Reino Unido: Ferroviários realizam maior greve dos últimos 30 anos

Reino Unido: Ferroviários realizam maior greve dos últimos 30 anos

Ferroviários protestam na Inglaterra, erguendo faixa com os dizeres “Corte os lucros, não empregos e serviços”. Foto: Guy Smallman/Getty/The Telegraph

Nos dias 21 e 23 de junho, em torno de 40 mil ferroviários da empresa estatal monopolista Network Rail e 13 outras grandes empresas privadas realizaram duas greves no Reino Unido. A mobilização exige o fim do plano de demissão que atinge milhares de trabalhadores e reivindica o aumento salarial e estabilidade. Os trabalhadores anunciaram nova mobilização para o dia 25/06, caso as exigências não sejam atendidas. 

Desde maio, os ferroviários têm se preparado para a mobilização massiva que se concretizou nos dias 21/06 e 23/06. A mobilização se intensificou após a empresa monopolista estatal Network Rail anunciar em uma carta que demitiria em torno de 1.800 funcionários e que faria, em caso de necessidade, demissões compulsórias (demissões por motivos da própria empresa, em vez de razões trabalhistas) adicionais. Segundo os trabalhadores, a empresa pretende demitir aproximadamente 2.900 funcionários. Além da demissão, a empresa possui planos de redução de salários, aumento do tempo de trabalho por semana e outras medidas de maior exploração disfarçadas de “modernização” do trabalho. Os trabalhadores denunciaram ainda que estão com os salários congelados há aproximadamente 3 anos. Eles exigem um aumento de, no mínimo, 7%.

Uma placa na estação de metrô Victoria, em Londres, com os dizeres “Estação fechada devido à greve”. Foto: Reuters/John Sibley

Como resposta ao ataque das grandes empresas do setor ferroviário, os trabalhadores decretaram o plano de greve a fim de pressionar as negociações. Participaram da greve condutores dos trens, seguranças das estações, trabalhadores da limpeza e profissionais da manutenção. No mesmo dia, 10 mil trabalhadores do metrô também decretaram greve na cidade contra a demissão de centenas de metroviários. Como resultado da justa mobilização, o transporte sobre trilhos foi quase totalmente interrompido e os ônibus na cidade ficaram congestionados. O impacto continuou nos dias seguintes, com apenas 60% da frota de trens funcionando na quarta-feira, dia 22/06 e os metrôs funcionando com atraso.

Trabalhadores realizam piquete na estação de Crewe. Foto: Reuters/Carl Recine

No dia 22/06, em negociação, a estatal monopolista Network Rail ofereceu um aumento de 2%, com possível aumento posterior de mais 1%. Os trabalhadores negaram a proposta contundentemente e permaneceram mobilizados, realizando nova greve no dia 23/06.

Na tentativa de desmobilizar os trabalhadores e ameaçar futuras greves, as empresas monopolistas anunciaram que, em próximas mobilizações, contratarão funcionários temporários para substituir os grevistas. Os ferroviários, contudo, não se desmobilizaram e denunciaram a atitude dos magnatas como irresponsável e criminosa, uma vez que a função de condutor se trata de uma profissão de risco e que exige ao menos quatro anos de treinamento.

Além das condições específicas do trabalho, os trabalhadores denunciam também a piora das condições de vida no Reino Unido, reflexo da crise de superprodução relativa de capital que tem afetado as massas populares em todo o mundo. 

No Reino Unido, a inflação alcançou a taxa de 9%, segundo informações oficiais. Já segundo o Índice de Preço de Varejo (RPI, sigla em inglês), a inflação no país já está na casa de 11,7%. O Banco da Inglaterra, que utiliza a taxa oficial como parâmetro, admitiu que a inflação no país deve atingir 11% esse ano. Segundo dados da empresa de inteligência de varejo Springboard, o número de pessoas que entram em lojas caiu 8,5% nas principais ruas comerciais do país. Já na região central da capital, a queda foi de 27%. 

Segundo dados da TUC, um conglomerado de sindicatos, os trabalhadores ingleses perderam um total de 20.000 libras (R$ 129.406,82) desde 2008 por conta da falta de aumento salarial correspondente às altas da inflação.

Luta dos ferroviários impulsiona protestos em todo Reino Unido

A mobilização dos ferroviários não ocorre de maneira isolada no país. Por todo o Reino Unido, greves e protestos aconteceram ou estão sendo planejados. No início do mês, 06/06, motoristas de ônibus da empresa Arriva, na cidade de Yorkshire, declararam greve por tempo indeterminado, exigindo um aumento proporcional à inflação. A empresa, na tentativa de dividir os trabalhadores, ofereceu aumentos entre 7% e 10%. Contudo, os trabalhadores denunciaram que a maioria dos trabalhadores receberia o menor aumento e se recusaram a encerrar a mobilização. Os motoristas denunciaram que alguns deles trabalham 50 horas por semana e mesmo assim não conseguem sustentar os altos custos de vida no país. Muitos são obrigados a comprarem comidas de bancos alimentares para conseguirem alimentar suas famílias.

Motoristas da empresa monopolista Arriva realizam greve em Yorkshire. Foto: BBC News.

No dia 15/06, trabalhadores da empresa monopolista Taxi Bolt protestaram exigindo preços maiores da viagem e denunciaram a exploração dos magnatas da empresa sobre os trabalhadores e como as diferentes empresas monopolistas de aplicativo atuam com a mesma política exploratória. “Eu agora trabalho para a Bolt, mas costumava trabalhar para a Uber. É uma empresa muito miserável. Se o cliente pagar 40 libras [R$ 257,49] por uma viagem, você vai ter sorte se ficar com 15 libras [R$ 96,56]. Agora a Bolt está seguindo o exemplo da Uber”, denunciou o motorista Bash à revista Socialist Worker. “Quando a Bolt dá um desconto de 40% para o cliente, esse desconto sai dos nossos salários”, acrescentou ele.

No dia 17/06, milhares de pessoas tomaram as ruas de Londres contra a alta na inflação e constante piora nas condições de vida. Os manifestantes gritaram palavras de ordem contra a guerra de agressão imperialista russa à Ucrânia e exigiram soluções para a crise econômica. Ao passarem pela casa do reacionário Primeiro-Ministro britânico Boris Johnson, as massas entoaram vaias veementes contra o inimigo do povo. 

“Nós temos residentes que estão vindo em nossos escritórios e que estão escolhendo alimentarem seus filhos, mas não a si  mesmos, e pagarem aluguel e aquecimento”, relatou um trabalhador de uma casa de caridade de Londres ao monopólio de mídia PBS.

Protesto massivo no dia 17 de junho, em Londres. Foto: Henry Nicholls/Reuters

Já no dia 22/06, um dia após a greve dos ferroviários, centenas de motoristas da Uber protestaram no no centro de Londres contra as terríveis condições de trabalho da empresa monopolista. Eles exigiram aumento do valor cobrado por viagem, fim das demissões injustas e o cumprimento da legislação trabalhista. Segundo os motoristas, os valores das viagens não têm acompanhado os custos do combustível. Palavras de ordem como Uber, Uber, você não pode se esconder! Podemos ver seu lado ganacioso! foram proferidas. Os trabalhadores denunciaram, ainda, que a empresa aproveita do fato de a maioria dos trabalhadores serem imigrantes para intensificar a exploração.

Protesto de motoristas de Uber em Londres. Foto: ADCU/Twitter

“Depois que a Suprema Corte disse que os motoristas da Uber são trabalhadores [sujeitos à legislação trabalhista], a empresa tem escolhido a dedo o que eles querem conceder. Mas esse é o preço da economia de contrato. Essas empresas fazem o que querem. Eles exploram a falta de regulação para fazer o máximo de dinheiro possível”, relatou um motorista à revista Socialist Worker.

Os ferroviários e os motoristas de Uber declararam solidariedade e apoio à greve uns dos outros, afirmando que os trabalhadores das diferentes categorias precisam coordenar suas ações e agir em conjunto para combater os ataques e a crise econômica.

Além disso, motoristas de ônibus da cidade de Stagecoach estão para entrar em greve, assim como carteiros, professores e advogados de Londres.

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