Carro da polícia foi virado de cabeça para baixo e posteriormente incendiado pelos manifestantes de Curaçao, 24/06/2020.
Em Curaçao, colônia holandesa no Caribe, uma rebelião popular se iniciou no dia 24 de junho em repúdio às medidas anti-povo impostas pelo imperialismo holandês e reiteradas pelo governo colonial do país insular. A capital Willemstad registrou confrontos violentos entre os manifestantes e as forças da repressão, além de incêndios e saques. Um toque de recolher foi imposto pelo governo.
Entre os diversos ataques contra os direitos do povo estão a demissão de funcionários de empresas do Estado e o atraso no pagamento dos funcionários públicos, que estão sendo obrigados inclusive a entregar seus próprios salários a fim de cumprir as condições impostas pela Holanda para liberação de empréstimos de liquidez à sua colônia.
A revolta popular começou com os trabalhadores da coleta de lixo que entraram em greve e, na manhã de 24/06, organizaram uma marcha que reuniu centenas de catadores e trabalhadores de outros setores, entre eles: da refinaria Isla, das empresas Aqualectra, Brasami e do sindicato dos rodoviários. Também tomaram parte do protesto dezenas de jovens e estudantes.
Os manifestantes repudiaram os cortes no governo e as demissões impostas pelos holandeses, e exigiam a renúncia imediata do representante colonial em Curaçao, o primeiro-ministro Eugene Rhuggenaath, e de todo o seu governo.
Os trabalhadores e jovens também se rebelam contra situação da pobreza no país, o alto nível de desemprego, a precariedade do trabalho, além dos cortes de direitos e da assistência concedida pelo governo.
Durante a tarde, a polícia foi chamada para reprimir o protesto que avançou até a entrada do gabinete do primeiro-ministro, ameaçando ocupá-lo. Os manifestantes exigiam que Rhuggennaath saísse do prédio e recebesse as demandas dos trabalhadores, mas o gerente colonial já havia fugido do local mais cedo.
Agentes do esquadrão de choque lançaram bombas de gás lacrimogêneo contra as massas rebeladas que ocupavam a praça Fort Amsterdam, onde fica a sede do governo. A violenta repressão foi prontamente respondida com garrafas e pedras lançadas contra a tropa policial; vitrines de lojas foram destruídas e latas de lixo e contêineres foram incendiados. Um veículo da polícia também foi virado de cabeça para baixo e incendiado pela revolta popular.
À noite, o clima no centro de Willemstad continuava tenso: alguns confrontos foram reportados, vários focos de incêndio continuavam espalhados pela cidade, carros e ônibus foram apedrejados e incendiados. Lojas do distrito de Otrobanda foram saqueadas e diversas ruas bloqueadas pelos manifestantes com barricadas de pneus em chamas. Seis manifestantes foram presos.
Buscando aplacar a rebelião, o Ministério da Justiça impôs um toque de recolher até as 6h da manhã do dia seguinte, que não foi obedecido. No dia 25 de junho, o chefe da polícia, Mauricio Sambo, anunciou que renunciava ao cargo.
MEDIDAS ANTI-POVO E REPRESSÃO COLONIAIS
O Reino dos Países Baixos (Holanda) também possui outra colônia no Caribe além de Curaçao. O país vizinho, Bonaire, também insular, é mais uma área de domínio do imperialismo holandês. A dominação dos dois países caribenhos já data de séculos, do período de colonização holandesa na América no século XVII.
Além de ser colônia holandesa, Curaçao também é usada como base operacional do imperialismo ianque, por sua proximidade à costa venezuelana. Desde abril, quando o Estados Unidos (USA) lançou sua pretensa campanha de “combate ao narcoterrorismo” no Caribe, buscando incriminar o governo venezuelano de Nicolás Maduro, a intervenção do imperialismo ianque na região foi intensificada com envio de tropas e armamentos para Curaçao.
No dia 19 de junho, inclusive, o USA anunciou o envio de mais quatro aeronaves e tropas para o país, afirmando que “Curaçao é um parceiro regional comprometido” e que a implantação de bases no país “demonstra a promessa duradoura do Comando Sul do USA de amizade, parceria e solidariedade com seus parceiros.”.
O Consulado do imperialismo ianque em Curaçao emitiu um alerta no dia 24 sobre as revoltas na ilha, pedindo aos cidadãos estadunidenses e aos agentes ianques no país que se mantivessem longe dos locais programados para ocorrerem manifestações e que adotassem medidas como “manter o rosto abaixado” e “revisar seus planos de segurança pessoal”.