Quilombo Quingoma e sua luta contra a especulação imobiliária em meio a pandemia de Covid-19

Quilombo Quingoma e sua luta contra a especulação imobiliária em meio a pandemia de Covid-19

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Em meio a pandemia, comunidade resiste contra o conluio entre governos estadual, municipal e construtoras.

Foto: Banco de Dados AND

O Quilombo Quingoma é uma comunidade tradicional situada no município de Lauro de Freitas, Região Metropolitana de Salvador, na Bahia. A comunidade, que conta hoje com cerca de 3,5 mil moradores, possui origens que remontam o ano de 1569 estimando-se que seja o primeiro quilombo do Brasil. 

Em 14 de agosto de 2013 foi certificada enquanto comunidade remanescente de quilombo pela Fundação Cultural Palmares, permitindo então dar entrada no Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID), no entanto, ocorre que desde então mesmo com as diversas mobilizações da comunidade para dar andamento em sua solicitação, o processo encontra-se parado nas instâncias da burocracia do velho Estado. 

A certificação recebida pela Fundação Palmares não significou uma melhoria nas condições de vida dos moradores da localidade, pelo contrário, o descaso das instituições permaneceu e a especulação imobiliária aumentou seu interesse na região, em especial, após a construção da Via Metropolitana, obra do Governo Estadual (Rui Costa/PT) em conjunto com a empresa Bahia Norte. 

No ano de 2015 ainda na fase de planejamento da Via Metropolitana, lideranças do quilombo fizeram uma contraproposta oficial para que os rios e as matas não fossem prejudicados; as solicitações, é claro, foram ignoradas pelo governo estadual e pela Bahia Norte e o que se viu foi a completa devastação por onde a obra passou. 

Após a conclusão das obras com o crescente aumento do interesse das construtoras no território, os ataques à comunidade aumentaram significativamente, dezenas foram os casos de fogo em barracos, destruição de alvenarias, espancamentos e ameaças que foram denunciadas na delegacia da cidade e que nunca foram de fato esclarecidas.

Em meio a este cenário de perseguição e resistência, o quilombo ainda tem de lidar com a pandemia de Covid-19 em condições totalmente adversas, não existem serviços mínimos de saúde e saneamento básico no local. 

A comunidade não conta com posto de saúde, nem com agentes comunitários de saúde; a água encanada que chegou há pouco mais de dois anos falta constantemente, cenário perfeito para a propagação do vírus. 

Diante de tanto descaso e do falecimento de uma idosa, os moradores fizeram um combativo protesto no dia 26/06 exigindo medidas efetivas das instituições, em especial da prefeitura de Lauro de Freitas (Moema Gramacho/PT) para o combate ao coronavírus. Além de cobrar medidas sanitárias efetivas o protesto também serviu para denunciar o mais recente ataque do conluio das construtoras e dos governos estadual e municipal que utilizam a desculpa da pandemia para acelerar seu processo de expropriação dentro do quilombo. 

Em mais uma medida visando atender os interesses da especulação imobiliária e sem consultar a comunidade, o governo estadual autorizou este ano a construtora CAVA Engenharia de Infraestrutura Ltda. a fazer estudos e medições, além de desapropriar pessoas para que seja feita pavimentação de 1.174,00m da via existente e implantação de uma alça de acesso à Via Metropolitana, com extensão de 318m no entorno do Hospital Metropolitano, em Lauro de Freitas.

Foto: Banco de Dados AND

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