as massas necessária para tomar a liderança da revolução.
Por sua atuação política, Dr. Ali Shariati foi por diversas vezes preso pela monarquia iraniana. Solto em 1975, após uma campanha internacional por sua libertação, Shariati seguiu ativo até ser assassinado pela Savak em 19 de junho de 1977 – três semanas após se exilar na Inglaterra. Shariati não viveu para ver sua revolução triunfar. Ainda hoje, diversos grupos – favoráveis, contrários e ambivalentes em relação à República Islâmica – reivindicam o legado deste teórico da revolução. Se a revolução iraniana seguiu ou não o caminho que ele gostaria, jamais saberemos. A única certeza que podemos ter é que essa revolução não teria ocorrido sem o trabalho de pensador, agitador e político antiimperialista exercido por Ali Shariati.
O texto que acompanha esta apresentação de Shariati ao público brasileiro é o primeiro do autor traduzido integralmente para o português. Com ele, espero contribuir para o conhecimento sobre os heroicos movimentos anticoloniais de nosso tempo. Àquela tradução, espero, outras seguirão. É pena que muitos brasileiros pensem que são ocidentais. Em verdade somos, como os iranianos, o Outro do imperialismo. Temos muito mais em comum com eles que com nossos colonizadores. Apesar das diferenças e discordâncias que possamos ter, se queremos revolucionar este mundo, precisamos aprender com a experiência dos nossos.
Xiismo Vermelho (a religião do martírio) vs. Xiismo Negro (a religião do luto)
Por: Dr. Ali Shariati, 1933 – 1977
Apresentação e tradução do inglês por Caio Porto
O Islã é uma religião que apareceu na história da humanidade com o grito de “Não!” de Muhammad (que a paz esteja com ele), o herdeiro de Abraão, a manifestação da religião da Unidade de Deus e da unidade da humanidade; um “Não” que começa com o grito de “Unidade”, um grito que o Islã reiterou quando confrontado com a aristocracia e a transigência.
O Xiismo é o Islã que se diferencia e escolhe o seu rumo na história do Islã com o “Não” do grande Ali1, o herdeiro de Muhammad e a manifestação do Islã da Justiça e da Verdade, um “Não” que ele dá ao Conselho para a Eleição do Califa, em resposta a Abdul Rahman, que era a manifestação da aristocracia e transigência islâmicas. Este “Não”, até os tempos pré-safávidas, é reconhecido como parte do movimento xiita na história do Islã, uma indicação do papel social e político de um grupo que são os seguidores de Ali, conhecidos pela sua associação com a bondade da família do Profeta. É um movimento baseado no Alcorão e nas Tradições; não o Alcorão e as tradições proclamadas pelas dinastias dos Omíadas, Abássidas, Ghaznávidas, Seljúcidas, Mongóis e Timúridas, mas aquelas proclamadas pela família de Muhammad.
A história do Islã segue um caminho estranho; um caminho em que gângsteres e rufiões das dinastias árabe, persa, turca, tártara e mongol gozavam todos do direito à liderança da comunidade muçulmana e ao califado do Profeta do Islã, com a exclusão da família do Profeta e dos legítimos Imames do Islã. E o xiismo começa com um “Não”; um “Não” que se opõe ao caminho escolhido pela história e se rebela contra a história. Rebela-se contra uma história que, em nome do Alcorão, dos Reis e dos Césares, segue o caminho da ignorância e, em nome da tradição, sacrifica aqueles que foram criados na casa do Alcorão e das Tradições!
Os xiitas não aceitam o caminho escolhido pela história. Eles negam os líderes que governaram os muçulmanos ao longo da história e enganaram a maioria do povo através da sua sucessão ao Profeta, e depois pelo seu suposto apoio ao Islã e à luta contra o paganismo. Os xiitas dão as costas às opulentas mesquitas e aos magníficos palácios dos califas do Islã e voltam-se para a solitária casa de barro de Fátima. Os xiitas, que representam a classe oprimida e em busca de justiça no sistema do califado, encontram nesta casa tudo e quem procuram: –
A herdeira do Profeta, a manifestação dos “direitos dos oprimidos” e, ao mesmo tempo, o símbolo da primeira objeção, uma encarnação forte e clara da “busca da justiça”. No sistema dominante, estes são os gritos e slogans das nações subjugadas e das classes oprimidas.
A manifestação de uma justiça que serve os oprimidos, uma encarnação sublime da Verdade que é sacrificada no altar de regimes desumanos e que está escondida nas camadas da religião formal dos governantes.
A manifestação da última resistência da guarnição do “Islã dos Imames”, que enfrenta a primeira guarnição do “Domínio Islâmico”.
Dá testemunho daqueles que foram martirizados pelos opressores ao longo da história, herdeiro de todos os líderes que lutam pela liberdade, pela igualdade e por aqueles que buscam a justiça, desde Adão até ele mesmo, para sempre o mensageiro do martírio, a manifestação da revolução sangrenta.
Dá testemunho de todos os prisioneiros indefesos perante o sistema de algozes, e é a mensageira que resta após o martírio e a manifestação da mensagem da revolução.
Os xiitas baseiam os seus slogans na personificação das tribulações e esperanças das massas oprimidas. Conscientes dos governantes e em rebelião contra eles, eles clamam: –
“Busque a liderança de Ali e fuja da liderança da crueldade. Escolha o Imamato e carimbe ‘cancelado’, ‘descrença’ e ‘despossessão’ na testa do Califado”.
“Escolha a justiça e derrube o sistema de paradoxos e discriminação no [regime de] propriedade”.
“Escolha o princípio de estar pronto para protestar contra as condições existentes, onde o governo dominante, os líderes religiosos e a aristocracia tentam mostrar que tudo está de acordo com a Vontade de Deus, a Lei Divina e a satisfação de Deus e das criaturas d’Ele. Tais coisas, para o governo dominante, incluíam as suas conquistas, a pilhagem de mesquitas, associações, escolas, doações, fundos e instituições de caridade e a observância de cerimônias e práticas religiosas”.
“Escolha a liderança religiosa para a organização central do movimento”.
“Escolha o conceito de imitação de seus superiores para organizar adequadamente suas energias e obter ordem, disciplina e direção”.
“Escolha a vice-regência do Imam para ter um líder responsável”.
“Dê uma parte dos fundos para apoiar a luta sócio-política, para fundações educacionais e para o ensino, num sistema onde todos os fundos religiosos são recolhidos à força pelo governo que se passa por um governo da Lei”.
Escolha o luto, para continuar a constante luta histórica dos xiitas contra os usurpadores, a traição, a crueldade e as fontes de fraude, mentira e degeneração, e especialmente para manter viva a memória dos mártires.
Lembre-se da Ashura, para humilhar o grupo dominante que se autodenomina herdeiro das tradições do Profeta, pois a lembrança disso provará que eles são os herdeiros dos assassinos da família do Profeta. Isso lhe mostrará um caminho de ação e fornecerá uma resposta à pergunta recorrente “O que deve ser feito?”. Isso irá ajudá-lo a decidir sobre a melhor agenda para a luta contra o regime da tirania. Evitará a fidelidade à crueldade. Fornecerá um padrão para a continuidade ininterrupta da história. Declarará uma luta sem fim entre os herdeiros de Adão e os herdeiros do diabo. Ashura nos lembra o ensinamento do fato eterno de que a versão atual do Islã (em 1972) é um Islã criminoso disfarçado de tradição, e que o verdadeiro Islã é o Islã oculto, escondido no manto vermelho do martírio.
E finalmente, ocultação; criar uma camuflagem inteligente para a organização e suas atividades, afiliações, liderança, personalidades e planos, para proteger a liderança, as pessoas e os grupos de serem assediados pelos governantes da época e da dureza de coração da organização religiosa associada a eles, que poderia caluniar o movimento xiita através da excomunhão e incitar as massas ignorantes contra ele, ou destruí-lo através de perseguições, ou enfraquecê-lo através de assassinatos em massa, prisões e deportações, e assim criar as melhores condições para a luta e a sua continuação ; praticar, cuidadosamente, o princípio do sigilo e manter as condições distintivas de um movimento clandestino”.
Podemos ver que durante mais de oito séculos (até a era Safávida), o Xiismo Alauíta foi mais do que apenas um movimento revolucionário na história que se opôs a todos os regimes autocráticos e com consciência de sua classe dos califados Omíada e Abássidas e aos reinados dos Ghaznávidas, os seljúcidas, os mongóis, os timúridas e os dois khanidas, que fizeram da versão governamental da Escola Sunita a sua religião oficial, e travaram uma luta secreta de ideias e ações. Tal como um partido revolucionário, o Xiismo tinha uma ideologia bem organizada, informada, profundamente enraizada e bem definida, com slogans claros e definidos e uma organização disciplinada e bem preparada. Liderou as massas desfavorecidas e oprimidas nos seus movimentos pela liberdade e pela procura da justiça. É considerado o ponto de encontro das reivindicações, angústias e rebeliões dos intelectuais que procuram conquistar os seus direitos e das massas em busca de justiça.
Por causa disso, ao longo da história, à medida que o poder dos governantes crescia, aumentavam as dificuldades, as injustiças, as expropriações, a negação dos direitos do povo e a exploração dos agricultores. A desigualdade tornou-se mais pronunciada devido ao sistema de aristocracia, às desigualdades de classe, à lavagem cerebral, aos preconceitos ideológicos, à ligação entre os teólogos e os governantes temporais, à pobreza e à privação das massas, e ao poder e à riqueza dos governantes. Quando isto ocorreu, a frente xiita tornou-se mais forte, os slogans básicos do movimento mais poderosos e a luta dos xiitas mais intensa e mais importante. Passou de uma escola de pensamento, de uma forma de estudo e de sectarismo religioso reservado aos intelectuais e aos poucos escolhidos, para uma forma de compreender corretamente o Islã e a cultura do povo da casa do Profeta, quando confrontado com a filosofia grega e Sufismo oriental, a um movimento sócio-político profundamente enraizado e revolucionário das massas, especialmente das massas rurais. Isso causou maior medo entre os governantes autocráticos e os organismos religiosos hipócritas que governam o povo em nome da seita sunita.
É por esta razão que os governantes pseudo-intelectuais e de pensamento livre, em cujas cortes os Judeus, Cristãos, Magos e mesmo os materialistas gozam de liberdade, honra e influência, falam dos Xiitas com tanta raiva e aborrecimento que um massacre de todos eles não saciaria a sede desses governantes. Esfolam-nos vivos, passam-lhes barras de ferro nos olhos, arrancam-lhes a língua e queimam-nos vivos. Todas essas são práticas atuais da época. Chega ao ponto que os historiadores, teólogos e mesmo filósofos e homens pios da corte consideraram que fazia parte das suas orações inventar quaisquer acusações falsas, falsificações e registros forjados que pudessem contra os xiitas! É nessas circunstâncias que o Sultão Mahmoud de Ghazni declara: “Eu reviro o mundo inteiro procurando um xiita”. É o seu governo que patrocina o decreto teológico sunita que proíbe o casamento de um homem muçulmano com “pessoas do Livro”, ou seja; com judias, cristãs e zoroastristas, é legal, mas é ilegal casar com uma mulher xiita.
Com a chegada dos seljúcidas ao poder, os preconceitos e enviesamentos tornaram-se mais fortes contra o mundo do pensamento e da religião. Do ponto de vista social, o sistema feudal e de tutela acentua o grau de exploração das massas, especialmente dos agricultores, a um grau insuportável. Para manter as políticas do Estado, são necessárias flagelações e torturas, resultando na construção de muitas pilhas de crânios e olhos.
O corpo religioso da seita sunita, que desde o início se tornou “o Islã do governo”, torna-se um conglomerado de regras duras e das crenças mais infundadas e preconceituosas. Torna-se uma ferramenta para a justificação dos modos desumanos dos governantes. Transige com os regimes autocráticos dos turcos Ghaznávidas e Seljúcidas e dos mongóis. Torna-se um ópio para as massas e um instrumento de assassinato a ser usado para prevenir qualquer pensamento ou ação que comprometa os interesses dos fortes e prejudique os proprietários de terras e os chefes feudais.
Isto é o que faz com que o Xiismo, durante este período, apareça como a fonte da rebelião e da luta das massas subjugadas e oprimidas, especialmente da população rural. Floresceu maravilhosamente, em múltiplas facetas e em diferentes direções, moderadas ou extremas, na forma de vários movimentos das massas contra os poderes da época; movimentos como o terrorismo de Hasan Sabbah, a vida comunitária dos Cármatas, as crenças culturais e religiosas extremistas do Ghalat, e a rebelião pelo pensamento livre de algumas das seitas sufis da escola de pensamento revolucionária e xiita, contra os duros preconceitos e a censura petrificante e sem alma do sistema teológico e jurídico ligado ao grupo dominante. Finalmente, a Escola intelectual, moderada e rica do Imamato xiita, como o maior fluxo de pensamento e cultura, rebela-se quando confrontada com a religião e a cultura do governo.
O estimulante chamado e as possibilidades de aprendizagem nesta Escola de pensamento baseiam-se nos princípios gêmeos do imamato e da justiça. Isso produz os gritos revolucionários de Ashura e a mobilização agressiva das massas contra as condições existentes. Convida as pessoas a aguardarem o Imam oculto que está escondido. Levanta os problemas críticos dos “sinais da aparência” e do “fim dos tempos”. Mantém viva a esperança da “redenção após o martírio”. Promove a ideia de vingança e revolta, a fé na queda final dos tiranos e nos decretos do destino contra os poderes dominantes que distribuem justiça pela espada. Prepara todas as massas oprimidas e em busca de justiça que aguardam para participar na rebelião. Em algumas cidades como Kashan e Sabzevar, onde os xiitas são fortes, eles selam um cavalo branco às sextas-feiras, e toda a população da cidade, os xiitas que protestam, insatisfeitos e expectantes, seguem o cavalo para fora da cidade, apesar da oposição do governo e da religião dominante. Eles aguardam a redenção e a libertação da tirania e o início de uma rebelião. Eles discutem questões que causam medo entre o grupo dominante.
Durante a primeira metade do século VIII, após os massacres em massa de Ghengis Khan e Hulaku, quando o domínio dos mongóis reduziu as massas iranianas à submissão, à depressão, à humilhação e à fraqueza; quando a vingança de Ghengis Khan era lei; quando a espada e o carrasco eram aplicadores da lei; quando os Khans e nômades mongóis e os oficiais e chefes das tribos mongóis governaram cada um como senhor feudal sobre várias regiões e propriedades, e escravizaram os camponeses da maneira mais cruel; quando, também nas cidades, os homens religiosos estavam principalmente a serviço dos governantes mongóis, eles apelaram às massas para que se submetessem, em nome da “verdadeira religião sunita”, aos governantes pseudo-muçulmanos que continuavam a ser réplicas de Gengis Khan. Eles circuncidaram-se apenas para agradar aos sentimentos religiosos dos muçulmanos, à custa da difusão da cultura, da fé, da moralidade, da sociedade e da própria existência dos muçulmanos!
Alguns dos homens religiosos, cujo caráter pio os fez abster-se de cooperar com os governantes e tiranos, caíram em pio esquecimento nos mosteiros dos Sufis, tornando-se assim indiretamente o meio pelo qual o caminho é pavimentado para a opressão e o terreno é preparado para o assassinato. Eles deixaram o povo indefeso contra os açoites dos algozes e ladrões mongóis e dos religiosos fraudulentos.
É nestas circunstâncias que um pregador religioso parte em busca da verdade, tal como fez Salman. Salman aborda todos aqueles que afirmam ter fé religiosa. Primeiro ele se aproxima do pio Balu para buscar o caminho da salvação em sua Escola de piedade e liberdade. Lá, ele vê a piedade permanecendo em silêncio perante a tirania. Que pena! Que crueldade e egoísmo, que um homem deva ser cercado pelos gritos dos prisioneiros, pelos gritos dos algozes, pela pobreza dos famintos, pelos chicotes dos cruéis sobre os corpos dos indefesos e, em vez de se voluntariar para defendê-los, que ele deva simplesmente procurar sua própria redenção e tentar conquistar o paraíso para si mesmo! Salman foge deste homem enojado e vai para Semnan para ver Rukneddin Emad-od-Dowleh, cuja piedade e liderança nas práticas sufis são bem conhecidas. Ele considera as práticas sufis também, como a piedade, um meio de escapar da realidade e das responsabilidades, afastando-se do destino das massas e ignorando a crueldade e a tirania. Salman acha que o sufi tem um coração terno, sentimentos ternos e uma alma sublime. Mas como é que os rios de sangue derramados pelos mongóis neste país, e o declínio que ameaça o Islã e as massas populares, não perturbam de forma alguma a paz da sua alma e a ternura do seu coração? Salman foge dele com ódio e vai até o Sheikh ol-Islam, Imam Ghiasuddin Habibollah Hamavi em Bahrabad, para obter dele conhecimento das leis religiosas e da teologia das verdadeiras seitas sunitas, e para encontrar o caminho de volta à original fonte da verdade. Aqui, ele vê uma teologia que descobre e discute milhares de problemas de etiqueta no banheiro, mas tem uma total falta de consciência acerca do destino maligno que a nação enfrenta.
Desgostoso com todas essas vestes de piedade e satisfeito com o fato de que esses ensinamentos religiosos são todos tecelões de roupas de piedade para serem usadas em um corpo de opressão, então com o coração cheio de ódio pelos cruéis governantes mongóis e cambaleando de dor por causa do mau destino das massas muçulmanas, como um muçulmano responsável pelo povo e conhecedor dos tempos, e em protesto contra o sistema existente, tendo perdido toda a fé nos vendedores de religião, o Sheikh Khalifeh escolheu o Islã de Ali, a Escola de protesto e martírio.
Vestido como um simples dervixe, ele vai para Sabzevar como um estranho solitário, fixa residência na grande mesquita da cidade e começa a pregar lá. Isto marca o início do movimento de libertação Sarbedaran. Ele é um pregador que está em revolta contra tudo que ensina as pessoas a se curvarem à ignorância e à opressão, uma revolta apoiada por uma fé, uma escola de pensamento e uma história “vermelha”: o xiismo. Lentamente, as massas necessitadas começam a compreender, a encontrar o seu caminho e, como resultado, a tornar-se uma força ameaçadora. O pseudo-clero oficial inicia o seu jogo habitual de espalhar boatos e depois emitir decretos religiosos e, por fim, apelar ao homicídio autorizado, dizendo: –
“Este Sheikh discute assuntos mundanos na mesquita”,
“Este Sheikh conjectura na mesquita e contamina a casa de Deus” e “Este Sheikh confunde a religião do povo”.
O pseudo-clero tenta virar o povo contra ele e prepara o terreno para a sua queda. Eles ajudam o governante mongol a tirar sua vida. Eles escrevem ao governante mongol dizendo que o Sheikh se desviou da verdadeira religião sunita e não está preparado para se arrepender e retratar-se, apesar dos seus melhores esforços. Dizem que ele está propagando ideias mundanas na mesquita e divulgando o trabalho de protestantes (xiitas)! Eles continuam: “Seu comportamento exige a pena de morte, e cabe ao Sultão Saied livrar a religião desta pestilência”. A propagação de rumores e a incitação das pessoas contra ele aumentam, mas o apelo do Sheikh à compreensão, à fé e à salvação continua a atrair cada vez mais os corações das massas rurais carentes e sofredoras para ele. Até que certa manhã, quando seus admiradores vão vê-lo como de costume, eles veem seu cadáver na mesquita.
Após o assassinato do Sheikh, seu discípulo Sheikh Hasan Juri continua seu trabalho. Ele dá um apelo imediato às armas, organiza seus discípulos e passa à clandestinidade. Ele começa a percorrer as cidades e a semear o entendimento e a revolta onde quer que vá, com base no xiismo. As mentes do povo estão preparadas. Os corações das massas escravizadas palpitam pela revolta sob a cortina do segredo. Uma faísca será suficiente…
Um sobrinho do governante entra na aldeia de Baashteen, uma vila a cerca de trinta e seis quilómetros a sul de Sabzevar, como faz normalmente. Com seus seguidores, ele entra na casa de Abdul Razzaq, um dos aldeões pios e honrados que ainda sofre a influência devastadora da propaganda religiosa do governante. A comitiva pede comida aos aldeões e é devidamente servida. Então eles pedem vinho! Para os aldeões, que são muçulmanos e xiitas, que foram profundamente influenciados pelas palavras do Sheikh Khalifeh, trazer vinho para esses patifes, e isso também sob compulsão, é demais. No entanto, eles servem! Os convidados ficam embriagados! Eles pedem mulheres! Este foi o início da explosão, muito simples e rápida! O anfitrião vai até o povo e chama as massas xiitas e exclama que o governante mongol está pedindo suas mulheres. Qual a resposta deles? Eles dizem: “Estamos preparados para morrer em vez de sermos tão contaminados! Nossas mulheres para o inimigo serão nossas espadas”. O resultado é inevitável. As massas já se decidiram. Eles matam todo o grupo de uma só vez. Como sabem que não há como voltar atrás, como sabem que já escolheram a morte, param de vacilar. A escolha da morte dá-lhes tanta energia que a sua única aldeia se revolta contra aquele regime sanguinário e tem sucesso. Os aldeões invadem a cidade, lutando contra o exército mongol e os decretos do pseudo-clero da religião do estado. Eles são vitoriosos. O seu grito: “Salvação e Justiça!” e “À destruição do poder dos mongóis dominantes e a influência dos sacerdotes da religião dos governantes e dos grandes proprietários de terras da classe dominante”. As vítimas da ignorância do pseudo-clero e os prisioneiros da opressão dos mongóis continuam a juntar-se às fileiras dos rebeldes. Sabzevar torna-se um centro de poder; como um fogo que se espalha pelos arbustos secos, os guardas revolucionários xiitas, que contam com o apoio dos guerreiros rurais e dos campeões das massas, e têm a ideologia do Sheikh Khalifeh e do Sheikh Hasan e tipos semelhantes de pessoas bem informadas, justas e missionários instruídos, engolfam toda Khorasan e o norte do Irã e inflamam até o sul do país. E, pela primeira vez, um movimento revolucionário baseado no xiismo alauíta, contra a dominação estrangeira, o ardil interno, o poder dos senhores feudais e dos capitalistas ricos, teve uma revolta armada, liderada por camponeses setecentos anos atrás, sob a bandeira da justiça e da cultura do martírio, para a salvação da nação escravizada e das massas necessitadas.
E esta é a última onda revolucionária do xiismo alauíta, o xiismo vermelho, que continuou durante setecentos anos a ser a chama do espírito da revolução, da busca pela liberdade e pela justiça, sempre inclinando-se em direção ao povo comum e lutando incansavelmente contra a opressão, a ignorância e a pobreza.
Um século depois vieram os safávidas, e o xiismo deixou a grande mesquita do povo comum para se tornar vizinho do Palácio de ‘Ali Qapu, na Mesquita Real.
O Xiismo Vermelho muda para o Xiismo Negro!
A Religião do Martírio muda para A Religião do Luto.
Este texto expressa a opinião do autor.
Notas:
ABRAHAMIAN, Ervand. Ali Shariati: Ideologue of the Iranian Revolution (online). In: Middle East Report. n. 102. Janeiro/Fevereiro de 1982. Disponível em: https://merip.org/1982/01/ali-shariati-ideologue-of-the-iranian-revolution/ Acesso em 20 de agosto de 2024.
Al-KHAZRAJI, Hussein Taleb. A revolução do Imam Al-Hussein (a.s) – motivos, fatos e resultados. 1. Ed. São Paulo: Centro Islâmico no Brasil, 2008.
Al-MUZAFFAR, Mohammed Redha. As crenças islâmicas. 1. Ed. São Paulo: Centro Islâmico no Brasil, 2009.
AL-ODHMA, Allamah Ayyatullah. O xiismo no Islam. 21. Ed. São Paulo: Centro Islâmico no Brasil, 2008.
COGGIOLA, Osvaldo. A revolução iraniana. São Paulo: Unesp Editora, 2008.
Ver também: Dr. Ali Shariati
- Imam Ali (AS) foi o quarto Califa depois do Profeta Muhammad. Genro do Profeta, Ali casou com Fátima, única das filhas do fundador do Islã que chegou à idade adulta. Segundo a tradição xiita, Ali seria a escolha do Profeta para o suceder após sua morte. No entanto, os Omíadas teriam se aproveitado do falecimento de Muhammad para usurpar esse direito. O xiismo surge, portanto, como o “Partido de Ali”, em defesa deste como injustiçado na sucessão. Após se tornar o quarto Califa, Ali enfrentou feroz oposição. Seu Califado foi marcado por guerras civis que culminaram com o assassinato do líder por seus opositores [N.T.]. ↩︎
- Fátima é a única filha de Muhammad que chegou à idade adulta. Esposa de Ali e mãe de Hassan e Hussein, três mártires do xiismo, Fátima foi também importante liderança religiosa. Ainda hoje é uma das figuras mais importantes do xiismo. ↩︎
- A manifestação de uma justiça que serve os oprimidos, uma encarnação sublime da Verdade que é sacrificada no altar de regimes desumanos e que está escondida nas camadas da religião formal dos governantes. ↩︎
- A manifestação da última resistência da guarnição do “Islã dos Imames”, que enfrenta a primeira guarnição do “Domínio Islâmico”. ↩︎
- Uma das mais importantes figuras do xiismo. Ele é o neto de Muhammad que combateu até seu último suspiro, na batalha de Karbala, as forças do Califado Omíada. Cercado no deserto com apenas 70 companheiros e familiares, Hussein viu morrerem, de espada e sede, cada um de seus aliados. Ele foi o último a morrer, recusando-se a se render, preferindo a morte à transigência com a opressão. Seu exemplo de sacrifício, celebrado na cerimônia de Ashura, é importante guia moral entre os xiitas. ↩︎
- Irmã de Hussein, sobrevivente do massacre de Karbala. É de seu testemunho que deriva o relato do martírio de Hussein, anualmente relembrado pelos xiitas na Ashura. Ela é reverenciada por ter confrontado Yazid, o Califa omíada que ordenou o extermínio dos descendentes de Fátima. ↩︎