Quilombolas do Quilombo Baú, em Araçuaí, Minas Gerais, têm denunciado desde o início de novembro novas tentativas de assassinato às lideranças da comunidade. “Na noite de ontem, um carro passou e disparou três tiros em direção às casas da comunidade”, diz a liderança Antônio Cosme, em um vídeo gravado no dia 12 de novembro.
Cosme relata que ouviu os tiros e, momentos tempos, várias pessoas do quilombo chegaram na sua casa. Elas relataram que o carro parecia estar voltando, e que os tiros foram direcionados para dentro da comunidade.
“Nós ficamos em alerta a noite toda, e toda a comunidade que estava presente se reuniu aqui em casa. Ficamos acordados até cerca de 3h da manhã, todos no terreiro, atentos e olhando, pois ninguém conseguiria dormir. Alguns voltaram para suas casas ao amanhecer”, conta Cosme, no mesmo vídeo.
A denúncia foi publicada na página do Instagram da Federação Quilombola de Minas Gerais – Federação N’Golo e enviada à Redação do jornal A Nova Democracia pela Liga dos Camponeses Pobres (LCP), a pedido da federação.
Uma nota pública divulgada no dia 11 de novembro pela Comissão das Comunidades Quilombolas do vale do Jequitinhonha e pela Federação N’Golo afirma que ambas as entidades “reuniram-se no dia 6 de novembro de 2024 com o Ministério Público Federal e do Estado de Minas Gerais, a Defensoria Pública da União, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária e demais entidades listadas abaixo para tratar da proteção das lideranças regionais do Vale do Jequitinhonha, com destaque para a comunidade quilombola Baú, de Araçuaí”. A nota é assinada por observatórios acadêmicos e movimentos como a Comissão Pastoral da Terra.
Falta de regularização encoraja latifundiários
Na mesma nota, as entidades cobram “celeridade nos processos de regularização fundiária e na garantia da vida do povo quilombola”.
A inércia nos processos de regularização das terras favorece a continuidade e o crescimento dos crimes de latifundiários e bandos pistoleiros contra os povos em luta pela terra. É o caso do Quilombo Baú, em que o ataque a tiros contra a comunidade ocorreu cinco dias depois da reunião com órgãos públicos estaduais e federais.
Em abril de 2024, os quilombolas de Baú já haviam denunciado ameaças de assassinato a lideranças. Na época, Antônio Cosme foi ameaçado depois da divulgação de um Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID), um dos documentos necessários para o Incra regularizar o território.
Ofensiva latifundista
Os ataques aos quilombolas de Baú ocorrem em momento de agravamento da violência latifundiária contra os povos do campo por parte de forças oficiais e extraoficiais.
Somente nessa semana, policiais militares invadiram um acampamento camponês em Rondônia e prenderam e torturaram camponeses do Tocantins, segundo denúncias de diferentes movimentos.
O segundo semestre de 2024 também foi marcado pela Batalha Feroz em Barro Branco, Jaqueira, na qual os camponeses derrotaram, por meio de grupos de autodefesa, uma tentativa de invasão por parte do bando paramilitar “Invasão Zero”.
Já em Messias, Alagoas, centenas de famílias foram despejadas de um território que ocupavam há quase 20 anos.
Resposta camponesa
Ao mesmo tempo, a luta combativa tem avançado. Além da vitória dos camponeses de Barro Branco sobre o “Invasão Zero”, camponeses de Messias conseguiram impedir um novo despejo na cidade, na comunidade da Pista Velha.
Os camponeses do acampamento Nova Esperança, em Rondônia, estão denunciando a invasão policial e prometem avançar na luta. Eles estão em contato com a Liga dos Camponeses Pobres (LCP), que organiza os posseiros de Barro Branco e os camponeses de Messias, e prometem realizar em breve o Corte Popular (a divisão da terra em lotes entre os camponeses, com cultivo da terra e construção de estruturas na área ocupada).