Mousse de gorgonzola com frango, salmão no molho de maracujá, bobó de camarão e bacalhau a Gomes de Sá. Esse cardápio poderia muito bem ser derivado de alguns episódios do programa televisivo MasterChef, ou do banquete de algum nobre estrangeiro hospedado no Brasil, mas é somente uma parte pequena do cardápio escolhido pelo comandante do Exército, Tomás Ribeiro Paiva, para servir a si mesmo e a militares de outros países em encontros. Tudo vai custar, segundo edital do Exército publicado no dia 3 de setembro, cerca de R$ 684 mil.
O documento descreve que as refeições serão servidas em encontros com militares de outros países que podem ocorrer “tantas vezes quantas forem necessárias”. A mensagem a passar é: aqui, não tem miséria – para os fardados de alto coturno, é claro.
A força exige, no documento, que os encontros tenham duas opções de café de manhã, três menus para intervalos para café, três menus de coquetéis, dois tipos de almoço e jantar.
Cardápio de luxo
O comando não economizou no pedido.
Os cafés vão ter sucos naturais, chocolate quente, petit four (pequenas massas doces e salgadas da confeitaria francesa), bolos, pães e sanduíches de várias opções, como lombo canadense com alface e presunto.
Os coquetéis vão ter, para comer, escondidinho de carne seca, fricassê de frango, bobó de camarão, rondeli de queijo e presunto, berinjela à italiana, mousses de gorgonzola e frango, salaminho, queijos provolone, gorgonzola, parmesão e brie, presunto nacional ou importado, variedades de geleia, frutas secas e frescas e, para fechar, carpaccio de carne com molho de mostarda e alcaparras! Tudo vai ser acompanhado com uma seleção de bebidas não menos requintadas.
O edital frisa que é obrigatória a inclusão de, pelo menos, três variedades de salgadinhos fritos e assados e três opções de pratos principais, um deles vegetariano e outros dois ricos em proteína.
Os almoços e jantares vão ter pernil de cordeiro, salmão no molho de maracujá, mais uma rodada de bobó de camarão, bacalhau a Gomes de Sá, bouef bourguignon (um ensopado de carne francês), frango com frutas secas, robalo ao limão e atum selado.
Distante do povo
Desnecessário reforçar que o cardápio é, em país como o Brasil, um escárnio.
Há menos de dois meses atrás, o governo diminuiu, para “economizar os gastos”, a quantidade de itens disponíveis na cesta básica nacional – e, portanto, isentos dos futuros impostos sobre o consumo.
Com o corte, derivado da reforma tributária do Ministério da Fazenda, itens como bacalhau, atum, salmão e lagosta (tão a gosto dos generais) foram cortados de qualquer isenção de impostos.
Alimentos como carnes bovina, suína, ovina, caprina e de aves, peixes e carnes de peixes (exceto ovas, bacalhaus, salmonídeos, atuns e outros), queijos mozarela, minas, prato, provolone, parmesão e outros também foram cortados da cesta básica padrão, mas ficaram com um desconto nos impostos.
E os praças?
É de se especular o que os praças e a baixa oficialidade do Exército estão pensando sobre o cardápio do general.
Foi justamente Ribeiro Paiva que reclamou, no mês de abril desse ano, que o Exército tinha pouco dinheiro para alimentar os soldados. “Hoje, a gente gasta nos quartéis para alimentar a nossa tropa, R$ 11,65 por dia. Não é nada. Por homem, por dia, todas as refeições”, disse ele.
Em seguida, o comandante passou a atacar os gastos com Educação pública no País, como que querendo propor a retirada de dinheiro de escolas e universidades para custear as alimentações nos quarteis.
Não falou nada, contudo, dos gastos com o próprio cardápio. Nem dos outros gastos exorbitantes com os supersalários dos generais e festanças luxuosas do Alto Comando das Forças Armadas (ACFA).